A Esquerda e a Direita

06-11-2013
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Em Bruxelas, de visita ao Parlamento Europeu, acompanhei, através dos canais internacionais de televisão, vários acontecimentos importantes que tiveram a capacidade de unir as pessoas num elogio comum e sincero: a morte de Steve Jobs, o 80º aniversário do Arcebispo Desmond Tutu e a atribuição do Prémio Nobel da Paz a três grandes mulheres que tanto têm feito pelo reconhecimento da dignidade do seu género.

Vi e ouvi acerca destes assuntos opiniões unânimes: o sentimento de perda universal pela partida de um génio como Steve Jobs que tanto nos ensinou, o elogio à coragem de um bispo que se opôs ao Apartheid de uma forma tão determinada como Desmond Tutu e o reconhecimento da ousadia daquelas mulheres que em condições extremamente difíceis não desistem de desafiar aqueles que as julgam um sexo menor.

Tudo isto vai de encontro a um debate que faço várias vezes com muitas pessoas e até comigo próprio: até onde vai a clivagem Esquerda-Direita? Até que ponto o combate de ideologias é uma necessidade ou um obstáculo?

Não tenho uma resposta para nenhuma destas perguntas, porque para qualquer uma delas há várias respostas com argumentos e exemplos válidos. Mas penso saber uma ou duas coisas que me parecem ser importantes, tendo em conta aquilo que se tem passado nos últimos tempos.

O facto de Esquerda e Direita terem ideias muito diferentes sobre diversos assuntos não quer dizer que as preocupações sejam assim tão diferentes. É importante ter a capacidade de perceber isso para que não se caia no erro de menosprezar o que outros dizem e falam sobre um determinado tema, numa atitude de arrogância que em nada contribui para a solução dos problemas que enfrentamos.

No entanto, é fundamental que Esquerda e Direita mostrem aos cidadãos as suas propostas e os seus modelos de desenvolvimento e de sociedade. Só assim é possível o debate com substância que não se reduza à espuma dos dias como vemos acontecer com frequência. Só assim é possível que se faça política a pensar nas próximas gerações ao invés de pensar nas próximas eleições.

Sinto que foi a profissionalização da política que mais contribuiu para o esvaziamento do debate ideológico que assistimos hoje em dia. E isso é péssimo. Temos políticos que não encaram a política como um serviço mas como uma profissão, escondendo-se por detrás das empresas em que se transformaram os partidos onde o objectivo passa apenas e só por conseguir ganhar eleições. É natural que desta forma o debate se resuma a casos mediáticos que se perdem no tempo e em nada contribuem para o futuro de um país.

Tudo isto sem prejuízo de várias excepções que felizmente existem em todos os partidos e que muito nos honram e fazem pensar. Excepções essas que várias vezes se unem, apesar das suas diferenças, para dizer ‘basta!’ à falta de sentido de serviço que parece ter tomado conta da política.

Vi isso acontecer quando Nelson Mandela chamou De Klerk para seu Vice Presidente em 1994. Vi isso acontecer quando deputados de todos os grupos políticos do Parlamento Europeu se empenharam numa petição contra a corrupção. Vi isso acontecer quando Rui Tavares, Ana Gomes e Carlos Coelho se uniram contra o Acordo de Transferência de Dados para os EUA. Vi isso acontecer quando Helmut Kohl dizia que é do interesse da Alemanha apoiar a Grécia. Vi isso acontecer quando João Semedo e Isabel Galriça Neto se batiam na Assembleia da República pela aprovação de projectos de lei idênticos sobre uma rede de cuidados paliativos.

E o que quer isto dizer? Que estes são políticos de plástico que se unem a outros de cores políticas diferentes e por isso não têm qualquer coerência? Penso que é exactamente o contrário.

O debate ideológico deve ser descomplexado e não pode ter preconceitos. Não se é bom porque é de Esquerda ou mau porque se é de Direita e vice-versa, ao contrário do que hoje certos partidos querem fazer passar para opinião pública dizendo os mais à Esquerda são uns irresponsáveis sem qualquer sentido de Estado e os de Direita um bando de servidores do grande capital que apenas se preocupam em ganhar dinheiro e poder.

Para que esse debate aconteça é fundamental que haja coragem política e ousadia na acção. Aquilo que hoje em dia falta a grande parte dos líderes europeus e que não permite o combate de ideias a médio e longo prazo, porque os mesmos vivem apenas do e para o curto prazo. A coragem e ousadia que permite a vários políticos de Esquerda e de Direita que acima citei serem exemplos a seguir por não se absterem de tomar decisões difíceis com visão de futuro.

Não estão em causa as capacidades intelectuais dos políticos que nos governam. O que está em causa é essa mesma coragem e ousadia que tiveram Steve Jobs, Desmond Tutu e as vencedoras do Nobel da Paz, obrigando pessoas de todos os quadrantes políticos a reconhecer o seu valor. Venha ela de onde vier, da Esquerda ou da Direita, essa coragem e ousadia política será sempre bem vinda. Porque só ela permite o verdadeiro combate de ideias!

Em Bruxelas, de visita ao Parlamento Europeu, acompanhei, através dos canais internacionais de televisão, vários acontecimentos importantes que tiveram a capacidade de unir as pessoas num elogio comum e sincero: a morte de Steve Jobs, o 80º aniversário do Arcebispo Desmond Tutu e a atribuição do Prémio Nobel da Paz a três grandes mulheres que tanto têm feito pelo reconhecimento da dignidade do seu género.

Vi e ouvi acerca destes assuntos opiniões unânimes: o sentimento de perda universal pela partida de um génio como Steve Jobs que tanto nos ensinou, o elogio à coragem de um bispo que se opôs ao Apartheid de uma forma tão determinada como Desmond Tutu e o reconhecimento da ousadia daquelas mulheres que em condições extremamente difíceis não desistem de desafiar aqueles que as julgam um sexo menor.

Tudo isto vai de encontro a um debate que faço várias vezes com muitas pessoas e até comigo próprio: até onde vai a clivagem Esquerda-Direita? Até que ponto o combate de ideologias é uma necessidade ou um obstáculo?

Não tenho uma resposta para nenhuma destas perguntas, porque para qualquer uma delas há várias respostas com argumentos e exemplos válidos. Mas penso saber uma ou duas coisas que me parecem ser importantes, tendo em conta aquilo que se tem passado nos últimos tempos.

O facto de Esquerda e Direita terem ideias muito diferentes sobre diversos assuntos não quer dizer que as preocupações sejam assim tão diferentes. É importante ter a capacidade de perceber isso para que não se caia no erro de menosprezar o que outros dizem e falam sobre um determinado tema, numa atitude de arrogância que em nada contribui para a solução dos problemas que enfrentamos.

No entanto, é fundamental que Esquerda e Direita mostrem aos cidadãos as suas propostas e os seus modelos de desenvolvimento e de sociedade. Só assim é possível o debate com substância que não se reduza à espuma dos dias como vemos acontecer com frequência. Só assim é possível que se faça política a pensar nas próximas gerações ao invés de pensar nas próximas eleições.

Sinto que foi a profissionalização da política que mais contribuiu para o esvaziamento do debate ideológico que assistimos hoje em dia. E isso é péssimo. Temos políticos que não encaram a política como um serviço mas como uma profissão, escondendo-se por detrás das empresas em que se transformaram os partidos onde o objectivo passa apenas e só por conseguir ganhar eleições. É natural que desta forma o debate se resuma a casos mediáticos que se perdem no tempo e em nada contribuem para o futuro de um país.

Tudo isto sem prejuízo de várias excepções que felizmente existem em todos os partidos e que muito nos honram e fazem pensar. Excepções essas que várias vezes se unem, apesar das suas diferenças, para dizer ‘basta!’ à falta de sentido de serviço que parece ter tomado conta da política.

Vi isso acontecer quando Nelson Mandela chamou De Klerk para seu Vice Presidente em 1994. Vi isso acontecer quando deputados de todos os grupos políticos do Parlamento Europeu se empenharam numa petição contra a corrupção. Vi isso acontecer quando Rui Tavares, Ana Gomes e Carlos Coelho se uniram contra o Acordo de Transferência de Dados para os EUA. Vi isso acontecer quando Helmut Kohl dizia que é do interesse da Alemanha apoiar a Grécia. Vi isso acontecer quando João Semedo e Isabel Galriça Neto se batiam na Assembleia da República pela aprovação de projectos de lei idênticos sobre uma rede de cuidados paliativos.

E o que quer isto dizer? Que estes são políticos de plástico que se unem a outros de cores políticas diferentes e por isso não têm qualquer coerência? Penso que é exactamente o contrário.

O debate ideológico deve ser descomplexado e não pode ter preconceitos. Não se é bom porque é de Esquerda ou mau porque se é de Direita e vice-versa, ao contrário do que hoje certos partidos querem fazer passar para opinião pública dizendo os mais à Esquerda são uns irresponsáveis sem qualquer sentido de Estado e os de Direita um bando de servidores do grande capital que apenas se preocupam em ganhar dinheiro e poder.

Para que esse debate aconteça é fundamental que haja coragem política e ousadia na acção. Aquilo que hoje em dia falta a grande parte dos líderes europeus e que não permite o combate de ideias a médio e longo prazo, porque os mesmos vivem apenas do e para o curto prazo. A coragem e ousadia que permite a vários políticos de Esquerda e de Direita que acima citei serem exemplos a seguir por não se absterem de tomar decisões difíceis com visão de futuro.

Não estão em causa as capacidades intelectuais dos políticos que nos governam. O que está em causa é essa mesma coragem e ousadia que tiveram Steve Jobs, Desmond Tutu e as vencedoras do Nobel da Paz, obrigando pessoas de todos os quadrantes políticos a reconhecer o seu valor. Venha ela de onde vier, da Esquerda ou da Direita, essa coragem e ousadia política será sempre bem vinda. Porque só ela permite o verdadeiro combate de ideias!

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