O Acidental: The rain in Spain falls mainly in the plain

02-07-2011
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Chamem-me optimista mas depois dos brócolos do corte inglês, dos sapatos prada e de outros apetites mais aburguesados vejo na f. uma betinha de enorme potencial. Sim. É verdade que a f. defende o casamento dos homossexuais, a igualdade entre todos os Homens a solidariedade para com os miseráveis e sabe Deus quantas mais causas perdidas e birras de minorias. Exige trabalho, mas é possível, garanto-vos. Faria da f. uma tiazorra de impressionar cortes e fidalgos.Duas semanas e começava com a terminologia. Na mesma caixa arrumava a “empregada doméstica”, os “lábios”, os “cortinados”, o “vermelho” e a “carpete”. Entre vocabulário próprio de uma senhora, ensaiava-lhe o solfejo com a frase “odeio pobres”, repetida à exaustão até que o resultado fosse melodia em Estoril puro.E por falar em linguagem, ainda antes de sair de casa, avultava-lhe a elegância nos gestos e no andar para inveja das invejosas duquesas de Palermo. Num final de tarde quente perguntar-lhe-ia: a menina dança? Valsa, porque obrigatório, mambo porque divertido, tarrachinha, porque ainda mais divertido. f feita Salomé com este desditoso ceifando cabeças por caprichos dela. Compreendam que tamanha expectativa me deixe com arritmia.Só depois a decoração. Um banho de loja e outro de iodo para ganhar uma corzinha. Qual Gucci, Prada ou Chanel. Tudo isso já foi coisa na década de oitenta. George Rech, para soirées, Buckles, mais arrojada e Fendi em assessórios. Entretinha a minha Barbie com vestidos e vestidinhos. Entretinha-me de Ken garantindo-lhe ocasião para os usar a todos.Dar mundo. Dar Proust pelo jantar à minha odalisca ao som de Albinoni. Dar conta das bravatas dos antigos nas areias das arenas e daquelas nas costas de África. Dar Óscar Wilde, furtivo, entre dois, sob o luar de Marraquexe. Dar aconchego no frio de um nascer do sol numa varanda do George V e uma estreia de tiara Swarovski no metropolitan. Finda a encenação sussurrar-lhe-ia ternurento ao ouvido: “chama-me Escamillo”.Da nativa festa de branco ali no T ao baile de gala na eterna Viena. A minha odalisca, já diplomada nas artes de salão, verdadeira betinha de jet e ligeiramente entediada do melhor que a vida consegue oferecer, cumularia êxitos com feminis protestos a este “horrível mundo de mendicantes, suburbanos e debochados sexuais”.[Rodrigo Moita de Deus]

Chamem-me optimista mas depois dos brócolos do corte inglês, dos sapatos prada e de outros apetites mais aburguesados vejo na f. uma betinha de enorme potencial. Sim. É verdade que a f. defende o casamento dos homossexuais, a igualdade entre todos os Homens a solidariedade para com os miseráveis e sabe Deus quantas mais causas perdidas e birras de minorias. Exige trabalho, mas é possível, garanto-vos. Faria da f. uma tiazorra de impressionar cortes e fidalgos.Duas semanas e começava com a terminologia. Na mesma caixa arrumava a “empregada doméstica”, os “lábios”, os “cortinados”, o “vermelho” e a “carpete”. Entre vocabulário próprio de uma senhora, ensaiava-lhe o solfejo com a frase “odeio pobres”, repetida à exaustão até que o resultado fosse melodia em Estoril puro.E por falar em linguagem, ainda antes de sair de casa, avultava-lhe a elegância nos gestos e no andar para inveja das invejosas duquesas de Palermo. Num final de tarde quente perguntar-lhe-ia: a menina dança? Valsa, porque obrigatório, mambo porque divertido, tarrachinha, porque ainda mais divertido. f feita Salomé com este desditoso ceifando cabeças por caprichos dela. Compreendam que tamanha expectativa me deixe com arritmia.Só depois a decoração. Um banho de loja e outro de iodo para ganhar uma corzinha. Qual Gucci, Prada ou Chanel. Tudo isso já foi coisa na década de oitenta. George Rech, para soirées, Buckles, mais arrojada e Fendi em assessórios. Entretinha a minha Barbie com vestidos e vestidinhos. Entretinha-me de Ken garantindo-lhe ocasião para os usar a todos.Dar mundo. Dar Proust pelo jantar à minha odalisca ao som de Albinoni. Dar conta das bravatas dos antigos nas areias das arenas e daquelas nas costas de África. Dar Óscar Wilde, furtivo, entre dois, sob o luar de Marraquexe. Dar aconchego no frio de um nascer do sol numa varanda do George V e uma estreia de tiara Swarovski no metropolitan. Finda a encenação sussurrar-lhe-ia ternurento ao ouvido: “chama-me Escamillo”.Da nativa festa de branco ali no T ao baile de gala na eterna Viena. A minha odalisca, já diplomada nas artes de salão, verdadeira betinha de jet e ligeiramente entediada do melhor que a vida consegue oferecer, cumularia êxitos com feminis protestos a este “horrível mundo de mendicantes, suburbanos e debochados sexuais”.[Rodrigo Moita de Deus]

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