O Acidental: A Escola Totalitária

05-07-2011
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Continuo estupefacto com o desbarato de elogios que a direita tem dedicado à política de educação do governo. Compreendo que o desdém e o acinte com que a Sra. Ministra tem tratado os professores cale bem fundo no coração de conservadores autoritáros e liberais anti-função pública. Mas conviria, já agora, entender o alcance material das medidas. Tomemos o exemplo das célebres "aulas de substituição", a mais recente e umas das mais emblemáticas. Em que consiste? Basicamente, no seguinte: os meninos esperam a vinda do professor de Trabalhos Manuais (ainda existe?) para a aula prevista no horário. O professor de Trabalhos Manuais não aparece e, cantando e rindo, os meninos dirigem-se, ordeiramente, para uma outra sala, onde os espera uma outra professora, que não tem aquela turma no seu horário e que, por acaso, lecciona a disciplina de Francês. Ora, segundo consta, é suposto que esta professora tenha preparado qualquer entretenimento educativo para a canalha - que os ajude nos trabalhos de casa, que lhes ensine uns passos de fandango, umas asneirolas na língua de Victor Hugo ou, preferencialmente, qualquer coisa relacionada com Trabalhos Manuais (coisa que alguns petizes até acabariam por agradecer). Ignoremos, para já - de tão evidente que é -, o optimismo pueril dos cérebros responsáveis por estas ideias. Que significam elas verdadeiramente? Tendo em conta o cadastro recente do "eduquês", significam o habitual: a substituição da família pela escola e do indivíduo pelo estado; a transformação da escola, de fornecedora de conhecimentos e competências estruturantes em agente construtivista, formatador de consciências e de comportamentos. O estado quer a escola como centro absoluto da vida da criançada, onde a pode ter controlada e uniformizada, administrando-lhe a "educação sexual", a "educação para a cidadania", entre outros caminhos para a servidão. Os paizinhos que não se preocupem. It's all taken care of. Enquanto os meninos estão a ter uma aula de electrotecnia com o professor de Educação Física, não se metem na droga. Só eu sei o bem que me fizeram as faltas de alguns professores (à precisão do meu remate, à estruturação do meu intelecto e até - reparem no eduquês do linguajar - ao desenvolvimento das minhas capacidades relacionais). A escola deve ser exigente e rigorosa. Não deve ser totalitária.[FMS]

Continuo estupefacto com o desbarato de elogios que a direita tem dedicado à política de educação do governo. Compreendo que o desdém e o acinte com que a Sra. Ministra tem tratado os professores cale bem fundo no coração de conservadores autoritáros e liberais anti-função pública. Mas conviria, já agora, entender o alcance material das medidas. Tomemos o exemplo das célebres "aulas de substituição", a mais recente e umas das mais emblemáticas. Em que consiste? Basicamente, no seguinte: os meninos esperam a vinda do professor de Trabalhos Manuais (ainda existe?) para a aula prevista no horário. O professor de Trabalhos Manuais não aparece e, cantando e rindo, os meninos dirigem-se, ordeiramente, para uma outra sala, onde os espera uma outra professora, que não tem aquela turma no seu horário e que, por acaso, lecciona a disciplina de Francês. Ora, segundo consta, é suposto que esta professora tenha preparado qualquer entretenimento educativo para a canalha - que os ajude nos trabalhos de casa, que lhes ensine uns passos de fandango, umas asneirolas na língua de Victor Hugo ou, preferencialmente, qualquer coisa relacionada com Trabalhos Manuais (coisa que alguns petizes até acabariam por agradecer). Ignoremos, para já - de tão evidente que é -, o optimismo pueril dos cérebros responsáveis por estas ideias. Que significam elas verdadeiramente? Tendo em conta o cadastro recente do "eduquês", significam o habitual: a substituição da família pela escola e do indivíduo pelo estado; a transformação da escola, de fornecedora de conhecimentos e competências estruturantes em agente construtivista, formatador de consciências e de comportamentos. O estado quer a escola como centro absoluto da vida da criançada, onde a pode ter controlada e uniformizada, administrando-lhe a "educação sexual", a "educação para a cidadania", entre outros caminhos para a servidão. Os paizinhos que não se preocupem. It's all taken care of. Enquanto os meninos estão a ter uma aula de electrotecnia com o professor de Educação Física, não se metem na droga. Só eu sei o bem que me fizeram as faltas de alguns professores (à precisão do meu remate, à estruturação do meu intelecto e até - reparem no eduquês do linguajar - ao desenvolvimento das minhas capacidades relacionais). A escola deve ser exigente e rigorosa. Não deve ser totalitária.[FMS]

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