insustentável: SIADAP: avaliação à peça e ao olhómetro

03-07-2011
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No princípio era o Adjectivo. E o Adjectivo era o "Muito Bom".Era assim, nos seus primórdios e até há pouco tempo atrás, o sistema de avaliação dos funcionários públicos, em que só o simples facto de existirem era motivo suficiente para um "Muito Bom" ou mesmo um "Excelente", no final de cada ano.Entretanto, em 2004, durante o governo de Durão Barroso, é lançado um novo sistema: Sistema Integrado de Avaliação da Administração Pública (SIADAP).Então como agora, o SIADAP é considerado como um sistema bom, e que finalmete permite, de facto, avaliar a performance de todos os funcionários do Estado.Diga-se em abono da verdade, que esta bondade até tem a sua razão de ser. Com efeito, o SIADAP em toda a sua vertente teórica, assenta num paradigma de uma organização-tipo que estrutura as suas actividades com base numa Gestão por Objectivos, explicita as mesmas em indicadores de gestão consistentes, e audita quantitativamente, com rigor e objectividade, todas as tarefas e desempenhos dos seus recursos humanos.Se o SIADAP é então assim, ou melhor, se funcionar deste modo, de acordo com este paradigma, é lógico para todos que um "Muito Bom" passará a corresponder exactamente a um "Muito Bom", um "Bom" a um "Bom", e por aí fora.Como explicar então o sistema de quotas implementado logo pelo governo PSD, que o actual governo quer manter no SIADAP?Vejamos um exemplo: se o SIADAP é bom e funciona, e se em determinado ano, em determinada organização pública, 32% dos funcionários, pelo seu esforço, dedicação e qualidade do seu trabalho, tiverem "Muito Bom" nos seus parâmetros mais objectivos (e que, lembro, são matematicamente calculados), tal significa que a uma parte substancial destes funcionários, e à posteriori, acabará por ser conferida uma avaliação puramente artificial (neste caso apenas o "Bom"), por forma a não serem ultrapassadas as quotas instituídas para as avaliações mais altas. E lá se vão por água abaixo as tão afamadas e proclamadas métricas e objectividade do SIADAP!A questão interessante é como o governo (pela boca do seu secretário de Estado da Administração Pública) veio desta vez justificar este sistema tão injusto de quotas: porque isso significaria (se não houvesse quotas) que nada iria mudar em termos de avaliação pois "toda a gente iria ter excelente". Como? Importa-se de repetir?Temos portanto que o governo admite, implícita e explicitamente, que o SIADAP afinal, não é o tal sistema rigoroso e objectivo, pois "toda a gente iria ter excelente" ! Afinal em que ficamos? É que se afinal o SIADAP pode ser manipulado, ao serem puxadas para cima (para o "Excelente, como diz o secretário de Estado) todas as classificações, então esse mesmo SIADAP, afinal tão pouco consistente e débil, pode também ser manipulado quando, com este sistema de quotas, se tem de escolher quem atinge o "Excelente" ou "Muito Bom", ou quem deve ser castigado com apenas um "Bom".Quem desde 2004 tem sido avaliado pelo SIADAP, sabe na pele que é assim que a mecânica do bicho vem funcionando.De qualquer dos modos, tenho mesmo assim de agradecer ao Dr. João Figueiredo, por este seu lapsus linguae, que vale mais que 1000 manuais do SIADAP e de Gestão por Objectivos.Etiquetas: Administração Pública, Cunhas e Amiguismo e Tráfico

No princípio era o Adjectivo. E o Adjectivo era o "Muito Bom".Era assim, nos seus primórdios e até há pouco tempo atrás, o sistema de avaliação dos funcionários públicos, em que só o simples facto de existirem era motivo suficiente para um "Muito Bom" ou mesmo um "Excelente", no final de cada ano.Entretanto, em 2004, durante o governo de Durão Barroso, é lançado um novo sistema: Sistema Integrado de Avaliação da Administração Pública (SIADAP).Então como agora, o SIADAP é considerado como um sistema bom, e que finalmete permite, de facto, avaliar a performance de todos os funcionários do Estado.Diga-se em abono da verdade, que esta bondade até tem a sua razão de ser. Com efeito, o SIADAP em toda a sua vertente teórica, assenta num paradigma de uma organização-tipo que estrutura as suas actividades com base numa Gestão por Objectivos, explicita as mesmas em indicadores de gestão consistentes, e audita quantitativamente, com rigor e objectividade, todas as tarefas e desempenhos dos seus recursos humanos.Se o SIADAP é então assim, ou melhor, se funcionar deste modo, de acordo com este paradigma, é lógico para todos que um "Muito Bom" passará a corresponder exactamente a um "Muito Bom", um "Bom" a um "Bom", e por aí fora.Como explicar então o sistema de quotas implementado logo pelo governo PSD, que o actual governo quer manter no SIADAP?Vejamos um exemplo: se o SIADAP é bom e funciona, e se em determinado ano, em determinada organização pública, 32% dos funcionários, pelo seu esforço, dedicação e qualidade do seu trabalho, tiverem "Muito Bom" nos seus parâmetros mais objectivos (e que, lembro, são matematicamente calculados), tal significa que a uma parte substancial destes funcionários, e à posteriori, acabará por ser conferida uma avaliação puramente artificial (neste caso apenas o "Bom"), por forma a não serem ultrapassadas as quotas instituídas para as avaliações mais altas. E lá se vão por água abaixo as tão afamadas e proclamadas métricas e objectividade do SIADAP!A questão interessante é como o governo (pela boca do seu secretário de Estado da Administração Pública) veio desta vez justificar este sistema tão injusto de quotas: porque isso significaria (se não houvesse quotas) que nada iria mudar em termos de avaliação pois "toda a gente iria ter excelente". Como? Importa-se de repetir?Temos portanto que o governo admite, implícita e explicitamente, que o SIADAP afinal, não é o tal sistema rigoroso e objectivo, pois "toda a gente iria ter excelente" ! Afinal em que ficamos? É que se afinal o SIADAP pode ser manipulado, ao serem puxadas para cima (para o "Excelente, como diz o secretário de Estado) todas as classificações, então esse mesmo SIADAP, afinal tão pouco consistente e débil, pode também ser manipulado quando, com este sistema de quotas, se tem de escolher quem atinge o "Excelente" ou "Muito Bom", ou quem deve ser castigado com apenas um "Bom".Quem desde 2004 tem sido avaliado pelo SIADAP, sabe na pele que é assim que a mecânica do bicho vem funcionando.De qualquer dos modos, tenho mesmo assim de agradecer ao Dr. João Figueiredo, por este seu lapsus linguae, que vale mais que 1000 manuais do SIADAP e de Gestão por Objectivos.Etiquetas: Administração Pública, Cunhas e Amiguismo e Tráfico

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