portugal dos pequeninos: O SORRISO DAS LETRAS

27-01-2012
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Entre eles, nas cartas, falavam de um país «que se empequeneceu irremediavelmente». Amavam-no, porém, com o ódio do amor genuíno. O que não era pouco. O poema que se segue escreveu-o Sophia aquando da morte de Jorge de Sena. Trata-se de dois poetas maiores nascidos no mesmo ano. Este volume da Obra Poética da primeira, hoje apresentado, é um serviço a uma raridade em vias de extinção apelidada cultura (ou literatura, se quisermos ser mais imprecisos) portuguesa. E à poesia, esse sorriso das letras como lhe chamava Pessoa.INão és navegador mas emigranteLegítimo português de novecentosLevaste contigo os teus e levasteSonhos fúrias trabalhos e saudade;Moraste dia por dia a tua ausênciaNo mais profundo fundo das profundasCavernas altas onde o estar se escondeIIE agora chega a notícia que morresteE algo se desloca em nossa vidaIIIHá muito estavas longeMas vinham cartas poemas e notíciasE pensávamos que sempre voltariasEnquanto amigos teus aqui te esperassem -E assim às vezes chegavas da terra estrangeiraNão como filho pródigo mas como irmão prudenteE ríamos e falávamos em redor da mesaE tiniam talheres loiças e vidrosComo se tudo na chegada se alegrasseTrazias contigo um certo ar de capitão de tempestades- Grandioso vencedor e tão amargo vencido -E havia avidez azáfama e pressaNo desejo de suprir anos de distância em horas de conversaE havia uma veemente emoção em tua grave amizadeE em redor da mesa celebrávamos a festaDo instante que brilhava entre frutos e rostosIVE agora chega a notícia que morresteA morte vem como nenhuma carta


Entre eles, nas cartas, falavam de um país «que se empequeneceu irremediavelmente». Amavam-no, porém, com o ódio do amor genuíno. O que não era pouco. O poema que se segue escreveu-o Sophia aquando da morte de Jorge de Sena. Trata-se de dois poetas maiores nascidos no mesmo ano. Este volume da Obra Poética da primeira, hoje apresentado, é um serviço a uma raridade em vias de extinção apelidada cultura (ou literatura, se quisermos ser mais imprecisos) portuguesa. E à poesia, esse sorriso das letras como lhe chamava Pessoa.INão és navegador mas emigranteLegítimo português de novecentosLevaste contigo os teus e levasteSonhos fúrias trabalhos e saudade;Moraste dia por dia a tua ausênciaNo mais profundo fundo das profundasCavernas altas onde o estar se escondeIIE agora chega a notícia que morresteE algo se desloca em nossa vidaIIIHá muito estavas longeMas vinham cartas poemas e notíciasE pensávamos que sempre voltariasEnquanto amigos teus aqui te esperassem -E assim às vezes chegavas da terra estrangeiraNão como filho pródigo mas como irmão prudenteE ríamos e falávamos em redor da mesaE tiniam talheres loiças e vidrosComo se tudo na chegada se alegrasseTrazias contigo um certo ar de capitão de tempestades- Grandioso vencedor e tão amargo vencido -E havia avidez azáfama e pressaNo desejo de suprir anos de distância em horas de conversaE havia uma veemente emoção em tua grave amizadeE em redor da mesa celebrávamos a festaDo instante que brilhava entre frutos e rostosIVE agora chega a notícia que morresteA morte vem como nenhuma carta

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