portugal dos pequeninos: UMBIGUISMO

27-01-2012
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«Quando se chega ao delírio de opinião de Martim Silva, editor de política do Expresso, para quem “Sócrates não vive neste mundo mas ganhou este debate” [Passos/Sócrates da semana passada na rtp1], fica-se com uma noção melhor de que há comentário político nos media desfasado da realidade concreta, enviesando opiniões para lá do razoável: há comentadores que “não vivem neste mundo”, vivem no palco mediático, ou no mesmo mundo de fantasia de Sócrates, avaliam a vida política apenas por critérios mediáticos e ignoram as maçadas da restante realidade.» Isto é Eduardo Cintra Torres no Público. Interessa-me o fim, a apreciação do papel dos "comentadores". O ex libris, depois de Marcelo, do comentadorismo "de luxo" nas televisões - a quadratura do círculo da sicn - deu ontem um eloquente espectáculo do que refere Cintra Torres. O programa girou - com ligeiros interregnos em que os circunstantes se lembraram que o que está em questão nas eleições é a responsabilidade de Sócrates pelo estado da arte e não frívolos exercícios de barata filosofia de linguagem ou infelicidades menores desta - em torno do farto umbigo de Pacheco Pereira. Não bastava o homem ter vindo a correr do Porto onde tinha estado ao lado da luminária Machado Vaz (esse insuportável "especialista" na vida íntima de cada um), como todos se afadigarem, durante os 50 minutos que durou o programa, em "lavar a honra" política e mediática do colega supostamente posta em causa por Passos Coelho com uma afirmação lateral qualquer a que o país prestou a atenção merecida: nenhuma. Porquê? Porque Passos terá dito duas coisas. A primeira, que Pacheco, especialmente no programa em causa, sofre da síndrome do "abraço a António Costa no Chiado nas autárquicas de 2009", síndrome essa da qual não se consegue adequadamente livrar. A segunda, que terá todo o gosto (até porque Pacheco é militante encartado do PSD e ainda seu deputado) em que o referido Pacheco apareça na campanha ao lado do dito PSD, independentemente daquilo, como lembrou o amigo edil Costa. Há pessoas com umbigos desmesurados para um país demasiado pequeno. Ganhamos porventura mais com alguma normalidade que, nestas eleições, e apesar de algumas inoportunidades, Passos representa. O resto é encher chouriços ao adversário e bater coisinhas entre grilos vaidosos.Nota sobre a foto: Repetida neste blogue vezes sem conta sempre que se fala em "comentadores". O livrinho de Céline, nascido a 27 de Maio de 1894, inclui o que ele escreveu em resposta a um Sartre que o quis condenado à morte. «J'irai vous applaudir lorsque vous serez enfin devenu un vrai monstre, que vous aurez payé, aux sorcières, ce qu'il faut, leur prix, pour qu'elles vous transmutent, éclosent, en vrai phénomène. En ténia qui joue de la flûte.» Céline, um diamante negro como o inferno. Bon anniversaire.Adenda (da Ana Margarida Craveiro): «No dia em que há violência num comício do PS, vários jornais preferem dar destaque ao ego de Pacheco Pereira. São opções.» De que é que estavas à espera da matilha circense do espectáculo?


«Quando se chega ao delírio de opinião de Martim Silva, editor de política do Expresso, para quem “Sócrates não vive neste mundo mas ganhou este debate” [Passos/Sócrates da semana passada na rtp1], fica-se com uma noção melhor de que há comentário político nos media desfasado da realidade concreta, enviesando opiniões para lá do razoável: há comentadores que “não vivem neste mundo”, vivem no palco mediático, ou no mesmo mundo de fantasia de Sócrates, avaliam a vida política apenas por critérios mediáticos e ignoram as maçadas da restante realidade.» Isto é Eduardo Cintra Torres no Público. Interessa-me o fim, a apreciação do papel dos "comentadores". O ex libris, depois de Marcelo, do comentadorismo "de luxo" nas televisões - a quadratura do círculo da sicn - deu ontem um eloquente espectáculo do que refere Cintra Torres. O programa girou - com ligeiros interregnos em que os circunstantes se lembraram que o que está em questão nas eleições é a responsabilidade de Sócrates pelo estado da arte e não frívolos exercícios de barata filosofia de linguagem ou infelicidades menores desta - em torno do farto umbigo de Pacheco Pereira. Não bastava o homem ter vindo a correr do Porto onde tinha estado ao lado da luminária Machado Vaz (esse insuportável "especialista" na vida íntima de cada um), como todos se afadigarem, durante os 50 minutos que durou o programa, em "lavar a honra" política e mediática do colega supostamente posta em causa por Passos Coelho com uma afirmação lateral qualquer a que o país prestou a atenção merecida: nenhuma. Porquê? Porque Passos terá dito duas coisas. A primeira, que Pacheco, especialmente no programa em causa, sofre da síndrome do "abraço a António Costa no Chiado nas autárquicas de 2009", síndrome essa da qual não se consegue adequadamente livrar. A segunda, que terá todo o gosto (até porque Pacheco é militante encartado do PSD e ainda seu deputado) em que o referido Pacheco apareça na campanha ao lado do dito PSD, independentemente daquilo, como lembrou o amigo edil Costa. Há pessoas com umbigos desmesurados para um país demasiado pequeno. Ganhamos porventura mais com alguma normalidade que, nestas eleições, e apesar de algumas inoportunidades, Passos representa. O resto é encher chouriços ao adversário e bater coisinhas entre grilos vaidosos.Nota sobre a foto: Repetida neste blogue vezes sem conta sempre que se fala em "comentadores". O livrinho de Céline, nascido a 27 de Maio de 1894, inclui o que ele escreveu em resposta a um Sartre que o quis condenado à morte. «J'irai vous applaudir lorsque vous serez enfin devenu un vrai monstre, que vous aurez payé, aux sorcières, ce qu'il faut, leur prix, pour qu'elles vous transmutent, éclosent, en vrai phénomène. En ténia qui joue de la flûte.» Céline, um diamante negro como o inferno. Bon anniversaire.Adenda (da Ana Margarida Craveiro): «No dia em que há violência num comício do PS, vários jornais preferem dar destaque ao ego de Pacheco Pereira. São opções.» De que é que estavas à espera da matilha circense do espectáculo?

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