O Acidental: Je T'Aime, Moi Non Plus

24-01-2012
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Lendo distraidamente os jornais durante as férias, apreciei sobremaneira a moda da substituição do tradicional comício da rentrée (sempre acompanhado da bela sardinhada, tintol e magníficos recitais de executantes musicais como Quim Barreiros ou Rute Marlene) pelas escolas de verão. De entre as muitas que se fizeram, retive (perdoe-se-me a vaga insinuação sexual da palavra, mas faz sentido neste contexto) uma passagem da do Bloco de Esquerda (para os amigos, apenas “O Bloco”, e para os verdadeiramente íntimos, “O Bloco, Pá”). Ocorreu esse momento memorável, de acordo com o DN, quando Sérgio Vitorino sugeriu que “O Bloco, Pá” se batesse pela legalização dos bancos de esperma, para que qualquer mulher, independentemente da orientação sexual, pudesse aceder-lhes. Vitorino terá mesmo dito, ainda segundo o DN, que lá estaria de megafone em punho para o reclamar. Muito francamente, não sei se na circunstância o megafone será a coisa mais apropriada para empunhar, mas à parte isso é uma grande ideia.
Até já estou a ver a coisa: primeiro apareceria o Banco Filho do Espírito Santo, que rapidamente desenvolveria uma parceria com o famoso Semen Up Bank, de Londres (tendo como CEO o não menos célebre gestor Dick Hard). O lema da instituição seria: Connosco, Todo o Esperma é Sagrado. De resto, o banco não emitiria extractos bancários, mas antes jactos bancários. O principal anúncio televisivo poderia apresentar duas mulheres lésbicas que se encontram na rua, uma trazendo pela mão três saudáveis rapagões, enquanto a outra transportaria apenas um rapazola enfezado, de tez amarela e fundas olheiras. Diria esta para a primeira:
- Falaste com o teu banco?
- Não, falei com o teu.
Imprescindível para a solidez da instituição seria a sua capacidade para oferecer produtos diferenciados. Escolha de raça e sexo poderia estar à disposição em catálogos, a ser discutidos com o respectivo gestor de conta. Eis uma proposta para o anúncio sugerindo a aquisição de um filho negro. Sobre um fundo musical de batuques, a voz grave do apresentador diria: “Ponha um pouco de exotismo na sua vida. O mistério da mãe África nos olhos ternos do seu filho”. Para um filho das ilhas da América Central: com um fundo de música caribenha, a voz efusiva do apresentador diria, “Mundo Caribe! Ponha muita salsa em sua casa”.
É mesmo possível imaginar um mercado de compra e venda de esperma. Os bancos lutariam pela aquisição do sémen dos melhores dadores – ser dador, de resto, passaria a ser uma profissão, com indivíduos sentados em gabinetes dando o seu melhor para a constituição de activos dos vários bancos. A valorização em bolsa dependeria, naturalmente, da constituição desses activos e rapidamente se desenvolveria um mercado de futuros, que garantiria o ritmo de encomendas aos dadores para o futuro próximo.
Enfim… Eis o admirável mundo novo a que Sérgio Vitorino abriu as portas. Ou então não… Talvez esteja enganado. Vitorino muito provavelmente quereria nacionalizar a banca privada de esperma, tornando esse um princípio constitucional. Nesse caso, criar-se-ia um Ministério da Reprodução, que coordenaria a actividade dos PLRTDFRM (i.e., Postos Locais de Recolha, Tratamento e Distribuição do Fluxo Reprodutor Masculino)...
Mas essa é outra história que, afinal, não custa muito imaginar.
[Luciano Amaral]

Lendo distraidamente os jornais durante as férias, apreciei sobremaneira a moda da substituição do tradicional comício da rentrée (sempre acompanhado da bela sardinhada, tintol e magníficos recitais de executantes musicais como Quim Barreiros ou Rute Marlene) pelas escolas de verão. De entre as muitas que se fizeram, retive (perdoe-se-me a vaga insinuação sexual da palavra, mas faz sentido neste contexto) uma passagem da do Bloco de Esquerda (para os amigos, apenas “O Bloco”, e para os verdadeiramente íntimos, “O Bloco, Pá”). Ocorreu esse momento memorável, de acordo com o DN, quando Sérgio Vitorino sugeriu que “O Bloco, Pá” se batesse pela legalização dos bancos de esperma, para que qualquer mulher, independentemente da orientação sexual, pudesse aceder-lhes. Vitorino terá mesmo dito, ainda segundo o DN, que lá estaria de megafone em punho para o reclamar. Muito francamente, não sei se na circunstância o megafone será a coisa mais apropriada para empunhar, mas à parte isso é uma grande ideia.
Até já estou a ver a coisa: primeiro apareceria o Banco Filho do Espírito Santo, que rapidamente desenvolveria uma parceria com o famoso Semen Up Bank, de Londres (tendo como CEO o não menos célebre gestor Dick Hard). O lema da instituição seria: Connosco, Todo o Esperma é Sagrado. De resto, o banco não emitiria extractos bancários, mas antes jactos bancários. O principal anúncio televisivo poderia apresentar duas mulheres lésbicas que se encontram na rua, uma trazendo pela mão três saudáveis rapagões, enquanto a outra transportaria apenas um rapazola enfezado, de tez amarela e fundas olheiras. Diria esta para a primeira:
- Falaste com o teu banco?
- Não, falei com o teu.
Imprescindível para a solidez da instituição seria a sua capacidade para oferecer produtos diferenciados. Escolha de raça e sexo poderia estar à disposição em catálogos, a ser discutidos com o respectivo gestor de conta. Eis uma proposta para o anúncio sugerindo a aquisição de um filho negro. Sobre um fundo musical de batuques, a voz grave do apresentador diria: “Ponha um pouco de exotismo na sua vida. O mistério da mãe África nos olhos ternos do seu filho”. Para um filho das ilhas da América Central: com um fundo de música caribenha, a voz efusiva do apresentador diria, “Mundo Caribe! Ponha muita salsa em sua casa”.
É mesmo possível imaginar um mercado de compra e venda de esperma. Os bancos lutariam pela aquisição do sémen dos melhores dadores – ser dador, de resto, passaria a ser uma profissão, com indivíduos sentados em gabinetes dando o seu melhor para a constituição de activos dos vários bancos. A valorização em bolsa dependeria, naturalmente, da constituição desses activos e rapidamente se desenvolveria um mercado de futuros, que garantiria o ritmo de encomendas aos dadores para o futuro próximo.
Enfim… Eis o admirável mundo novo a que Sérgio Vitorino abriu as portas. Ou então não… Talvez esteja enganado. Vitorino muito provavelmente quereria nacionalizar a banca privada de esperma, tornando esse um princípio constitucional. Nesse caso, criar-se-ia um Ministério da Reprodução, que coordenaria a actividade dos PLRTDFRM (i.e., Postos Locais de Recolha, Tratamento e Distribuição do Fluxo Reprodutor Masculino)...
Mas essa é outra história que, afinal, não custa muito imaginar.
[Luciano Amaral]

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