O Acidental: Não existe Povo. A arma do pobre é o Liberalismo

01-07-2011
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1. Ontem, no “Prós e Contras”, Helena Matos contou uma pequena mas perturbadora estória. Uma estória que ilustra, simbolicamente, o História actual de Portugal. Aqui fica: numa escola (ou numa região educativa) existiam 900 meninos deficientes. Uma comissão averiguou a situação e chegou à seguinte conclusão: apenas 70 desses meninos sofriam de efectivas deficiências. Então, por que razão havia tantos miúdos “artificialmente” deficientes? Resposta: os meninos deficientes têm explicações de borla… Ou seja, várias centenas de pais obrigam os seus filhos a “passarem-se” por deficientes para receberem explicações grátis. 2. Eis o pior do estado social. Em situações deste tipo, os portugueses têm a tendência para criticar apenas as pessoas. E estas pessoas devem ser, de facto, criticadas. Mas nunca se aborda a base da questão. Por que razão as pessoas fazem aquilo? Porque podem. Simples. Não há nenhuma explicação metafísica transcendente ou teluricamente portuguesa (a chico-espertice não é monopólio português). O estado social permite estas trafulhices. O estado social, como qualquer concepção utópica, parte de um pressuposto que não existe na História real. O pressuposto angelical é este: O Homem é bom e honesto. 3. Mas a coisa é mais grave do que isso. Quem defende o estado social não fala em homens; não fala em indivíduos. A sua maneira de ver o mundo é mais... monolítica. É uma cosmovisão que não suporta as impurezas do mundo real; não suporta o pó daquele mundo feito por homens, aqueles seres que insistem em não ganhar asas. Não. A sua mundividência tem ser pura, una, perfeita no papel. Daí usarem o velho e unificador termo Povo. Uma massa anónima que nunca ninguém definiu muito bem. E sabem porquê? Porque o dito Povo não existe na realidade. É uma ficção ideológica. Um produto que serve de cobaia para aqueles que julgam ter o Bem.4. Aqueles que usam o Bem são aqueles que cantam - encantados com a sua própria voz - a concepção optimista do Homem. Como se fossem santos na protecção de um rebanho inocente. Aqui, o Povo, o dito rebanho, tem de ser protegido dos homens maus – aqueles que não querem estar cobertos pela lã lamacenta da utopia. Na História, a Teoria optimista serve de legitimação para projectos centralistas, que, claro, são sempre liderados por uma elite, os iluminados, os filósofos-reis, aqueles que zelam pelo cumprimento do Bem. O Bem, o Optimismo, a Irmandade originam isto: alguns a dominarem os restantes em completo regime de impunidade. 5. E quando algo corre mal? Quando o Bem não funciona? Ora, a culpa nunca é do sistema, mas sim das pessoas que não o compreendem. Pois, é precisamente o inverso: aqueles que construíram o sistema é que nunca compreenderam os homens, logo à partida. Vivem viciados numa concepção de Homem, a sua. O Diogo B. Henriques, certa vez, colocou aqui um cartoon que resume na perfeição esta forma de estar. O cartoon visava a “Não” francês. No edifício da U.E., dois homens olhavam para baixo. Um diz: “nós até gostamos da Europa, não gostamos é destes europeus” (ou qualquer coisa assim).6. Mais: a Justiça colectiva transforma-se em injustiça para o indivíduo. A dita moral do Bem colectivo transforma-se em amoral ao nível individual. Lá de cima, nas colinas da Utopia, nada se passa. Tudo parece que corre bem. O utópico só se vê a floresta. O utópico nunca desce da colina para averiguar o estado de cada árvore.7. Nasci pobre. Até prova em contrário – pode ser que o meu cão descubra petróleo no quintal – serei apenas remediado. Sou uma das árvores que rejeita ser tratado como mera engrenagem de uma floresta mecânica e amoral. E digo para quem quiser ouvir: a arma do pobre é o Liberalismo. Porque não há Povo, mas milhões de indivíduos pobres que querem apenas uma coisa: mostrar o que valem numa sociedade que não seja aristocrática. O estado social criou uma rede de privilegiados dirigidos por elites de ferro. O estado social é outro ancien regime que será derrubado, mais cedo ou mais tarde, a bem (mudamos a tempo) ou a mal (esbarramos na parede e… floresta incendeia-se), pelo liberalismo. Indivíduos de Portugal, uni-vos. [Henrique Raposo]

1. Ontem, no “Prós e Contras”, Helena Matos contou uma pequena mas perturbadora estória. Uma estória que ilustra, simbolicamente, o História actual de Portugal. Aqui fica: numa escola (ou numa região educativa) existiam 900 meninos deficientes. Uma comissão averiguou a situação e chegou à seguinte conclusão: apenas 70 desses meninos sofriam de efectivas deficiências. Então, por que razão havia tantos miúdos “artificialmente” deficientes? Resposta: os meninos deficientes têm explicações de borla… Ou seja, várias centenas de pais obrigam os seus filhos a “passarem-se” por deficientes para receberem explicações grátis. 2. Eis o pior do estado social. Em situações deste tipo, os portugueses têm a tendência para criticar apenas as pessoas. E estas pessoas devem ser, de facto, criticadas. Mas nunca se aborda a base da questão. Por que razão as pessoas fazem aquilo? Porque podem. Simples. Não há nenhuma explicação metafísica transcendente ou teluricamente portuguesa (a chico-espertice não é monopólio português). O estado social permite estas trafulhices. O estado social, como qualquer concepção utópica, parte de um pressuposto que não existe na História real. O pressuposto angelical é este: O Homem é bom e honesto. 3. Mas a coisa é mais grave do que isso. Quem defende o estado social não fala em homens; não fala em indivíduos. A sua maneira de ver o mundo é mais... monolítica. É uma cosmovisão que não suporta as impurezas do mundo real; não suporta o pó daquele mundo feito por homens, aqueles seres que insistem em não ganhar asas. Não. A sua mundividência tem ser pura, una, perfeita no papel. Daí usarem o velho e unificador termo Povo. Uma massa anónima que nunca ninguém definiu muito bem. E sabem porquê? Porque o dito Povo não existe na realidade. É uma ficção ideológica. Um produto que serve de cobaia para aqueles que julgam ter o Bem.4. Aqueles que usam o Bem são aqueles que cantam - encantados com a sua própria voz - a concepção optimista do Homem. Como se fossem santos na protecção de um rebanho inocente. Aqui, o Povo, o dito rebanho, tem de ser protegido dos homens maus – aqueles que não querem estar cobertos pela lã lamacenta da utopia. Na História, a Teoria optimista serve de legitimação para projectos centralistas, que, claro, são sempre liderados por uma elite, os iluminados, os filósofos-reis, aqueles que zelam pelo cumprimento do Bem. O Bem, o Optimismo, a Irmandade originam isto: alguns a dominarem os restantes em completo regime de impunidade. 5. E quando algo corre mal? Quando o Bem não funciona? Ora, a culpa nunca é do sistema, mas sim das pessoas que não o compreendem. Pois, é precisamente o inverso: aqueles que construíram o sistema é que nunca compreenderam os homens, logo à partida. Vivem viciados numa concepção de Homem, a sua. O Diogo B. Henriques, certa vez, colocou aqui um cartoon que resume na perfeição esta forma de estar. O cartoon visava a “Não” francês. No edifício da U.E., dois homens olhavam para baixo. Um diz: “nós até gostamos da Europa, não gostamos é destes europeus” (ou qualquer coisa assim).6. Mais: a Justiça colectiva transforma-se em injustiça para o indivíduo. A dita moral do Bem colectivo transforma-se em amoral ao nível individual. Lá de cima, nas colinas da Utopia, nada se passa. Tudo parece que corre bem. O utópico só se vê a floresta. O utópico nunca desce da colina para averiguar o estado de cada árvore.7. Nasci pobre. Até prova em contrário – pode ser que o meu cão descubra petróleo no quintal – serei apenas remediado. Sou uma das árvores que rejeita ser tratado como mera engrenagem de uma floresta mecânica e amoral. E digo para quem quiser ouvir: a arma do pobre é o Liberalismo. Porque não há Povo, mas milhões de indivíduos pobres que querem apenas uma coisa: mostrar o que valem numa sociedade que não seja aristocrática. O estado social criou uma rede de privilegiados dirigidos por elites de ferro. O estado social é outro ancien regime que será derrubado, mais cedo ou mais tarde, a bem (mudamos a tempo) ou a mal (esbarramos na parede e… floresta incendeia-se), pelo liberalismo. Indivíduos de Portugal, uni-vos. [Henrique Raposo]

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