O Acidental: Agora muito a sério

30-06-2011
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Estou de acordo com o que alguém escreveu num comentário no Insurgente (julgo que o João Miranda do Blasfémias, pelo menos era essa a assinatura) e não confio no jornalismo de causas. Mas uma coisa é o jornalismo, enquanto prática profissional, e outra é o jornalista, que não pode ver limitados os seus direitos de cidadania, nomeadamente o de defender as suas causas e opiniões, desde que expressas nos locais adequados. Esta é uma discussão importante, ao contrário do que muitos e muitas possam pensar - e já era tempo de os jornais e de os jornalistas a fazerem sem complexos.Aqui há uns tempos, para dar um exemplo de onde isto nos poderia levar, José Rodrigues dos Santos disse (cito de memória) que não exercia o seu direito de voto exactamente porque achava que isso poderia pôr em causa a sua imagem de independência enquanto jornalista. Eu defendo o contrário: todo o jornalista tem a obrigação de votar - ou de se abster, em função das suas preferências políticas - e não pode ver os seus direitos políticos constrangidos em razão da sua profissão. Se eu toda a vida votei no CDS e se sou militante do CDS não percebo porque tenho de o disfarçar ou esconder só porque sou director de uma revista. Não disfarço nem escondo. Não confundo as minhas preferências partidárias com as minhas responsabilidades profissionais - e isso mesmo poderá ser atestado a qualquer momento lendo as pessoas que convidei para escrever e colaborar na revista que dirijo.Para dar outro exemplo, apesar de julgar saber que Mário Bettencourt Resendes é militante do PS, isso nunca me levou a pensar que as suas opiniões sobre o PS ou sobre a política nacional enquanto director do "DN" ou comentador em vários orgãos de comunicação social fossem condicionadas ou pudessem ser menorizadas por essa sua condição. Nos países mais civilizados e mais livres, onde a liberdade de imprensa é mais poderosa, como é o caso da Grã-Bretanha, a ninguém espanta ou sequer admira que uma personalidade como Boris Johnson tivesse sido director da revista Spectator enquanto ocupava o seu lugar de MP dos tories no Parlamento britânico. É claro que na Spectator regularmente se gozava ou criticava o partido conservador e o respectivo líder da altura.Bem diferente, porém, é determinada causa ser assumida por jornalistas e por membros da direcção editorial de determinado jornal, levando a que todos eles, incluindo o jornal, sejam identificados com a causa que defendem, pondo em dúvida, pelo menos, a imparcialidade das notícias publicadas sobre o assunto. Foi isto que aconteceu recentemente com o "DN" no caso do casamento da Teresa e da Lena e é por isso um pouco ridículo confundir estes simples factos com a circunstância de o "Público" ter sido um dos dois primeiros jornais a dar a notícia sobre o mesmo casamento - a par do jornal "O Independente".Fui um dos primeiros a criticar o modo como no "Público" (e noutros jornais diários, é mais um facto) se tratou a questão do ponto de vista jornalístico, desde logo ao dar nome e microfone aos "filhos biológicos" (menores) das duas senhoras que se pretendiam casar, mas isso não me leva a confundir planos substancialmente diferentes: qualquer jornal ou qualquer jornalista quer dar notícias relevantes em primeira mão. E foi o que aconteceu.[Paulo Pinto Mascarenhas]

Estou de acordo com o que alguém escreveu num comentário no Insurgente (julgo que o João Miranda do Blasfémias, pelo menos era essa a assinatura) e não confio no jornalismo de causas. Mas uma coisa é o jornalismo, enquanto prática profissional, e outra é o jornalista, que não pode ver limitados os seus direitos de cidadania, nomeadamente o de defender as suas causas e opiniões, desde que expressas nos locais adequados. Esta é uma discussão importante, ao contrário do que muitos e muitas possam pensar - e já era tempo de os jornais e de os jornalistas a fazerem sem complexos.Aqui há uns tempos, para dar um exemplo de onde isto nos poderia levar, José Rodrigues dos Santos disse (cito de memória) que não exercia o seu direito de voto exactamente porque achava que isso poderia pôr em causa a sua imagem de independência enquanto jornalista. Eu defendo o contrário: todo o jornalista tem a obrigação de votar - ou de se abster, em função das suas preferências políticas - e não pode ver os seus direitos políticos constrangidos em razão da sua profissão. Se eu toda a vida votei no CDS e se sou militante do CDS não percebo porque tenho de o disfarçar ou esconder só porque sou director de uma revista. Não disfarço nem escondo. Não confundo as minhas preferências partidárias com as minhas responsabilidades profissionais - e isso mesmo poderá ser atestado a qualquer momento lendo as pessoas que convidei para escrever e colaborar na revista que dirijo.Para dar outro exemplo, apesar de julgar saber que Mário Bettencourt Resendes é militante do PS, isso nunca me levou a pensar que as suas opiniões sobre o PS ou sobre a política nacional enquanto director do "DN" ou comentador em vários orgãos de comunicação social fossem condicionadas ou pudessem ser menorizadas por essa sua condição. Nos países mais civilizados e mais livres, onde a liberdade de imprensa é mais poderosa, como é o caso da Grã-Bretanha, a ninguém espanta ou sequer admira que uma personalidade como Boris Johnson tivesse sido director da revista Spectator enquanto ocupava o seu lugar de MP dos tories no Parlamento britânico. É claro que na Spectator regularmente se gozava ou criticava o partido conservador e o respectivo líder da altura.Bem diferente, porém, é determinada causa ser assumida por jornalistas e por membros da direcção editorial de determinado jornal, levando a que todos eles, incluindo o jornal, sejam identificados com a causa que defendem, pondo em dúvida, pelo menos, a imparcialidade das notícias publicadas sobre o assunto. Foi isto que aconteceu recentemente com o "DN" no caso do casamento da Teresa e da Lena e é por isso um pouco ridículo confundir estes simples factos com a circunstância de o "Público" ter sido um dos dois primeiros jornais a dar a notícia sobre o mesmo casamento - a par do jornal "O Independente".Fui um dos primeiros a criticar o modo como no "Público" (e noutros jornais diários, é mais um facto) se tratou a questão do ponto de vista jornalístico, desde logo ao dar nome e microfone aos "filhos biológicos" (menores) das duas senhoras que se pretendiam casar, mas isso não me leva a confundir planos substancialmente diferentes: qualquer jornal ou qualquer jornalista quer dar notícias relevantes em primeira mão. E foi o que aconteceu.[Paulo Pinto Mascarenhas]

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