A noite dos (bons) veteranos um dia depois dos Coldplay

12-07-2011
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"Are you ready to testify?", apresentou-se Bobby Gillespie, antes de arrancarmos Movin on up dentro, antes de chegarmos à versão opiácea de Slip inside this house, original dos 13th Floor Elevators, ou aos encantamentos dessa Higher than the sun prolongada em jam psicadélica impressionante. Nesta colisão de rock"n"roll movido a LSD com os ritmos da geração rave, nestas canções onde piano blues e vozes gospel são iluminadas pelo gemido do wah wah e em que, genericamente, os Stones de Exile On Main St avançam duas décadas até à discoteca Haçienda de Manchester, não se viram, naquela tenda preenchida de gente, quaisquer traços de nostalgia. Os subgraves ressoaram pelo esqueleto, as projecções de mil cores hipnotizaram o olhar e Gillespie, qual filho bastardo de Mick Jagger, surgiu como representação perfeita de um espírito criativo que encarna a história de olhos postos no futuro. Com Primal Scream, o primeiro momento superlativo do dia. E nem tivemos tempo para respirar porque, pouco depois, um homem de tronco nu irrompeu em palco para vociferarar um claríssimo "Raw power!". Os Stooges: inesgotáveis, provocadores, irados, libertadores. As canções: Search and destroy, Gimme danger, Penetration ou Your pretty face is going to hell. Iggy obrigando os seguranças a deixar público subir ao palco - "no security" -, Iggy rastejando junto às grades - I wanna be your dog?, Iggy lançando "fucks" ao mundo, a tudo e a todos. Atrás dele, os Stooges, com o saxofonista Steve Mackay criando uma camada de dissonância metálica sobre os riffs em electrocussão de James Williamson.Iggy Pop tem 64 anos e as canções que ali ouvimos contam quatro décadas. Mas não é possível domá-las, não é possível transformar Iggy em artefacto de outros tempos. Isto é aqui e agora: sexo, vísceras e sangue. E não é confortável, não pede celebração e exaltação colectiva.

Os Stooges, que deixaram muitos perplexos, sem saber como reagir à violência da provocação, foram, de certo modo, a antítese da festa de sorriso aberto dos Foo Fighters.

O festival encerra este sábado com Jane"s Addiction e TV On The Radio em destaque.

Texto originalmente publicado na edição P2 de 9 de Julho de 2011

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"Are you ready to testify?", apresentou-se Bobby Gillespie, antes de arrancarmos Movin on up dentro, antes de chegarmos à versão opiácea de Slip inside this house, original dos 13th Floor Elevators, ou aos encantamentos dessa Higher than the sun prolongada em jam psicadélica impressionante. Nesta colisão de rock"n"roll movido a LSD com os ritmos da geração rave, nestas canções onde piano blues e vozes gospel são iluminadas pelo gemido do wah wah e em que, genericamente, os Stones de Exile On Main St avançam duas décadas até à discoteca Haçienda de Manchester, não se viram, naquela tenda preenchida de gente, quaisquer traços de nostalgia. Os subgraves ressoaram pelo esqueleto, as projecções de mil cores hipnotizaram o olhar e Gillespie, qual filho bastardo de Mick Jagger, surgiu como representação perfeita de um espírito criativo que encarna a história de olhos postos no futuro. Com Primal Scream, o primeiro momento superlativo do dia. E nem tivemos tempo para respirar porque, pouco depois, um homem de tronco nu irrompeu em palco para vociferarar um claríssimo "Raw power!". Os Stooges: inesgotáveis, provocadores, irados, libertadores. As canções: Search and destroy, Gimme danger, Penetration ou Your pretty face is going to hell. Iggy obrigando os seguranças a deixar público subir ao palco - "no security" -, Iggy rastejando junto às grades - I wanna be your dog?, Iggy lançando "fucks" ao mundo, a tudo e a todos. Atrás dele, os Stooges, com o saxofonista Steve Mackay criando uma camada de dissonância metálica sobre os riffs em electrocussão de James Williamson.Iggy Pop tem 64 anos e as canções que ali ouvimos contam quatro décadas. Mas não é possível domá-las, não é possível transformar Iggy em artefacto de outros tempos. Isto é aqui e agora: sexo, vísceras e sangue. E não é confortável, não pede celebração e exaltação colectiva.

Os Stooges, que deixaram muitos perplexos, sem saber como reagir à violência da provocação, foram, de certo modo, a antítese da festa de sorriso aberto dos Foo Fighters.

O festival encerra este sábado com Jane"s Addiction e TV On The Radio em destaque.

Texto originalmente publicado na edição P2 de 9 de Julho de 2011

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