Cravo de Abril: TARRAFAL

01-07-2011
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FERNANDO ALCOBIATinha 24 anos e era comunista.Fora, três anos antes, deportado para o sinistro Campo de Concentração do Tarrafal - na primeira leva de 152 resistentes que, em 29 de Outubro de 1936, inauguraram o Campo da Morte Lenta.Para trás, haviam ficado os amigos, a mãe (de quem ele era o único amparo) e a namorada - que, sabendo que o amava, pouco sabia dele e da sua vida e que só setenta anos mais tarde viria a saber quem ele era e o que lhe acontecera.Fernando Alcobia foi um dos 32 resistentes antifascistas assassinados no Tarrafal.Morreu no dia 19 de Dezembro de 1939, pelas dez horas da manhã.Os seus companheiros de resistência e camaradas, falam-nos dele no livro «Tarrafal - Testemunhos»:«Fernando Alcobia passara muitas vezes pela frigideira. Pela primeira vez em Outubro de 1938. E a sua saúde sofreu o primeiro abalo. Foi depois a «brigada brava», de onde certa vez o trouxeram em braços. Numa outra altura meteram-no na frigideira com um abcesso no ouvido. Passou toda uma noite com dores agudas a pedir a vinda do médico. Não veio o Tralheira (nome pelo qual os presos tratavam o médico assassino). Queriam que trabalhasse e não o podia fazer e toda uma manhã ficou sentado numa pedra gemendo com dores. De volta ao campo, levaram-no para a frigideira e ali esteve vinte dias, sempre com um abcesso, sempre sem que Esmeraldo Pais Prata (o médico assassino) o tratasse. Trabalho, frigideira, frigideira, trabalho, foi o que Fernando Alcobia teve de sofrer até 15 de Dezembro, quando adoeceu com uma biliosa. O estado de fraqueza em que se encontrava quebrou-lhe todas as resistências à doença.Esmeral Pais Prata veio enfim vê-lo. Estava na agonia. Acendeu uma lanterna e os olhos de Fernando Alcobia não reagiram. A morte já não tardaria muito. Fernando Alcobia tinha vinte e quatro anos e ia morrer assassinado.-Se estiver pior amanhã, mandem-me chamar.- E que tratamento lhe devo fazer, senhor doutor? - perguntou Virgílio de Sousa (o enfermeiro), que só depois de muito insistir conseguira que o Tralheira fosse ver o doente.- Tratamento? Sim! Olhe, ponha-lhe umas compressas de água fria na testa.Fernando Alcobia morreu pelas dez da manhã.Morria muito jovem, devido à frigideira, ao trabalho da «brigada brava», às mãos daqueles que o fizeram sofrer tudo isto e tudo lhe negaram.»Aos assassinos de Fernando Alcobia nada aconteceu.


FERNANDO ALCOBIATinha 24 anos e era comunista.Fora, três anos antes, deportado para o sinistro Campo de Concentração do Tarrafal - na primeira leva de 152 resistentes que, em 29 de Outubro de 1936, inauguraram o Campo da Morte Lenta.Para trás, haviam ficado os amigos, a mãe (de quem ele era o único amparo) e a namorada - que, sabendo que o amava, pouco sabia dele e da sua vida e que só setenta anos mais tarde viria a saber quem ele era e o que lhe acontecera.Fernando Alcobia foi um dos 32 resistentes antifascistas assassinados no Tarrafal.Morreu no dia 19 de Dezembro de 1939, pelas dez horas da manhã.Os seus companheiros de resistência e camaradas, falam-nos dele no livro «Tarrafal - Testemunhos»:«Fernando Alcobia passara muitas vezes pela frigideira. Pela primeira vez em Outubro de 1938. E a sua saúde sofreu o primeiro abalo. Foi depois a «brigada brava», de onde certa vez o trouxeram em braços. Numa outra altura meteram-no na frigideira com um abcesso no ouvido. Passou toda uma noite com dores agudas a pedir a vinda do médico. Não veio o Tralheira (nome pelo qual os presos tratavam o médico assassino). Queriam que trabalhasse e não o podia fazer e toda uma manhã ficou sentado numa pedra gemendo com dores. De volta ao campo, levaram-no para a frigideira e ali esteve vinte dias, sempre com um abcesso, sempre sem que Esmeraldo Pais Prata (o médico assassino) o tratasse. Trabalho, frigideira, frigideira, trabalho, foi o que Fernando Alcobia teve de sofrer até 15 de Dezembro, quando adoeceu com uma biliosa. O estado de fraqueza em que se encontrava quebrou-lhe todas as resistências à doença.Esmeral Pais Prata veio enfim vê-lo. Estava na agonia. Acendeu uma lanterna e os olhos de Fernando Alcobia não reagiram. A morte já não tardaria muito. Fernando Alcobia tinha vinte e quatro anos e ia morrer assassinado.-Se estiver pior amanhã, mandem-me chamar.- E que tratamento lhe devo fazer, senhor doutor? - perguntou Virgílio de Sousa (o enfermeiro), que só depois de muito insistir conseguira que o Tralheira fosse ver o doente.- Tratamento? Sim! Olhe, ponha-lhe umas compressas de água fria na testa.Fernando Alcobia morreu pelas dez da manhã.Morria muito jovem, devido à frigideira, ao trabalho da «brigada brava», às mãos daqueles que o fizeram sofrer tudo isto e tudo lhe negaram.»Aos assassinos de Fernando Alcobia nada aconteceu.

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