O Acidental: Paulo Portas e a Fundação

01-07-2011
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Em 1964, os republicanos levaram a maior coça eleitoral da sua história. Barry Goldwater foi massacrado (e ainda bem). Aí, as direitas americanas perceberam o seguinte: era preciso criar um movimento de ideias. Não bastava gritar emoções. Havia necessidade de ideias e argumentos (Marx e Aristóteles têm uma coisa em comum: "não há acção sem ideias"; As ideias estão a montante de qualquer acção política, moral, estética).As faculdades americanas continuaram (e continuam dominadas pelos "liberais - 7 para 1), mas deu-se a explosão dos "think thanks". E esses centros de estudos (para áreas específicas e teóricas) constituíram a retaguarda ideológica do movimento conservador que, finalmente, conseguiu equilibrar as coisas na América. Hoje, a América é "50-50".Aparentemente, Paulo Portas, além de ser um político competente e profissional, também conhece as lições da História recente. Depois da maior derrota eleitoral da direita portuguesa, Portas percebeu o seguinte: é preciso criar um movimento de ideias conservadoras-liberais em Portugal.O semanário "O Independente" fala do possível apoio do Hoover Institute na formação de um "think tank" em Portugal. Brilhante. O Hoover tem a melhor revista conservadora da América: "Policy Review". Por que razão é a melhor?Porque é uma espécie de plataforma das várias escolas conservadoras (liberais clássicos, tradicionalistas, libertários, neocons, etc - sim, meus caros, o mundo conservador é plural e não monolítico). Vejam: http://www.policyreview.org.São precisas mais revistas como a "Atlântico". É preciso um jornal diário conservador-liberal. E, acima de tudo, é preciso uma editora. É preciso traduzir os clássicos e os autores contemporâneos (não há Burke, Oakeshott, Berkowitz, etc.). Quando entro na Fnac só vejo os Chomsky. Não tenho nada contra o linguista (ele é apenas isso: um linguista). Mas gostava de ver ao lado do Chomsky autores como Huntington, Berkowitz, etc. É mais fácil encontrar as "Reflexões" do Burke num dialecto aborígene do que em português.Mais: é preciso um combate cultural. Mostrar às pessoas que o "sublime" foi entendido por Burke e destruído pelos pós-modernos. É preciso gritar: "não, arte e cultura não são património das esquerdas". Iniciativas? Exemplo: É preciso colocar Lisboa no mapa das exposições dos pintores clássicos. Isto, meus caros, também é fazer política. Quem não entende isto, percebe tanto de política como um esquimó percebe de bronzeadores.As esquerdas radicais vão gritar. Deixem-nas gritar. Temos de deixar de dar tanta atenção àquilo que as esquerdas radicais dizem. Temos de saber dialogar (e, assim, dar mais visibilidade) a uma outra esquerda, que, por acaso, também começa a surgir em força: a esquerda liberal. Homens como António Barreto, Severiano Teixeira, Costa Pinto, etc., até podem não concordar com a "substância" desta fundação (ainda bem que o fazem - qualquer país precisa de uma grande esquerda liberal. Não há país civilizado sem uma grande esquerda liberal), mas apoiarão a "forma", a iniciativa. Têm Walzer, Ignatieff, Rawls em mente, ou seja, são tão pluralistas como nós. Sabem que uma democracia liberal vive do pluralismo.Por tudo isto e mais alguma coisa, acolho com grande alegria esta notícia. Mas, se tudo isto não acontecer, se Paulo Poartas não conseguir formar a fundação, se tudo isto for só um sonho, então, meus caros, faço eu a bendita fundação. Das duas, uma: (1) arrumarei carros durante uma década ou;(2) comprarei um barraco no meio do deserto arábico. Com a picareta que levarei de Lisboa, abrirei um poço de petróleo nessa tenda arábica. Voltarei cheio de petro-dólares. Data? Talvez em 2050. Mas até lá, as pessoas que têm mesmo dinheiro não poderiam dar uma ajudinha? Ouvi dizer que mecenato cultural é dedutível nos impostos?[Henrique Raposo]

Em 1964, os republicanos levaram a maior coça eleitoral da sua história. Barry Goldwater foi massacrado (e ainda bem). Aí, as direitas americanas perceberam o seguinte: era preciso criar um movimento de ideias. Não bastava gritar emoções. Havia necessidade de ideias e argumentos (Marx e Aristóteles têm uma coisa em comum: "não há acção sem ideias"; As ideias estão a montante de qualquer acção política, moral, estética).As faculdades americanas continuaram (e continuam dominadas pelos "liberais - 7 para 1), mas deu-se a explosão dos "think thanks". E esses centros de estudos (para áreas específicas e teóricas) constituíram a retaguarda ideológica do movimento conservador que, finalmente, conseguiu equilibrar as coisas na América. Hoje, a América é "50-50".Aparentemente, Paulo Portas, além de ser um político competente e profissional, também conhece as lições da História recente. Depois da maior derrota eleitoral da direita portuguesa, Portas percebeu o seguinte: é preciso criar um movimento de ideias conservadoras-liberais em Portugal.O semanário "O Independente" fala do possível apoio do Hoover Institute na formação de um "think tank" em Portugal. Brilhante. O Hoover tem a melhor revista conservadora da América: "Policy Review". Por que razão é a melhor?Porque é uma espécie de plataforma das várias escolas conservadoras (liberais clássicos, tradicionalistas, libertários, neocons, etc - sim, meus caros, o mundo conservador é plural e não monolítico). Vejam: http://www.policyreview.org.São precisas mais revistas como a "Atlântico". É preciso um jornal diário conservador-liberal. E, acima de tudo, é preciso uma editora. É preciso traduzir os clássicos e os autores contemporâneos (não há Burke, Oakeshott, Berkowitz, etc.). Quando entro na Fnac só vejo os Chomsky. Não tenho nada contra o linguista (ele é apenas isso: um linguista). Mas gostava de ver ao lado do Chomsky autores como Huntington, Berkowitz, etc. É mais fácil encontrar as "Reflexões" do Burke num dialecto aborígene do que em português.Mais: é preciso um combate cultural. Mostrar às pessoas que o "sublime" foi entendido por Burke e destruído pelos pós-modernos. É preciso gritar: "não, arte e cultura não são património das esquerdas". Iniciativas? Exemplo: É preciso colocar Lisboa no mapa das exposições dos pintores clássicos. Isto, meus caros, também é fazer política. Quem não entende isto, percebe tanto de política como um esquimó percebe de bronzeadores.As esquerdas radicais vão gritar. Deixem-nas gritar. Temos de deixar de dar tanta atenção àquilo que as esquerdas radicais dizem. Temos de saber dialogar (e, assim, dar mais visibilidade) a uma outra esquerda, que, por acaso, também começa a surgir em força: a esquerda liberal. Homens como António Barreto, Severiano Teixeira, Costa Pinto, etc., até podem não concordar com a "substância" desta fundação (ainda bem que o fazem - qualquer país precisa de uma grande esquerda liberal. Não há país civilizado sem uma grande esquerda liberal), mas apoiarão a "forma", a iniciativa. Têm Walzer, Ignatieff, Rawls em mente, ou seja, são tão pluralistas como nós. Sabem que uma democracia liberal vive do pluralismo.Por tudo isto e mais alguma coisa, acolho com grande alegria esta notícia. Mas, se tudo isto não acontecer, se Paulo Poartas não conseguir formar a fundação, se tudo isto for só um sonho, então, meus caros, faço eu a bendita fundação. Das duas, uma: (1) arrumarei carros durante uma década ou;(2) comprarei um barraco no meio do deserto arábico. Com a picareta que levarei de Lisboa, abrirei um poço de petróleo nessa tenda arábica. Voltarei cheio de petro-dólares. Data? Talvez em 2050. Mas até lá, as pessoas que têm mesmo dinheiro não poderiam dar uma ajudinha? Ouvi dizer que mecenato cultural é dedutível nos impostos?[Henrique Raposo]

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