NOTÍCIAS DO BLOQUEIOAproveito a tua neutralidade,o teu rosto oval, a tua beleza clara,para enviar notícias do bloqueioaos que no continente esperam ansiosos.Tu lhes dirás do coração o que sofremosnos dias que embranquecem os cabelos...tu lhes dirás a comoção e as palavrasque prendemos - contrabando - aos teus cabelos.Tu lhes dirás o nosso ódio construído,sustentando a defesa à nossa volta- único acolchoado para a noiteflorescida de fome e de tristezas.Tua neutralidade passarápor sobre a barreira alfandegáriae a tua mala levará fotografias,um mapa, duas cartas, uma lágrima...Dirás como trabalhamos em silêncio,como comemos silêncio, bebemossilêncio, nadamos e morremosferidos de silêncio duro e violento.Vai pois e noticia com um archoteaos que encontrares de fora das muralhaso mundo em que nos vemos, poesiamassacrada e medos à ilharga.Vai pois e conta nos jornais diáriosou escreve com ácido nas paredeso que viste, o que sabes, o que eu disseentre dois bombardeamentos já esperados.Mas diz-lhes que se mantém indevassávelo segredo das torres que nos erguem,e suspensa delas uma flor em lumegrita o seu nome incandescente e puro.Diz-lhes que se resiste na cidadedesfigurada por feridas e granadase enquanto a água e os víveres escasseiamaumenta a raivae a esperança reproduz-se.Egito Gonçalves
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NOTÍCIAS DO BLOQUEIOAproveito a tua neutralidade,o teu rosto oval, a tua beleza clara,para enviar notícias do bloqueioaos que no continente esperam ansiosos.Tu lhes dirás do coração o que sofremosnos dias que embranquecem os cabelos...tu lhes dirás a comoção e as palavrasque prendemos - contrabando - aos teus cabelos.Tu lhes dirás o nosso ódio construído,sustentando a defesa à nossa volta- único acolchoado para a noiteflorescida de fome e de tristezas.Tua neutralidade passarápor sobre a barreira alfandegáriae a tua mala levará fotografias,um mapa, duas cartas, uma lágrima...Dirás como trabalhamos em silêncio,como comemos silêncio, bebemossilêncio, nadamos e morremosferidos de silêncio duro e violento.Vai pois e noticia com um archoteaos que encontrares de fora das muralhaso mundo em que nos vemos, poesiamassacrada e medos à ilharga.Vai pois e conta nos jornais diáriosou escreve com ácido nas paredeso que viste, o que sabes, o que eu disseentre dois bombardeamentos já esperados.Mas diz-lhes que se mantém indevassávelo segredo das torres que nos erguem,e suspensa delas uma flor em lumegrita o seu nome incandescente e puro.Diz-lhes que se resiste na cidadedesfigurada por feridas e granadase enquanto a água e os víveres escasseiamaumenta a raivae a esperança reproduz-se.Egito Gonçalves