portugal dos pequeninos: A DIMENSÃO DO CALÇADÃO DE QUARTEIRA

27-01-2012
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«O discurso que Pedro Passos Coelho fez no Pontal (uma festa partidária sem especial significado) provocou um alarido incompreensível. Do Governo a jornalistas que estimam o Governo e até a personagens menores como o dr. Vital Moreira (que se tornou um furioso beato do PS) houve gritos de indignação. O homem preparava uma crise política, o homem queria uma crise política, o homem era um irresponsável. Como se o chefe da oposição não devesse (em qualquer circunstância, boa ou má) defender a política que representa. Como se a oposição não pudesse pôr condições para votar o Orçamento ou ter uma ideia sobre como corre a vida pública portuguesa. Como se Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, estivesse obrigado a obedecer ao primeiro-ministro. Isto mostra bem a miséria moral a que o país chegou. Mas não vale a pena perder tempo a bater nesse gato morto. O importante é o que Passos disse. E, desgraçadamente, o que disse ficou pela trivialidade ou, pior ainda, pela pequena manobra em que hoje em dia se esvai o cérebro da nossa classe dirigente. Para quem julga ele que falou? Para os portugueses não falou com certeza. A maioria dos portugueses não percebeu a dimensão e a gravidade dos sarilhos que a esperam. Imagina que os problemas se resolverão como já se resolveram antes, com o tradicional apertão em casa e uma ajudinha lá de fora. A "Europa" e o FMI não nos deixam cair, pois não? É claro que não. Basta aguentar uns tempos que tudo volta à mesma: com o mesmo desleixo e os mesmos vícios. O Presidente declarou a situação "insustentável". Só que, no fundo, ninguém acredita. E Sócrates não perde uma oportunidade para jurar exactamente o contrário. Para se distinguir desta conversa sem nome, Passos Coelho precisa de explicar, numa linguagem clara e, de preferência, dura, o que pensa do estado económico de Portugal, do futuro próximo e das medidas que tenciona tomar. O resto, as jeremíadas do costume sobre despesa e sobre impostos não servem de nada: entram por um ouvido e saem por outro. São coisas para o dr. Marcelo comentar e reduzir rapidamente à irrelevância. Para alguma gente - suponho que pouca - o importante no Pontal não foi a inútil (e, de resto, hipócrita) ameaça de rejeitar o Orçamento, foi a desilusão de encontrar um político mais, quando se esperava descobrir um estadista.»Vasco Pulido Valente, Público


«O discurso que Pedro Passos Coelho fez no Pontal (uma festa partidária sem especial significado) provocou um alarido incompreensível. Do Governo a jornalistas que estimam o Governo e até a personagens menores como o dr. Vital Moreira (que se tornou um furioso beato do PS) houve gritos de indignação. O homem preparava uma crise política, o homem queria uma crise política, o homem era um irresponsável. Como se o chefe da oposição não devesse (em qualquer circunstância, boa ou má) defender a política que representa. Como se a oposição não pudesse pôr condições para votar o Orçamento ou ter uma ideia sobre como corre a vida pública portuguesa. Como se Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, estivesse obrigado a obedecer ao primeiro-ministro. Isto mostra bem a miséria moral a que o país chegou. Mas não vale a pena perder tempo a bater nesse gato morto. O importante é o que Passos disse. E, desgraçadamente, o que disse ficou pela trivialidade ou, pior ainda, pela pequena manobra em que hoje em dia se esvai o cérebro da nossa classe dirigente. Para quem julga ele que falou? Para os portugueses não falou com certeza. A maioria dos portugueses não percebeu a dimensão e a gravidade dos sarilhos que a esperam. Imagina que os problemas se resolverão como já se resolveram antes, com o tradicional apertão em casa e uma ajudinha lá de fora. A "Europa" e o FMI não nos deixam cair, pois não? É claro que não. Basta aguentar uns tempos que tudo volta à mesma: com o mesmo desleixo e os mesmos vícios. O Presidente declarou a situação "insustentável". Só que, no fundo, ninguém acredita. E Sócrates não perde uma oportunidade para jurar exactamente o contrário. Para se distinguir desta conversa sem nome, Passos Coelho precisa de explicar, numa linguagem clara e, de preferência, dura, o que pensa do estado económico de Portugal, do futuro próximo e das medidas que tenciona tomar. O resto, as jeremíadas do costume sobre despesa e sobre impostos não servem de nada: entram por um ouvido e saem por outro. São coisas para o dr. Marcelo comentar e reduzir rapidamente à irrelevância. Para alguma gente - suponho que pouca - o importante no Pontal não foi a inútil (e, de resto, hipócrita) ameaça de rejeitar o Orçamento, foi a desilusão de encontrar um político mais, quando se esperava descobrir um estadista.»Vasco Pulido Valente, Público

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