‘It is deja vu all over again’

12-02-2013
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Até ao final do mês, o Governo vai divulgar o seu plano para o corte de 4 mil milhões de euros em salários, pensões e prestações sociais, dos quais 800 milhões serão aplicados já para em 2013.

Isto acontece ao mesmo tempo que Passos e Gaspar falam de "viragem", de "retoma", de "luz fundo do túnel" e de "antecâmara do crescimento". Contradição? Não. É pior: trata-se de dissonância cognitiva.

O discurso do governo entrou definitivamente numa realidade paralela. Infelizmente, o governo não entrou sozinho nesta noite escura, porque Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional insistem em dizer que Portugal está no bom caminho e que o Programa de Ajustamento, apesar de todas as dificuldades, está a correr às mil maravilhas. Mas isto acontece porque o programa está a ser aplicado com zelo, e não porque esteja a resultar.

Albert Jaeger, o responsável permanente do FMI em Portugal, deu esta semana uma perturbadora entrevista ao "Portugal Daily View", onde defende a tese de que o melhor estímulo que podemos dar à economia é restaurar a credibilidade das actuais políticas. Ou seja, a recuperação está garantida se o governo ignorar a espiral recessiva, a crise de emprego, e as falências em massa, e uma recessão se vai prolongar em 2014. Resumindo, se insistir em não mudar de rumo. Nesta narrativa, a economia recuperará porque o empenho, a cegueira e a obstinação são, em si mesmas, garantias de sucesso. Se não hoje, amanhã, num qualquer futuro, quando as famosas reformas estruturais produzirem os efeitos necessários.

A maioria dos defensores das actuais políticas serão economistas, mas parecem não perceber como funciona uma economia. Como o PIB é despesa, a economia recuperará se houver quem invista e quem consuma. Ora, uma política orçamental que não faz outra coisa senão cortar no investimento (público e privado), cortar na saúde, cortar na educação, cortar nas pensões e cortar nas prestações sociais tem exactamente o efeito contrário; e um Pacto Orçamental, traduzido no Tratado de Estabilidade, Coordenação e governação, que generaliza estas políticas a toda a Europa não só agrava o problema, como ameaça torná-lo permanente.

Todas as políticas actualmente em curso, quer em Portugal quer na Europa, agravam a situação económica e social e não se vislumbra que possam ser a antecâmara de outra coisa que não perpetuação da realidade actual. Há um túnel ao fundo do túnel, sim, mas só mesmo fechando os olhos podemos vê-la.

João Galamba, Deputado pelo PS

Até ao final do mês, o Governo vai divulgar o seu plano para o corte de 4 mil milhões de euros em salários, pensões e prestações sociais, dos quais 800 milhões serão aplicados já para em 2013.

Isto acontece ao mesmo tempo que Passos e Gaspar falam de "viragem", de "retoma", de "luz fundo do túnel" e de "antecâmara do crescimento". Contradição? Não. É pior: trata-se de dissonância cognitiva.

O discurso do governo entrou definitivamente numa realidade paralela. Infelizmente, o governo não entrou sozinho nesta noite escura, porque Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional insistem em dizer que Portugal está no bom caminho e que o Programa de Ajustamento, apesar de todas as dificuldades, está a correr às mil maravilhas. Mas isto acontece porque o programa está a ser aplicado com zelo, e não porque esteja a resultar.

Albert Jaeger, o responsável permanente do FMI em Portugal, deu esta semana uma perturbadora entrevista ao "Portugal Daily View", onde defende a tese de que o melhor estímulo que podemos dar à economia é restaurar a credibilidade das actuais políticas. Ou seja, a recuperação está garantida se o governo ignorar a espiral recessiva, a crise de emprego, e as falências em massa, e uma recessão se vai prolongar em 2014. Resumindo, se insistir em não mudar de rumo. Nesta narrativa, a economia recuperará porque o empenho, a cegueira e a obstinação são, em si mesmas, garantias de sucesso. Se não hoje, amanhã, num qualquer futuro, quando as famosas reformas estruturais produzirem os efeitos necessários.

A maioria dos defensores das actuais políticas serão economistas, mas parecem não perceber como funciona uma economia. Como o PIB é despesa, a economia recuperará se houver quem invista e quem consuma. Ora, uma política orçamental que não faz outra coisa senão cortar no investimento (público e privado), cortar na saúde, cortar na educação, cortar nas pensões e cortar nas prestações sociais tem exactamente o efeito contrário; e um Pacto Orçamental, traduzido no Tratado de Estabilidade, Coordenação e governação, que generaliza estas políticas a toda a Europa não só agrava o problema, como ameaça torná-lo permanente.

Todas as políticas actualmente em curso, quer em Portugal quer na Europa, agravam a situação económica e social e não se vislumbra que possam ser a antecâmara de outra coisa que não perpetuação da realidade actual. Há um túnel ao fundo do túnel, sim, mas só mesmo fechando os olhos podemos vê-la.

João Galamba, Deputado pelo PS

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