Hotel Yeoville: África em casa

13-02-2012
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- Vivo em Yeoville e trabalho com a comunidade congolesa, naquilo que são os direitos das pessoas. Foi assim que conheci a Terry. A língua é a primeira barreira. Os jovens que chegam são espertos, têm espírito de iniciativa e capacidades, mas por causa da língua é um problema ir para a universidade, e muitos perdem a esperança. E depois em 2008 houve aquele pico de tensão, os ataques a imigrantes.

- É um problema sério, a xenofobia. Temos uma palavra, ubuntu, a unidade, o espírito colectivo. É uma tradição do que significa África, mas quando vimos de fora e encontramos os nossos irmãos, alguns tratam-nos pior que os brancos.

Medo e droga

Na cabina de vídeo, Megan Pillay faz uma pausa. É um adolescente negro de perfil tão achatado como se lhe tivessem esmagado a cara. Uma cara de gangster com 18 anos, com um gorro enterrado até aos olhos. E depois começa a falar, e fala de poemas.

- Escrevo poemas para fazer as pessoas sentirem-se melhor, mas às vezes gostava de eu próprio seguir o meu conselho.

Fala lentamente, impávido, como se o próprio corpo estivesse em pausa, e só a voz continuasse a mover-se. Não é difícil imaginá-lo a rebentar.

O governo de Joanesburgo investiu recentemente 17 milhões de euros na recuperação de Hillbrow, Berea e Yeoville: iluminação pública, pavimentos, jardins, casas de banho, parques de estacionamento e projectos como o desta biblioteca pública. Mas o centro de Hillbrow ainda está cheio de passeios partidos e lixo, bancas caóticas nos passeios e esquinas cheias de passadores de droga encostados às paredes ou a rondar.

Foi em Hillbrow, no meio de tudo isto, que este rapaz nasceu, e aos cinco anos veio para Yeoville, com a irmã mais nova e os pais. A mãe trabalha numa fábrica de alimentação, o pai é motorista, são cristãos. Megan vai à Igreja Pentecostal de Berea e usa um crucifixo. Quer ser contabilista.

- Gosto muito, e sou bom a matemática - diz ele, imóvel, hipnótico, no banquinho da cabina de vídeo.

Diz-lhe alguma coisa, o Mundial?

- Claro, estou entusiasmado com o Mundial, mas não estou satisfeito com a câmara. No prédio onde vivo às vezes não há luz. Mas consegui bilhetes para o primeiro jogo com o meu pai.

Será a estreia dele no estádio de Soccer City, lá para baixo, à beira do Soweto.

E viver aqui? Como é?

- Se temos medo, as pessoas vêem medo em nós. As pessoas aqui só roubam para droga. Esta zona está cheia de droga. Heroína, cocaína, crack a 20 rands um pedaço.

Dois euros.

- É o principal problema desta zona, Yeoville, Hillbrow, Berea. Berea está cheio de nigerianos. Chamam-lhe Lagos. O maior medo é ser forçado a tomar droga. Eu comecei aos 13, deixei aos 16, estou há dois anos e meio limpo.

O que tomava?

- Crack, heroína, Mandrax (comprimidos), dagga (haxixe)... Em Yeoville, em cada esquina há gente a vender dagga.

Muitos dos poemas de Megan são sobre isto. Ele sabe-os de cor. Pega no caderno da repórter e escreve:

"Cocaine

My name is cocaine

They call me coke for short

I have entered this country without a passport

Ever since then I have made a lot of scums rich

Some being murdered and found ditch

I am more valued than diamonds

And more treasured than gold

Use me once and you too will be sold"

Rotação de cama

Na cabina das histórias está Natasha Ndlovu, de 14 anos, trancinhas, linda. Veio com uma amiga, as duas cheias de cadernos de argolas, e de risos por tudo e por nada. Passam horas aqui. Hotel Yeoville é como ir à Net, mas melhor. Há coisas para fazer. Os rapazes deixam bilhetes.

- Isto ajuda os adolescentes a descobrirem-se, e as outras pessoas a saberem o que vai por dentro, o que te faz dor, o que te dá alegria, o que queres da vida, o que os outros podem fazer para te ajudar.

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- Vivo em Yeoville e trabalho com a comunidade congolesa, naquilo que são os direitos das pessoas. Foi assim que conheci a Terry. A língua é a primeira barreira. Os jovens que chegam são espertos, têm espírito de iniciativa e capacidades, mas por causa da língua é um problema ir para a universidade, e muitos perdem a esperança. E depois em 2008 houve aquele pico de tensão, os ataques a imigrantes.

- É um problema sério, a xenofobia. Temos uma palavra, ubuntu, a unidade, o espírito colectivo. É uma tradição do que significa África, mas quando vimos de fora e encontramos os nossos irmãos, alguns tratam-nos pior que os brancos.

Medo e droga

Na cabina de vídeo, Megan Pillay faz uma pausa. É um adolescente negro de perfil tão achatado como se lhe tivessem esmagado a cara. Uma cara de gangster com 18 anos, com um gorro enterrado até aos olhos. E depois começa a falar, e fala de poemas.

- Escrevo poemas para fazer as pessoas sentirem-se melhor, mas às vezes gostava de eu próprio seguir o meu conselho.

Fala lentamente, impávido, como se o próprio corpo estivesse em pausa, e só a voz continuasse a mover-se. Não é difícil imaginá-lo a rebentar.

O governo de Joanesburgo investiu recentemente 17 milhões de euros na recuperação de Hillbrow, Berea e Yeoville: iluminação pública, pavimentos, jardins, casas de banho, parques de estacionamento e projectos como o desta biblioteca pública. Mas o centro de Hillbrow ainda está cheio de passeios partidos e lixo, bancas caóticas nos passeios e esquinas cheias de passadores de droga encostados às paredes ou a rondar.

Foi em Hillbrow, no meio de tudo isto, que este rapaz nasceu, e aos cinco anos veio para Yeoville, com a irmã mais nova e os pais. A mãe trabalha numa fábrica de alimentação, o pai é motorista, são cristãos. Megan vai à Igreja Pentecostal de Berea e usa um crucifixo. Quer ser contabilista.

- Gosto muito, e sou bom a matemática - diz ele, imóvel, hipnótico, no banquinho da cabina de vídeo.

Diz-lhe alguma coisa, o Mundial?

- Claro, estou entusiasmado com o Mundial, mas não estou satisfeito com a câmara. No prédio onde vivo às vezes não há luz. Mas consegui bilhetes para o primeiro jogo com o meu pai.

Será a estreia dele no estádio de Soccer City, lá para baixo, à beira do Soweto.

E viver aqui? Como é?

- Se temos medo, as pessoas vêem medo em nós. As pessoas aqui só roubam para droga. Esta zona está cheia de droga. Heroína, cocaína, crack a 20 rands um pedaço.

Dois euros.

- É o principal problema desta zona, Yeoville, Hillbrow, Berea. Berea está cheio de nigerianos. Chamam-lhe Lagos. O maior medo é ser forçado a tomar droga. Eu comecei aos 13, deixei aos 16, estou há dois anos e meio limpo.

O que tomava?

- Crack, heroína, Mandrax (comprimidos), dagga (haxixe)... Em Yeoville, em cada esquina há gente a vender dagga.

Muitos dos poemas de Megan são sobre isto. Ele sabe-os de cor. Pega no caderno da repórter e escreve:

"Cocaine

My name is cocaine

They call me coke for short

I have entered this country without a passport

Ever since then I have made a lot of scums rich

Some being murdered and found ditch

I am more valued than diamonds

And more treasured than gold

Use me once and you too will be sold"

Rotação de cama

Na cabina das histórias está Natasha Ndlovu, de 14 anos, trancinhas, linda. Veio com uma amiga, as duas cheias de cadernos de argolas, e de risos por tudo e por nada. Passam horas aqui. Hotel Yeoville é como ir à Net, mas melhor. Há coisas para fazer. Os rapazes deixam bilhetes.

- Isto ajuda os adolescentes a descobrirem-se, e as outras pessoas a saberem o que vai por dentro, o que te faz dor, o que te dá alegria, o que queres da vida, o que os outros podem fazer para te ajudar.

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