O Acidental: Old Skool II

01-07-2011
marcar artigo

Em Inglaterra, pais, empresas e grupos religiosos vão poder gerir as escolas públicas. Por proposta do Partido Trabalhista. Isto é a confissão do fracasso de uma geração de "educadores" (em Portugal, gente como Veiga Simão, Roberto Carneiro, Marçal Grilo e por aí fora). Em primeiro lugar, o ensino do Estado, de que se esperava a famosa "igualdade de oportunidades", é uma terrível fonte de desigualdade: as escolas são melhores ou piores, conforme os bairros são ricos ou são pobres. Em segundo lugar, a qualidade média do ensino desceu de tal maneira que ir ou não ir à escola se começa a tornar indiferente. Para salvar a Inglaterra da iliteracia (ou mesmo da "idiotia funcional"), Tony Blair tem agora de reinventar uma espécie de ensino "privado".Quando os governos ou os partidos portugueses nos buzinam aos ouvidos que a educação (ou a "formação") nos vai salvar e nos propõem mais uma reforma para finalmente melhorar as escolas, seria bom que nos lembrássemos do erro histórico que hoje está à vista. A reforma de Blair (com oposição de metade do Labour e apoio substancal dos Tories) é uma reforma beneficamente progressista. Pode ser, como diz Vasco Pulido Valente ali em cima, uma fuga para a frente resultante da confissão do fracasso, mas são assim que se descobrem os grandes remédios.Em Portugal, a reforma necessária, para já, é uma reforma reaccionária. A escola pública portuguesa é um espaço que varia alegremente entre o inócuo e o pernicioso. Quer ensinar o que não pode, o que não consegue e o que não deve. Desdenha crescentemente das línguas estrangeiras, da História, da Filosofia, da Literatura, enquanto aposta em ideias alegadamente salvíficas como a "educação sexual" e a "educação para a cidadania" (esta tresanda tanto a Manuel Alegre que até provoca náuseas). A escola pública portuguesa (é a que eu conheço) desitiu de promover os conhecimentos estruturantes de qualquer intelecto (um mínimo denominador comum a partir do qual se constrói a liberdade de qualquer um) e optou por um modelo maximalista, normalizador e - sim - totalitário. Em Portugal, não se quer preparar para a vida; quer-se condicionar a vida. E, nesta vertigem igualitária, acabou, igualmente, por destruir qualquer noção de autoridade. Os alunos estão representados em tudo, são escutados para tudo, decidem tudo e não obedecem a nada.Para concluir o que disse aqui, a reforma necessária é a que recupere a centralidade das matérias clássicas nos curricula e a autoridade dos professores. Só assim estes demonstrarão o brio profissional que a Ministra reclama. Como está, a escola pública portuguesa é tudo menos recomendável. Quanto menos tempo a criançada lá passar, melhor. E a falta de um professor é uma bênção para todos nós[FMS]

Em Inglaterra, pais, empresas e grupos religiosos vão poder gerir as escolas públicas. Por proposta do Partido Trabalhista. Isto é a confissão do fracasso de uma geração de "educadores" (em Portugal, gente como Veiga Simão, Roberto Carneiro, Marçal Grilo e por aí fora). Em primeiro lugar, o ensino do Estado, de que se esperava a famosa "igualdade de oportunidades", é uma terrível fonte de desigualdade: as escolas são melhores ou piores, conforme os bairros são ricos ou são pobres. Em segundo lugar, a qualidade média do ensino desceu de tal maneira que ir ou não ir à escola se começa a tornar indiferente. Para salvar a Inglaterra da iliteracia (ou mesmo da "idiotia funcional"), Tony Blair tem agora de reinventar uma espécie de ensino "privado".Quando os governos ou os partidos portugueses nos buzinam aos ouvidos que a educação (ou a "formação") nos vai salvar e nos propõem mais uma reforma para finalmente melhorar as escolas, seria bom que nos lembrássemos do erro histórico que hoje está à vista. A reforma de Blair (com oposição de metade do Labour e apoio substancal dos Tories) é uma reforma beneficamente progressista. Pode ser, como diz Vasco Pulido Valente ali em cima, uma fuga para a frente resultante da confissão do fracasso, mas são assim que se descobrem os grandes remédios.Em Portugal, a reforma necessária, para já, é uma reforma reaccionária. A escola pública portuguesa é um espaço que varia alegremente entre o inócuo e o pernicioso. Quer ensinar o que não pode, o que não consegue e o que não deve. Desdenha crescentemente das línguas estrangeiras, da História, da Filosofia, da Literatura, enquanto aposta em ideias alegadamente salvíficas como a "educação sexual" e a "educação para a cidadania" (esta tresanda tanto a Manuel Alegre que até provoca náuseas). A escola pública portuguesa (é a que eu conheço) desitiu de promover os conhecimentos estruturantes de qualquer intelecto (um mínimo denominador comum a partir do qual se constrói a liberdade de qualquer um) e optou por um modelo maximalista, normalizador e - sim - totalitário. Em Portugal, não se quer preparar para a vida; quer-se condicionar a vida. E, nesta vertigem igualitária, acabou, igualmente, por destruir qualquer noção de autoridade. Os alunos estão representados em tudo, são escutados para tudo, decidem tudo e não obedecem a nada.Para concluir o que disse aqui, a reforma necessária é a que recupere a centralidade das matérias clássicas nos curricula e a autoridade dos professores. Só assim estes demonstrarão o brio profissional que a Ministra reclama. Como está, a escola pública portuguesa é tudo menos recomendável. Quanto menos tempo a criançada lá passar, melhor. E a falta de um professor é uma bênção para todos nós[FMS]

marcar artigo