O Acidental: Vácuo de Poder

25-01-2012
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1. Numa coisa, a política é como a natureza: não gosta de vácuos. Quando surge um vácuo de poder, sabemos logo de uma coisa: não vai durar muito tempo. Aquele espaço por preencher não é tolerado. É preciso preenchê-lo. Eis a razão do avanço de Soares. Como bom maquiavélico (maquiavélico, atenção, não é insulto; é um termo político bastante recomendável), Soares não suportava ver esse vazio, não suportava ver o seu “lado” sem sinal de vida. E querem saber uma coisa? Ainda bem que avançou. Começava a ser confrangedor a ausência de um candidato do PS. O que é dramático não é o avanço de Soares, mas sim a ausência de iniciativa de um dos principais partidos da democracia portuguesa. O que me preocupa não é o indivíduo Y mas a inércia de uma instituição. 2. Nunca concordo com o Dr. Mário Soares. Mas não posso deixar de admirar a sua veia política, a sua vontade, a sua incapacidade de estar quieto. Podemos não concordar com as ideias, mas podemos admirar a pessoa do adversário. Esta também é uma lição liberal. 3. Por que razão o PS não conseguiu apresentar um candidato? Por que razão não preencheu o seu espaço? Poderá haver duas respostas: (1) os medíocres tinham medo de levar uma sova eleitoral de Cavaco; (2) os sensatos (aqueles que se aproximam de posições liberais), além de partilharem o medo de servir como saco de boxe, também sabem de outra coisa: o regime está falido. 4. A estrutura institucional e o mito narrativo (estado social) da democracia portuguesa precisam de reformas sérias. A dita ingovernabilidade assenta na desadequação da nossa constituição ao tempo histórico de 2005. O nosso texto basilar é um produto de um ambiente intelectual (1975) marcado pela ascensão da URSS. Pense-se nisto: quando a nossa constituição foi feita, o mundo pensava que o Ocidente liberal poderia perder a Guerra-Fria. É sobre isto que temos de pensar. Se queremos honrar a democracia, devemos alterar a nossa constituição.[Henrique Raposo]

1. Numa coisa, a política é como a natureza: não gosta de vácuos. Quando surge um vácuo de poder, sabemos logo de uma coisa: não vai durar muito tempo. Aquele espaço por preencher não é tolerado. É preciso preenchê-lo. Eis a razão do avanço de Soares. Como bom maquiavélico (maquiavélico, atenção, não é insulto; é um termo político bastante recomendável), Soares não suportava ver esse vazio, não suportava ver o seu “lado” sem sinal de vida. E querem saber uma coisa? Ainda bem que avançou. Começava a ser confrangedor a ausência de um candidato do PS. O que é dramático não é o avanço de Soares, mas sim a ausência de iniciativa de um dos principais partidos da democracia portuguesa. O que me preocupa não é o indivíduo Y mas a inércia de uma instituição. 2. Nunca concordo com o Dr. Mário Soares. Mas não posso deixar de admirar a sua veia política, a sua vontade, a sua incapacidade de estar quieto. Podemos não concordar com as ideias, mas podemos admirar a pessoa do adversário. Esta também é uma lição liberal. 3. Por que razão o PS não conseguiu apresentar um candidato? Por que razão não preencheu o seu espaço? Poderá haver duas respostas: (1) os medíocres tinham medo de levar uma sova eleitoral de Cavaco; (2) os sensatos (aqueles que se aproximam de posições liberais), além de partilharem o medo de servir como saco de boxe, também sabem de outra coisa: o regime está falido. 4. A estrutura institucional e o mito narrativo (estado social) da democracia portuguesa precisam de reformas sérias. A dita ingovernabilidade assenta na desadequação da nossa constituição ao tempo histórico de 2005. O nosso texto basilar é um produto de um ambiente intelectual (1975) marcado pela ascensão da URSS. Pense-se nisto: quando a nossa constituição foi feita, o mundo pensava que o Ocidente liberal poderia perder a Guerra-Fria. É sobre isto que temos de pensar. Se queremos honrar a democracia, devemos alterar a nossa constituição.[Henrique Raposo]

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