O Acidental: A obesidade insuportável do politicamente correcto

01-07-2011
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1. RTP 1: Portugal tem 4 milhões de obesos... Ah? Os bebés saudavelmente gordinhos também contam para esta contabilidade néscia? Mas está tudo louco? É que somos 10 milhões. Quem é que determina isto? Como é que se conta os gordos? E mesmo que existam 4 milhões de gordos? Qual é o problema? O facto de haver 4 milhões de gordos não é um problema de saúde pública. Estamos perante quatro milhões de problemas privados. Ou não: se a pessoa assim quiser, a sua redonda estrutura (estrutura pessoal e não pública) não é problema. Uma pessoa tem o direito a ser gorda. Como bem entender, no grau de obesidade que mais lhe agradar. Que porcaria de ditadura de “cintura vespa” é esta? Ou será que o “ser-se hipocondríaco” já é ideologia? Há uns anos, a ditadura do pensamento obrigava as pessoas a dizer - como se fosse um automatismo - “sim, sou marxista e vou ali fazer uma revolução”. Hoje, esta maldita ditadura da saúde - um fragmento da velha unidade esquerdista - obriga as pessoas a dizer “sim, sou hipocondríaco e vou ali chatear um gordo”. O Capital foi substituído pela balança e pelo guia de farmácias. Qualquer dia, proíbem – por decreto - os miúdos de comer. Qualquer dia, haverá por aí umas comissões de iluminados a trabalhar para uma qualquer entidade central, proibindo chocolate e afins nas escolas. E os bebés não vão poder ser gordinhos, tal como devem ser. Haverá leite dieta, papa dieta, mãe dieta. Tudo em nome de uma sociedade perfeita, feita de gente perfeita. Gente sem um pozinho de imperfeições. Gente pronta para entrar num desfile de "correntes de ar". Além disso, as imperfeições são altamente sensuais. Nunca gostei de correntes de ar.2. Haja juízo. Melhor: haja mais respeito. Um mundo de Kate Moss's fabricadas por decreto, além de ser uma seca, representa uma intolerável ditadura de sorriso no lábio. Começa a não haver pachorra para um politicamente correcto cada vez mais autoritário. E como todos os bons autoritários, esta ditadura da saúde afirma que está só a fazer o melhor para as pessoas. Como sempre, o autoritário bate à porta como o simpático vendedor de ilusões. 3. Agora, vou almoçar mal - segundo os padrões da Kate Moss ou da brigada hipocondríaca. Mas a minha alma fica satisfeita. Além disso, se algum dia conseguir vencer a morte não será às custas da minha gula.[Henrique Raposo]

1. RTP 1: Portugal tem 4 milhões de obesos... Ah? Os bebés saudavelmente gordinhos também contam para esta contabilidade néscia? Mas está tudo louco? É que somos 10 milhões. Quem é que determina isto? Como é que se conta os gordos? E mesmo que existam 4 milhões de gordos? Qual é o problema? O facto de haver 4 milhões de gordos não é um problema de saúde pública. Estamos perante quatro milhões de problemas privados. Ou não: se a pessoa assim quiser, a sua redonda estrutura (estrutura pessoal e não pública) não é problema. Uma pessoa tem o direito a ser gorda. Como bem entender, no grau de obesidade que mais lhe agradar. Que porcaria de ditadura de “cintura vespa” é esta? Ou será que o “ser-se hipocondríaco” já é ideologia? Há uns anos, a ditadura do pensamento obrigava as pessoas a dizer - como se fosse um automatismo - “sim, sou marxista e vou ali fazer uma revolução”. Hoje, esta maldita ditadura da saúde - um fragmento da velha unidade esquerdista - obriga as pessoas a dizer “sim, sou hipocondríaco e vou ali chatear um gordo”. O Capital foi substituído pela balança e pelo guia de farmácias. Qualquer dia, proíbem – por decreto - os miúdos de comer. Qualquer dia, haverá por aí umas comissões de iluminados a trabalhar para uma qualquer entidade central, proibindo chocolate e afins nas escolas. E os bebés não vão poder ser gordinhos, tal como devem ser. Haverá leite dieta, papa dieta, mãe dieta. Tudo em nome de uma sociedade perfeita, feita de gente perfeita. Gente sem um pozinho de imperfeições. Gente pronta para entrar num desfile de "correntes de ar". Além disso, as imperfeições são altamente sensuais. Nunca gostei de correntes de ar.2. Haja juízo. Melhor: haja mais respeito. Um mundo de Kate Moss's fabricadas por decreto, além de ser uma seca, representa uma intolerável ditadura de sorriso no lábio. Começa a não haver pachorra para um politicamente correcto cada vez mais autoritário. E como todos os bons autoritários, esta ditadura da saúde afirma que está só a fazer o melhor para as pessoas. Como sempre, o autoritário bate à porta como o simpático vendedor de ilusões. 3. Agora, vou almoçar mal - segundo os padrões da Kate Moss ou da brigada hipocondríaca. Mas a minha alma fica satisfeita. Além disso, se algum dia conseguir vencer a morte não será às custas da minha gula.[Henrique Raposo]

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