“no outro dia pedi à empregada doméstica que comprasse brócolos.”Mas que coisa mais linda. A f. “pediu à empregada doméstica que comprasse bróculos”. Está bom de ver que a f. não é betinha como a gente! Este bruta montes, por exemplo, logo tinha “mandado a serva comprar verdes”. Chique mesmo era ter “despachado a criada apanhar legumes à horta da quinta”, mas depois do 74 já quase ninguém tem serviçais criados em casa e as casas não têm quintas e as quintas não têm hortas. Enfim (suspiro).A f. é uma pessoa respeitadora. Cliente do BES, tá-se a ver. “Pede” à empregada doméstica que vá comprar brócolos. Para efeitos de memória futura, penso que podíamos trabalhar um pouco mais nesta coisa da nomenclatura, que a gente trabalhadora não se deve sentir superior a outra gente trabalhadora.Em vez de pedir, que é, mesmo assim, muito autoritário, tente-se solicitar, requerer ou o velhinho rogar. Género: “roguei à empregada doméstica que me comprasse bróculos” e como não queremos parecer que andamos a impor tarefas não incluídas no justo contrato de trabalho assinado com a assalariada, acrescente-se: “e tal só aconteceu por óbvio estado de necessidade, que a gente, pá, somos iguais”.Continuando. Se bem que “empregada doméstica” é bem melhor que “serva”, “moça” ou “serviçal” temos de admitir que há aqui um certo preconceito. Proponho desde já terminologia mais respeitadora dos direitos da trabalhadora. A saber: “funcionária de higiene do domicílio” ou “auxiliar de sanidade”.Fórmulas mais pomposas estão à disposição dos mais engenhosos. Aqui ficam duas: “roguei à adjunta para a salubridade doméstica que me adquirisse uns brócolos”, “requeri à assessora da residência que me tomasse vagem na venda mais oportuna”.A f. pediu. Podia ter mandado. Mas pediu. A f. tem uma empregada doméstica. Podia ter uma empregada. Mas tem uma espécie de assistente. Saiu um bocado possidónio mas macacos me mordam se a f. não perdeu uns minutitos a pensar na melhor maneira de dizer a coisa.[Rodrigo Moita de Deus]ADENDA, alfa-actualizado, v01 e tal: só agora reparei nos milhares de caracteres que a f. gastou a tentar justificar o facto de ter uma "empregada doméstica". Pois para mim a "exploração do homem pelo homem, não tem justificação".
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“no outro dia pedi à empregada doméstica que comprasse brócolos.”Mas que coisa mais linda. A f. “pediu à empregada doméstica que comprasse bróculos”. Está bom de ver que a f. não é betinha como a gente! Este bruta montes, por exemplo, logo tinha “mandado a serva comprar verdes”. Chique mesmo era ter “despachado a criada apanhar legumes à horta da quinta”, mas depois do 74 já quase ninguém tem serviçais criados em casa e as casas não têm quintas e as quintas não têm hortas. Enfim (suspiro).A f. é uma pessoa respeitadora. Cliente do BES, tá-se a ver. “Pede” à empregada doméstica que vá comprar brócolos. Para efeitos de memória futura, penso que podíamos trabalhar um pouco mais nesta coisa da nomenclatura, que a gente trabalhadora não se deve sentir superior a outra gente trabalhadora.Em vez de pedir, que é, mesmo assim, muito autoritário, tente-se solicitar, requerer ou o velhinho rogar. Género: “roguei à empregada doméstica que me comprasse bróculos” e como não queremos parecer que andamos a impor tarefas não incluídas no justo contrato de trabalho assinado com a assalariada, acrescente-se: “e tal só aconteceu por óbvio estado de necessidade, que a gente, pá, somos iguais”.Continuando. Se bem que “empregada doméstica” é bem melhor que “serva”, “moça” ou “serviçal” temos de admitir que há aqui um certo preconceito. Proponho desde já terminologia mais respeitadora dos direitos da trabalhadora. A saber: “funcionária de higiene do domicílio” ou “auxiliar de sanidade”.Fórmulas mais pomposas estão à disposição dos mais engenhosos. Aqui ficam duas: “roguei à adjunta para a salubridade doméstica que me adquirisse uns brócolos”, “requeri à assessora da residência que me tomasse vagem na venda mais oportuna”.A f. pediu. Podia ter mandado. Mas pediu. A f. tem uma empregada doméstica. Podia ter uma empregada. Mas tem uma espécie de assistente. Saiu um bocado possidónio mas macacos me mordam se a f. não perdeu uns minutitos a pensar na melhor maneira de dizer a coisa.[Rodrigo Moita de Deus]ADENDA, alfa-actualizado, v01 e tal: só agora reparei nos milhares de caracteres que a f. gastou a tentar justificar o facto de ter uma "empregada doméstica". Pois para mim a "exploração do homem pelo homem, não tem justificação".