O ano em que os leitores vão ler os livros que têm em casa

01-01-2012
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Os livreiros já estão preocupados com os "stocks" e a diminuir o número de exemplares que pedem quando sai uma novidade. Se antigamente pediam 500, agora podem pedir 200 NUNO FERREIRA SANTOS

Manuel Alberto Valente. Director Editorial da Porto Editora. Reduçâo de títulos e de tiragens, dificuldades para as livrarias independentes e para as pequenas e médias editoras, menos consumo.

Nesta história há boa notícia: a taxa do IVA nos livros vai manter-se nos 6 por cento. "Se o IVA tivesse subido, a situação seria mais catastrófica", acredita Manuel Alberto Valente, director editorial da Porto Editora que, se considerarmos a totalidade de todas as áreas de edição (o escolar, o não-escolar, os dicionários), é o maior grupo português.

Quando se reduzem as tiragens, o custo unitário do livro aumenta e a situação actual não permite uma subida de preços. Tem de se encontrar um ponto de equilíbrio, em que se consiga adequar as tiragens ao mercado sem que isso implique aumento de venda ao público (economizando nos custos de produção e cortando nas margens de lucro). "É preciso perceber como é que as várias camadas de leitores vão reagir. Há quem diga que o livro mais comercial pode ser aquele que sofre mais com a crise porque as camadas que lêem esses livros têm menor poder de compra e podem baixar os seus consumos." Há também quem diga que os leitores profundos podem retrair o consumo. "Normalmente estes leitores têm em casa muitos livros que ainda não leram e podem optar por não comprar como compravam", lembra.

O sector tem as suas especificidades. As editoras não podem mudar muito o que pretendiam publicar porque os contratos são assinados com antecedência. "Neste momento, além de termos 2012 preenchido, temos livros para todo o ano de 2013. Pode-se adequar o ritmo de publicação mas não se pode cortar radicalmente porque senão os próprios contratos, que têm prazos, caducam", explica. Mas, apesar disso, teme que no sector possam haver grandes transformações quer a nível do retalho livreiro, quer do próprio mercado editorial. "Corremos o risco de continuarem a fechar livrarias e de algumas editoras não conseguirem superar os efeitos da crise. É um perigo que existe, sobretudo no campo do retalho livreiro. É um círculo vicioso. Se o retalho livreiro diminui, ainda mais difícil passa a ser vender livros e haver visibilidade para os livros."

Neste final de ano, os livreiros já estão preocupados com os "stocks" e a diminuir o número de exemplares que pedem quando sai uma novidade. Se antigamente pediam 500 agora podem pedir 200. "Estas acções geram o mecanismo da crise. As editoras que não tenham uma sustentabilidade financeira forte acabam por sofrer os efeitos dos atrasos de pagamento dos outros agentes do processo. Se o livreiro atrasar o pagamento à editora pode acontecer que a editora não tenha dinheiro para pagar aos fornecedores, tradutores, revisores, etc. Começa-se aqui a criar um problema de "cash flow" que pode ser fatal."

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Em Portugal as livrarias independentes já se contam pelos dedos. 70 a 75 por cento das vendas de livros concentram-se em grandes superfícies, nas Fnac, nas Bertrand. Internacionalmente temos "o exemplo catastrófico da Grécia", onde a Fnac encerrou as lojas. "Imaginem o que seria para o mercado português se uma Fnac decidisse abandonar Portugal...".

Os livreiros já estão preocupados com os "stocks" e a diminuir o número de exemplares que pedem quando sai uma novidade. Se antigamente pediam 500, agora podem pedir 200 NUNO FERREIRA SANTOS

Manuel Alberto Valente. Director Editorial da Porto Editora. Reduçâo de títulos e de tiragens, dificuldades para as livrarias independentes e para as pequenas e médias editoras, menos consumo.

Nesta história há boa notícia: a taxa do IVA nos livros vai manter-se nos 6 por cento. "Se o IVA tivesse subido, a situação seria mais catastrófica", acredita Manuel Alberto Valente, director editorial da Porto Editora que, se considerarmos a totalidade de todas as áreas de edição (o escolar, o não-escolar, os dicionários), é o maior grupo português.

Quando se reduzem as tiragens, o custo unitário do livro aumenta e a situação actual não permite uma subida de preços. Tem de se encontrar um ponto de equilíbrio, em que se consiga adequar as tiragens ao mercado sem que isso implique aumento de venda ao público (economizando nos custos de produção e cortando nas margens de lucro). "É preciso perceber como é que as várias camadas de leitores vão reagir. Há quem diga que o livro mais comercial pode ser aquele que sofre mais com a crise porque as camadas que lêem esses livros têm menor poder de compra e podem baixar os seus consumos." Há também quem diga que os leitores profundos podem retrair o consumo. "Normalmente estes leitores têm em casa muitos livros que ainda não leram e podem optar por não comprar como compravam", lembra.

O sector tem as suas especificidades. As editoras não podem mudar muito o que pretendiam publicar porque os contratos são assinados com antecedência. "Neste momento, além de termos 2012 preenchido, temos livros para todo o ano de 2013. Pode-se adequar o ritmo de publicação mas não se pode cortar radicalmente porque senão os próprios contratos, que têm prazos, caducam", explica. Mas, apesar disso, teme que no sector possam haver grandes transformações quer a nível do retalho livreiro, quer do próprio mercado editorial. "Corremos o risco de continuarem a fechar livrarias e de algumas editoras não conseguirem superar os efeitos da crise. É um perigo que existe, sobretudo no campo do retalho livreiro. É um círculo vicioso. Se o retalho livreiro diminui, ainda mais difícil passa a ser vender livros e haver visibilidade para os livros."

Neste final de ano, os livreiros já estão preocupados com os "stocks" e a diminuir o número de exemplares que pedem quando sai uma novidade. Se antigamente pediam 500 agora podem pedir 200. "Estas acções geram o mecanismo da crise. As editoras que não tenham uma sustentabilidade financeira forte acabam por sofrer os efeitos dos atrasos de pagamento dos outros agentes do processo. Se o livreiro atrasar o pagamento à editora pode acontecer que a editora não tenha dinheiro para pagar aos fornecedores, tradutores, revisores, etc. Começa-se aqui a criar um problema de "cash flow" que pode ser fatal."

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Em Portugal as livrarias independentes já se contam pelos dedos. 70 a 75 por cento das vendas de livros concentram-se em grandes superfícies, nas Fnac, nas Bertrand. Internacionalmente temos "o exemplo catastrófico da Grécia", onde a Fnac encerrou as lojas. "Imaginem o que seria para o mercado português se uma Fnac decidisse abandonar Portugal...".

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