O Acidental: Hayek não inventou a roda e muito menos a globalização

29-01-2012
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Caro Rodrido A. F,1.O que é mais confrangedor nem sequer é a sua fragilidade de argumentação. O que é mesmo confrangedor é o seu tom. Aquele tom esganiçado que normalmente acompanha a insegurança. V. grita mas não argumenta. Argumentar não é afirmar. V. faz uma coisa muito esquerdista: “Machismo Intelectual”, isto é, V. diz “eu é que sou o presidente junta”. V. grita "Tremenda asneira”, “é evidente”, etc. Sabe quem é que faz isto? O amigo Chomsky. V. usa a grelha autoritária de quem acha que tem a ciência ou a fé nas suas costas: o certo ou errado; sim e não. Meu caro, isto não só é pouco liberal, como é pouco inteligente. Mais: V. usa uma velha táctica esquerdista: ataca o interlocutor e não o argumento. Diz que há desconhecimento da escola X. Já o disse: muitas vezes, a questão não é de falta de conhecimento, mas de tentativa de dar mais sofisticação à coisa. Sabe? Sair do dogma. Ler coisas e aplicar essas coisas ao que já se sabe. V. precisa de sair dos seus dogmas. V. faz-me lembrar os marxistas que recusavam ler Aron com o medo de perderem a fé.2.Mas V. sabe o que se passa na política internacional? Sabe o que é dito na Ásia? Nos centros de estudo? Sabe ao menos o que dizem os políticos asiáticos? Se V. soubesse, perceberia que essa visão do declínio do estado é um mito. E um mito europeu. Aqui, meu caro, V. não é muito diferente do neo-qualquer coisa Negri e dos ortodoxos do federalismo europeu. Julgam que o Estado está a acabar, quando o Estado nunca esteve tão forte. E, como liberal, V. deveria perceber que o “Estado”, ao longo de toda a globalização, está a deixar de ser o Nation-State para passar a ser o Market-State (Bobbitt: sim, há vida além de Hayek), isto é, o Estado gerido por princípios liberais e não por princípios nacionalistas será o centro da política deste início do XXI. São estes Estados “liberais” que constituem o enfoque da estratégia americana para suster a globalização. Daí a aliança com a Índia, por exemplo; daí a normalização da situação estratégica do Japão, etc. A globalização não é auto-sustentada. Não há mil pontos de poder (V. não leu bem). A globalização estará de pé enquanto os estados que a sustentam tiverem capacidade para isso. Leia a história do Império Britânico e da primeira globalização. Para perceber o seguinte: quando o suporte político baixou a guarda (Império Britânico), a 1ª globalização terminou. Meu caro, a integração económica e tecnologia não é equivalente à integração política. Se V. pensa assim, então, está a cometer o erro clássico da modernidade de esquerda. Pior: está a cometer o erro do fim de história cometido pelos liberais no início do século XX. Há muita História antes de Hayek.3. O Estado não é importante? Mas em que mundo V vive? Começo a desconfiar que V. é um esquerdista com uma concepção cor-de-rosa sobre o Homem. Convinha abrir os horizontes. Convinha estar mesmo atento à globalização e não fazer dela uma imagem preconcebida. Também começo a desconfiar que V. não gosta da política da democracia constitucional que só pode existir dentro do Estado. Começo a desconfiar que, para V., o mundo perfeito não tinha política da democracia liberal. Começo a desconfiar que V. só é liberal no que toca ao dinheiro. Vou contar-lhe um segredo (mas não conte a ninguém): ser-se capitalista não é sinónimo de ser-se liberal. É preciso mais qualquer coisa.4. O que é ainda mais curioso é que V. usa para o Estado a grelha esquerdista ou nacionalista. Ou seja, V. parte do pressuposto que o Estado quer ser sempre todo-o-poderoso. Ora, do ponto de vista de um Estado à Rousseau, a globalização, sim, fragiliza esse Estado. Mas do ponto de vista de um estado liberal, a globalização fortalece esse mesmo Estado. Aliás, a globalização é feita por estados liberais. A globalização é o sucesso dos estados liberais, com os EUA à cabeça. A crise europeia é a crise de um modelo de estado (nation-state) e não do estado como conceito e prática política. 5. Lamento, mas o meu amigo chumbava em qualquer aula de história ou de política internacional. Sabe, Hayek não explica tudo. Eu percebo o fascínio pelos autores quando eles são novos na nossa cabeça. Mas começo a desconfiar que V. só leu Hayek. E parece que, para Sua Excelência, Hayek é sagrado. Hoje, para perceber a globalização, convinha ler Wolf, Zakaria, Wooldridge, etc. Convinha passar os olhos pelo Economist ou assim. É que estes autores ainda estão vivos. Sabem mais sobre isto do que Hayek. Ou acha que Hayek, como Marx, deixou uma verdade eterna aos seus descendentes? Com tanto dogmatismo da sua parte, as pessoas que não conhecem Hayek nunca irão pegar em livros de Hayek.6. Questione-se mais vezes. Não afirme tanto. Deixe isso para a Esquerda.[Henrique Raposo]

Caro Rodrido A. F,1.O que é mais confrangedor nem sequer é a sua fragilidade de argumentação. O que é mesmo confrangedor é o seu tom. Aquele tom esganiçado que normalmente acompanha a insegurança. V. grita mas não argumenta. Argumentar não é afirmar. V. faz uma coisa muito esquerdista: “Machismo Intelectual”, isto é, V. diz “eu é que sou o presidente junta”. V. grita "Tremenda asneira”, “é evidente”, etc. Sabe quem é que faz isto? O amigo Chomsky. V. usa a grelha autoritária de quem acha que tem a ciência ou a fé nas suas costas: o certo ou errado; sim e não. Meu caro, isto não só é pouco liberal, como é pouco inteligente. Mais: V. usa uma velha táctica esquerdista: ataca o interlocutor e não o argumento. Diz que há desconhecimento da escola X. Já o disse: muitas vezes, a questão não é de falta de conhecimento, mas de tentativa de dar mais sofisticação à coisa. Sabe? Sair do dogma. Ler coisas e aplicar essas coisas ao que já se sabe. V. precisa de sair dos seus dogmas. V. faz-me lembrar os marxistas que recusavam ler Aron com o medo de perderem a fé.2.Mas V. sabe o que se passa na política internacional? Sabe o que é dito na Ásia? Nos centros de estudo? Sabe ao menos o que dizem os políticos asiáticos? Se V. soubesse, perceberia que essa visão do declínio do estado é um mito. E um mito europeu. Aqui, meu caro, V. não é muito diferente do neo-qualquer coisa Negri e dos ortodoxos do federalismo europeu. Julgam que o Estado está a acabar, quando o Estado nunca esteve tão forte. E, como liberal, V. deveria perceber que o “Estado”, ao longo de toda a globalização, está a deixar de ser o Nation-State para passar a ser o Market-State (Bobbitt: sim, há vida além de Hayek), isto é, o Estado gerido por princípios liberais e não por princípios nacionalistas será o centro da política deste início do XXI. São estes Estados “liberais” que constituem o enfoque da estratégia americana para suster a globalização. Daí a aliança com a Índia, por exemplo; daí a normalização da situação estratégica do Japão, etc. A globalização não é auto-sustentada. Não há mil pontos de poder (V. não leu bem). A globalização estará de pé enquanto os estados que a sustentam tiverem capacidade para isso. Leia a história do Império Britânico e da primeira globalização. Para perceber o seguinte: quando o suporte político baixou a guarda (Império Britânico), a 1ª globalização terminou. Meu caro, a integração económica e tecnologia não é equivalente à integração política. Se V. pensa assim, então, está a cometer o erro clássico da modernidade de esquerda. Pior: está a cometer o erro do fim de história cometido pelos liberais no início do século XX. Há muita História antes de Hayek.3. O Estado não é importante? Mas em que mundo V vive? Começo a desconfiar que V. é um esquerdista com uma concepção cor-de-rosa sobre o Homem. Convinha abrir os horizontes. Convinha estar mesmo atento à globalização e não fazer dela uma imagem preconcebida. Também começo a desconfiar que V. não gosta da política da democracia constitucional que só pode existir dentro do Estado. Começo a desconfiar que, para V., o mundo perfeito não tinha política da democracia liberal. Começo a desconfiar que V. só é liberal no que toca ao dinheiro. Vou contar-lhe um segredo (mas não conte a ninguém): ser-se capitalista não é sinónimo de ser-se liberal. É preciso mais qualquer coisa.4. O que é ainda mais curioso é que V. usa para o Estado a grelha esquerdista ou nacionalista. Ou seja, V. parte do pressuposto que o Estado quer ser sempre todo-o-poderoso. Ora, do ponto de vista de um Estado à Rousseau, a globalização, sim, fragiliza esse Estado. Mas do ponto de vista de um estado liberal, a globalização fortalece esse mesmo Estado. Aliás, a globalização é feita por estados liberais. A globalização é o sucesso dos estados liberais, com os EUA à cabeça. A crise europeia é a crise de um modelo de estado (nation-state) e não do estado como conceito e prática política. 5. Lamento, mas o meu amigo chumbava em qualquer aula de história ou de política internacional. Sabe, Hayek não explica tudo. Eu percebo o fascínio pelos autores quando eles são novos na nossa cabeça. Mas começo a desconfiar que V. só leu Hayek. E parece que, para Sua Excelência, Hayek é sagrado. Hoje, para perceber a globalização, convinha ler Wolf, Zakaria, Wooldridge, etc. Convinha passar os olhos pelo Economist ou assim. É que estes autores ainda estão vivos. Sabem mais sobre isto do que Hayek. Ou acha que Hayek, como Marx, deixou uma verdade eterna aos seus descendentes? Com tanto dogmatismo da sua parte, as pessoas que não conhecem Hayek nunca irão pegar em livros de Hayek.6. Questione-se mais vezes. Não afirme tanto. Deixe isso para a Esquerda.[Henrique Raposo]

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