E Francisco José Viegas apareceu para falar do romance da amiga Inês

16-12-2012
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Foi uma noite para dois romances. Falou-se sobre a nova obra de Inês Pedrosa, mas como o apresentador era o ex-secretário de Estado da Cultura desvendámos também a nova aventura literária de Viegas

São 20 anos de vida literária. Quando a escritora Lídia Jorge apresentou, em 1997, o segundo romance de Inês Pedrosa, Nas Tuas Mãos (Prémio Máxima de Literatura), que para a autora está muito ligado ao seu novo romance, Dentro de Ti Ver o Mar (ed. Dom Quixote), Inês estava grávida. O tempo passou. A filha da escritora é agora adolescente e segunda-feira à noite, pela primeira vez, foi a um lançamento de um livro da mãe.

Sentada na primeira fila da plateia do Museu do Fado, em Lisboa, ouviu a escritora dizer como tem sido importante o que tem aprendido com ela, e ouviu Francisco José Viegas, o escritor e ex-secretário de Estado da Cultura, que apresentou o livro, citar a frase que a adolescente do romance diz ao pai quando este lhe lembra que ainda não tem idade para sair sozinha: "Get a life!"

Em Dentro de Ti Ver o Mar, disse Viegas, além da aventura pessoal da personagem nuclear Rosa Cabral, fadista (que anda à procura do pai e de saber quem é), há uma história de amor dolorosa, porque "o amor é doloroso, porque as paixões têm um lado festivo e um lado punitivo". Neste livro, continua, há um episódio mais ao menos clássico nas narrativas de amor: "Rosa ama Gabriel, que é um homem casado, que só ama Rosa nos intervalos da sua vida." E esta relação, que é perigosa "no romance tal como na vida", enquadra-se "no arquétipo muito simples que vem definido na página 278: "Elas chamavam amor ao medo, eles chamavam amor ao poder"", explicou Francisco José Viegas, naquela que foi a sua primeira aparição pública depois da tomada de posse do novo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.

"Se há alguma coisa mais desajustada é chamar romance de género a Dentro de Ti Ver o Mar; é, antes, um balanço da década, um balanço de ilusões e uma enumeração das desilusões que estes anos criaram e de que não nos libertaremos tão cedo; e é uma caminhada em redor do deserto (não no deserto), em busca da palavra que nos salva", defendeu Viegas. "Como se a ficção pudesse tudo. E acho que pode", concluiu.

Neste romance de Inês Pedrosa regressam temas que já abordou no passado como a identidade, o amor e a traição. Para a autora, o que é novo em Dentro de Ti Ver o Mar, onde há também uma iraniana Farimah e um cabo-verdiano Mandela da Silva, é o "tema do pensamento arrebanhado por ideologias fixas" e dos clichés sobre o que é o mundo árabe ou se a globalização é um bem ou um mal. "Pôr tudo em questão e tentar olhar para isso, como me dizia o Augusto Abelaira: "Como se caísse de Marte e estivesse a olhar para as coisas sem preconceitos ou ideias feitas à partida"", diz a escritora, cujo primeiro romance, A Instrução dos Amantes, foi editado em 1992. Considera este o seu livro mais político, em que a política entra directamente na vida das personagens, "que mudam a vida por fenómenos políticos que as ultrapassam".

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Também a política entrou intensamente na vida de Francisco José Viegas pouco depois das eleições de 2011 quando foi nomeado secretário de Estado da Cultura. Há cerca de um mês pediu a demissão por motivos de doença, e pouco a pouco tem regressado ao mundo dos livros e à editora Quetzal, onde trabalhava antes da nomeação. "Como é público, o Francisco não tem tido uma vida fácil e tem tido problemas de saúde", lembrou Inês Pedrosa, que o conhece há 27 anos e quando lhe fez o convite para que apresentasse o livro se sentiu constrangida porque sabia que ele estava em grande alvoroço profissional e pessoal.

Sobre o seu período de vida política, o escritor não quis falar, mas no final do evento, depois de o fadista Marco Rodrigues ter cantado Amor Real, com letra que Inês Pedrosa escreveu e ele gravou e que estará no próximo disco, Viegas mostrou ao PÚBLICO algumas das páginas manuscritas do romance que está a acabar, fotografadas e guardadas no telemóvel (não vá o diabo tecê-las). O Coleccionador de Erva sairá em Fevereiro, na Porto Editora, que acaba de reeditar Lourenço Marques e Um Crime Capital. Regressa o inspector Jaime Ramos e a equipa, Isaltino de Jesus e o cabo-verdiano José Corsário e a novidade é a detective Olívia, que ganha protagonismo.

No romance, Jaime Ramos vê-se a braços com duas investigações paralelas: "A do assassínio de dois imigrantes russos (antigos militares soviéticos), cujos corpos são encontrados no interior de um carro semicarbonizado, nos arredores do Porto - e o desaparecimento de uma jovem de vinte anos, oriunda de uma família tradicional do Minho", revela Viegas. O inspector volta às suas memórias de militante comunista e à sua velha paixão pela literatura russa. E a investigação leva-o "a um mundo onde coabitam velhas famílias do Minho ou do Porto, sexo, marijuana, espionagem a políticos, venda de armas ou plataformas de petróleo. São também "as memórias de um país que vive entre ruínas (as do império e as das fortunas recentes e antigas) e corrupção, e que guarda os seus loucos nos armários, para não parecer mal".

Foi uma noite para dois romances. Falou-se sobre a nova obra de Inês Pedrosa, mas como o apresentador era o ex-secretário de Estado da Cultura desvendámos também a nova aventura literária de Viegas

São 20 anos de vida literária. Quando a escritora Lídia Jorge apresentou, em 1997, o segundo romance de Inês Pedrosa, Nas Tuas Mãos (Prémio Máxima de Literatura), que para a autora está muito ligado ao seu novo romance, Dentro de Ti Ver o Mar (ed. Dom Quixote), Inês estava grávida. O tempo passou. A filha da escritora é agora adolescente e segunda-feira à noite, pela primeira vez, foi a um lançamento de um livro da mãe.

Sentada na primeira fila da plateia do Museu do Fado, em Lisboa, ouviu a escritora dizer como tem sido importante o que tem aprendido com ela, e ouviu Francisco José Viegas, o escritor e ex-secretário de Estado da Cultura, que apresentou o livro, citar a frase que a adolescente do romance diz ao pai quando este lhe lembra que ainda não tem idade para sair sozinha: "Get a life!"

Em Dentro de Ti Ver o Mar, disse Viegas, além da aventura pessoal da personagem nuclear Rosa Cabral, fadista (que anda à procura do pai e de saber quem é), há uma história de amor dolorosa, porque "o amor é doloroso, porque as paixões têm um lado festivo e um lado punitivo". Neste livro, continua, há um episódio mais ao menos clássico nas narrativas de amor: "Rosa ama Gabriel, que é um homem casado, que só ama Rosa nos intervalos da sua vida." E esta relação, que é perigosa "no romance tal como na vida", enquadra-se "no arquétipo muito simples que vem definido na página 278: "Elas chamavam amor ao medo, eles chamavam amor ao poder"", explicou Francisco José Viegas, naquela que foi a sua primeira aparição pública depois da tomada de posse do novo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.

"Se há alguma coisa mais desajustada é chamar romance de género a Dentro de Ti Ver o Mar; é, antes, um balanço da década, um balanço de ilusões e uma enumeração das desilusões que estes anos criaram e de que não nos libertaremos tão cedo; e é uma caminhada em redor do deserto (não no deserto), em busca da palavra que nos salva", defendeu Viegas. "Como se a ficção pudesse tudo. E acho que pode", concluiu.

Neste romance de Inês Pedrosa regressam temas que já abordou no passado como a identidade, o amor e a traição. Para a autora, o que é novo em Dentro de Ti Ver o Mar, onde há também uma iraniana Farimah e um cabo-verdiano Mandela da Silva, é o "tema do pensamento arrebanhado por ideologias fixas" e dos clichés sobre o que é o mundo árabe ou se a globalização é um bem ou um mal. "Pôr tudo em questão e tentar olhar para isso, como me dizia o Augusto Abelaira: "Como se caísse de Marte e estivesse a olhar para as coisas sem preconceitos ou ideias feitas à partida"", diz a escritora, cujo primeiro romance, A Instrução dos Amantes, foi editado em 1992. Considera este o seu livro mais político, em que a política entra directamente na vida das personagens, "que mudam a vida por fenómenos políticos que as ultrapassam".

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Também a política entrou intensamente na vida de Francisco José Viegas pouco depois das eleições de 2011 quando foi nomeado secretário de Estado da Cultura. Há cerca de um mês pediu a demissão por motivos de doença, e pouco a pouco tem regressado ao mundo dos livros e à editora Quetzal, onde trabalhava antes da nomeação. "Como é público, o Francisco não tem tido uma vida fácil e tem tido problemas de saúde", lembrou Inês Pedrosa, que o conhece há 27 anos e quando lhe fez o convite para que apresentasse o livro se sentiu constrangida porque sabia que ele estava em grande alvoroço profissional e pessoal.

Sobre o seu período de vida política, o escritor não quis falar, mas no final do evento, depois de o fadista Marco Rodrigues ter cantado Amor Real, com letra que Inês Pedrosa escreveu e ele gravou e que estará no próximo disco, Viegas mostrou ao PÚBLICO algumas das páginas manuscritas do romance que está a acabar, fotografadas e guardadas no telemóvel (não vá o diabo tecê-las). O Coleccionador de Erva sairá em Fevereiro, na Porto Editora, que acaba de reeditar Lourenço Marques e Um Crime Capital. Regressa o inspector Jaime Ramos e a equipa, Isaltino de Jesus e o cabo-verdiano José Corsário e a novidade é a detective Olívia, que ganha protagonismo.

No romance, Jaime Ramos vê-se a braços com duas investigações paralelas: "A do assassínio de dois imigrantes russos (antigos militares soviéticos), cujos corpos são encontrados no interior de um carro semicarbonizado, nos arredores do Porto - e o desaparecimento de uma jovem de vinte anos, oriunda de uma família tradicional do Minho", revela Viegas. O inspector volta às suas memórias de militante comunista e à sua velha paixão pela literatura russa. E a investigação leva-o "a um mundo onde coabitam velhas famílias do Minho ou do Porto, sexo, marijuana, espionagem a políticos, venda de armas ou plataformas de petróleo. São também "as memórias de um país que vive entre ruínas (as do império e as das fortunas recentes e antigas) e corrupção, e que guarda os seus loucos nos armários, para não parecer mal".

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