Vias de Facto: O poderoso tiro em cheio de Jerónimo de Sousa no seu próprio partido e a posição do BE perante a proposta de reunião da troika

30-06-2011
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1. Se a esta declaração de Jerónimo de Sousa, dando conta da recusa por parte do PCP de qualquer contacto ou conversações com a chamada troika — em termos que rejeitam, por igual e por princípio, o FMI, a UE e o BCE (e os rejeitam enquanto tais e não nesta ou naquela sua orientação, direcção ou "constituição" empírica) —, se a esta declaração, portanto, não se seguir outra, afirmando que o PCP vai abandonar a AR e o Parlamento Europeu, cortar quaisquer contactos com o governo e o PR, etc., etc., recusando, em suma, a luta no plano institucional existente e passando de imediato à preparação da tomada do poder, porque quaisquer contactos, conversações ou simples troca de palavras com o "inimigo" (não se sabe se de "classe,  se "nacional") equivalem a legitimá-lo, então, se não tirar estas — e outras consequências (por exemplo, no que se refere à linha sindical a adoptar) que se impõem — da tomada de posição de JS, será caso para dizer que o secretário-geral do PCP, para o melhor como para o pior, acaba de alvejar com um poderoso tiro em cheio o seu próprio partido.

2. Com efeito, a questão que aqui se põe não é tanto a da recusa da reunião concreta proposta, como a dos considerandos e razões que a fundamentam.  Assim, por exemplo, a recusa por parte do BE de uma proposta semelhante nada tem de comparável, apesar das aparências em contrário. Não conclui do actual regime da UE a maldade de princípio da federação, do mesmo modo que não exclui a existência de um banco central europeu enquanto tal, nem sequer a de um organismo de supervisão e regulação que agisse no espaço ocupado pelo FMI noutros termos, com outro mandato e objectivos diferentes. Digamos que, embora infelizmente não a assuma com a clareza desejável, a tomada de posição do BE não encerra a priori a perspectiva da democratização como via de uma alternativa às relações de poder existentes.

3. Outra questão é saber se a recusa da reunião foi a melhor opção no plano político imediato. Os islandeses recusaram as condições que o FMI queria impor-lhes, mas fizeram-no comunicando-lhe as suas posições e obrigando-o a recuar. Do mesmo modo, seria possível transformar a reunião recusada em ocasião de apresentação e posterior divulgação pública de uma plataforma de rejeição das condições da oligarquia e do actual modo de funcionamento da UE. Esta via, menos espectacular, não seria necessariamente menos radical.


1. Se a esta declaração de Jerónimo de Sousa, dando conta da recusa por parte do PCP de qualquer contacto ou conversações com a chamada troika — em termos que rejeitam, por igual e por princípio, o FMI, a UE e o BCE (e os rejeitam enquanto tais e não nesta ou naquela sua orientação, direcção ou "constituição" empírica) —, se a esta declaração, portanto, não se seguir outra, afirmando que o PCP vai abandonar a AR e o Parlamento Europeu, cortar quaisquer contactos com o governo e o PR, etc., etc., recusando, em suma, a luta no plano institucional existente e passando de imediato à preparação da tomada do poder, porque quaisquer contactos, conversações ou simples troca de palavras com o "inimigo" (não se sabe se de "classe,  se "nacional") equivalem a legitimá-lo, então, se não tirar estas — e outras consequências (por exemplo, no que se refere à linha sindical a adoptar) que se impõem — da tomada de posição de JS, será caso para dizer que o secretário-geral do PCP, para o melhor como para o pior, acaba de alvejar com um poderoso tiro em cheio o seu próprio partido.

2. Com efeito, a questão que aqui se põe não é tanto a da recusa da reunião concreta proposta, como a dos considerandos e razões que a fundamentam.  Assim, por exemplo, a recusa por parte do BE de uma proposta semelhante nada tem de comparável, apesar das aparências em contrário. Não conclui do actual regime da UE a maldade de princípio da federação, do mesmo modo que não exclui a existência de um banco central europeu enquanto tal, nem sequer a de um organismo de supervisão e regulação que agisse no espaço ocupado pelo FMI noutros termos, com outro mandato e objectivos diferentes. Digamos que, embora infelizmente não a assuma com a clareza desejável, a tomada de posição do BE não encerra a priori a perspectiva da democratização como via de uma alternativa às relações de poder existentes.

3. Outra questão é saber se a recusa da reunião foi a melhor opção no plano político imediato. Os islandeses recusaram as condições que o FMI queria impor-lhes, mas fizeram-no comunicando-lhe as suas posições e obrigando-o a recuar. Do mesmo modo, seria possível transformar a reunião recusada em ocasião de apresentação e posterior divulgação pública de uma plataforma de rejeição das condições da oligarquia e do actual modo de funcionamento da UE. Esta via, menos espectacular, não seria necessariamente menos radical.

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