O Acidental: Ferro: o papagaio de Chirac

30-06-2011
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Em política externa, o dr. Ferro Rodrigues não resiste ao disparate. Primeiro, nomeou Ana Gomes como rosto do partido para as questões internacionais. Depois, durante a guerra do Iraque, rompeu um consenso interpartidário de 30 anos que privilegiou a relação transatlântica. Agora, segundo o "Diário de Notícias", brinda-nos com esta pérola: «Não admitimos que haja uma Europa europeia e uma Europa pró-senhor Bush».
Ferro não admite que haja governos europeus que possam pensar de forma diferente? Se Ferro não admite que “os outros” possam ter “posições diferentes”, é evidente que “os outros” não podem admitir que Portugal tenha "posições diferentes". Isto é, Ferro simplesmente “não admite” que Portugal seja um país soberano. Este “pensamento” deveria ser suficiente para exclui-lo da liderança do PS. Afinal, a Constituição da República afirma que o país é soberano e independente.
Mas a questão que se coloca é a seguinte: quem estabelece quais são “as posições” que uma “Europa europeia” deve assumir? O senhor Jacques Chirac? Recorde-se que a declaração de Ferro é um eco do célebre “aviso” que Chirac fez aos países de Leste quando declarou que “perderam uma boa oportunidade para estarem calados”. Ferro também perdeu uma boa oportunidade para estar calado. A sua afirmação é arrogante e reveladora de uma intolerância inaceitável relativamente aos parceiros europeus (é útil recordar que a esmagadora maioria dos países da União apoiaram a guerra do Iraque; que as posições de Ferro, Chirac e Schroeder é que foram minoritárias).
Ferro, no fundo, quer que seja o eixo franco-alemão a definir o interesse nacional português. Que sejam Schroeder e Chirac a determinar a política externa da Europa. Quer, muito simplesmente, uma Europa dominada por Paris e Berlim.
Uma última dúvida. Se Barroso é seguidista porque apoia os Estados Unidos, não será Ferro seguidista em relação a Chirac? Seguir a França só fica bem a um jacobino. Mas Ferro lidera um partido português que, tanto quanto se sabe, ainda defende o interesse nacional. [Vasco Rato]

Em política externa, o dr. Ferro Rodrigues não resiste ao disparate. Primeiro, nomeou Ana Gomes como rosto do partido para as questões internacionais. Depois, durante a guerra do Iraque, rompeu um consenso interpartidário de 30 anos que privilegiou a relação transatlântica. Agora, segundo o "Diário de Notícias", brinda-nos com esta pérola: «Não admitimos que haja uma Europa europeia e uma Europa pró-senhor Bush».
Ferro não admite que haja governos europeus que possam pensar de forma diferente? Se Ferro não admite que “os outros” possam ter “posições diferentes”, é evidente que “os outros” não podem admitir que Portugal tenha "posições diferentes". Isto é, Ferro simplesmente “não admite” que Portugal seja um país soberano. Este “pensamento” deveria ser suficiente para exclui-lo da liderança do PS. Afinal, a Constituição da República afirma que o país é soberano e independente.
Mas a questão que se coloca é a seguinte: quem estabelece quais são “as posições” que uma “Europa europeia” deve assumir? O senhor Jacques Chirac? Recorde-se que a declaração de Ferro é um eco do célebre “aviso” que Chirac fez aos países de Leste quando declarou que “perderam uma boa oportunidade para estarem calados”. Ferro também perdeu uma boa oportunidade para estar calado. A sua afirmação é arrogante e reveladora de uma intolerância inaceitável relativamente aos parceiros europeus (é útil recordar que a esmagadora maioria dos países da União apoiaram a guerra do Iraque; que as posições de Ferro, Chirac e Schroeder é que foram minoritárias).
Ferro, no fundo, quer que seja o eixo franco-alemão a definir o interesse nacional português. Que sejam Schroeder e Chirac a determinar a política externa da Europa. Quer, muito simplesmente, uma Europa dominada por Paris e Berlim.
Uma última dúvida. Se Barroso é seguidista porque apoia os Estados Unidos, não será Ferro seguidista em relação a Chirac? Seguir a França só fica bem a um jacobino. Mas Ferro lidera um partido português que, tanto quanto se sabe, ainda defende o interesse nacional. [Vasco Rato]

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