O Acidental: Acabar com as juventudes partidárias não era um mau princípio

03-07-2011
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Para que servem as juventudes partidárias? Alguém é capaz de explicar?
Dizem-me que estas organizações são importantes para a reflexão e para o desenvolvimento de uma consciência política dos jovens, mas não vejo reflexão que não possa ser feita numa tertúlia de café, nem desenvolvimento de uma consciência política que não surja da vontade individual, nem sequer acção cívica que não possa ser feita em milhares de outras organizações como as academias, os escuteiros ou a Abraço. Acresce que existe algo de imoral em tentar doutrinar e politizar meninos de liceu. E, no entanto, o ridículo chega-nos pelo “elixir da juventude”. Regra geral, os estatutos das várias jotas prolongam miraculosamente o estado de mocidade até aos 30 anos. Trinta anos? Tenho amigos que aos trinta são casados, têm filhos, um crédito à habitação, certificados de aforro, um emprego há mais de seis anos, que votam há mais de doze anos. Alguns apresentam mesmo sinais de avançada calvície. Para os devidos efeitos é complicado imaginar a sua afinidade com assuntos “juvenis” quando, por exemplo, a sua relação com o ensino é como professores e não como alunos. Para que serve uma super-estrutura política desta dimensão? Para dominar outras super-estruturas políticas como são as associações de estudantes? Que benefícios para a sociedade e que benefícios para os próprios jovens? No tempo da outra senhora, a juventude em plena “doutrinação”, sempre se dedicava ao desporto e aos acampamentos. Agora, o único acampamento que existe é em sedes partidárias fumando cigarros enquanto se conspira contra o vizinho porque tem um gabinete maior. A própria lógica é triturada. Um político promissor não é o que melhor pensa o país, mas o que tem duzentos votos na sua concelhia para ganhar a distrital.
Não faço distinções entre esta e aquela. As organizações juvenis dos partidos são quase todas iguais nos métodos, mecanismos e funcionamentos. Talvez a JCP tenha uma vida interna mais calma (por variadíssimas razões, nenhuma delas benigna). Mas os princípios são exactamente os mesmos. Vão-se lendo notícias de cisões, discussões e mesmo desacatos policiais relacionados com o “saudável debate democrático” dos nossos jotinhas. Fechadas sobre si próprias em disputas de poder virtual, as juventudes partidárias tornam-se inevitavelmente numa escola de maus vícios, especializando os alunos no pior que existe na política: o partidarismo.
[Rodrigo Moita de Deus]
PS: Tenho muitos amigos que já passaram por juventudes partidárias ou ainda lá militam. Uns podem concordar com o que escrevi. Outros podem discordar. Mas espero que nenhum deles confunda uma crítica a um sistema com um ataque pessoal.

Para que servem as juventudes partidárias? Alguém é capaz de explicar?
Dizem-me que estas organizações são importantes para a reflexão e para o desenvolvimento de uma consciência política dos jovens, mas não vejo reflexão que não possa ser feita numa tertúlia de café, nem desenvolvimento de uma consciência política que não surja da vontade individual, nem sequer acção cívica que não possa ser feita em milhares de outras organizações como as academias, os escuteiros ou a Abraço. Acresce que existe algo de imoral em tentar doutrinar e politizar meninos de liceu. E, no entanto, o ridículo chega-nos pelo “elixir da juventude”. Regra geral, os estatutos das várias jotas prolongam miraculosamente o estado de mocidade até aos 30 anos. Trinta anos? Tenho amigos que aos trinta são casados, têm filhos, um crédito à habitação, certificados de aforro, um emprego há mais de seis anos, que votam há mais de doze anos. Alguns apresentam mesmo sinais de avançada calvície. Para os devidos efeitos é complicado imaginar a sua afinidade com assuntos “juvenis” quando, por exemplo, a sua relação com o ensino é como professores e não como alunos. Para que serve uma super-estrutura política desta dimensão? Para dominar outras super-estruturas políticas como são as associações de estudantes? Que benefícios para a sociedade e que benefícios para os próprios jovens? No tempo da outra senhora, a juventude em plena “doutrinação”, sempre se dedicava ao desporto e aos acampamentos. Agora, o único acampamento que existe é em sedes partidárias fumando cigarros enquanto se conspira contra o vizinho porque tem um gabinete maior. A própria lógica é triturada. Um político promissor não é o que melhor pensa o país, mas o que tem duzentos votos na sua concelhia para ganhar a distrital.
Não faço distinções entre esta e aquela. As organizações juvenis dos partidos são quase todas iguais nos métodos, mecanismos e funcionamentos. Talvez a JCP tenha uma vida interna mais calma (por variadíssimas razões, nenhuma delas benigna). Mas os princípios são exactamente os mesmos. Vão-se lendo notícias de cisões, discussões e mesmo desacatos policiais relacionados com o “saudável debate democrático” dos nossos jotinhas. Fechadas sobre si próprias em disputas de poder virtual, as juventudes partidárias tornam-se inevitavelmente numa escola de maus vícios, especializando os alunos no pior que existe na política: o partidarismo.
[Rodrigo Moita de Deus]
PS: Tenho muitos amigos que já passaram por juventudes partidárias ou ainda lá militam. Uns podem concordar com o que escrevi. Outros podem discordar. Mas espero que nenhum deles confunda uma crítica a um sistema com um ataque pessoal.

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