Um amigo abalroa-me com o cliché:- O problema da Europa é a burocracia.Respondi:- Não, pá. O problema, como sempre, é ideológico.O principal problema de boa parte dos países europeus (França, Alemanha, Portugal…) é claro e objectivo: o modelo social está falido. E o actual sentimento de desconforto advém dessa falência que ainda não foi declarada. Não há coragem política. E, por isso, caminhamos para um beco sem saída. Mais: o actual sentimento de desconforto é reforçado pela desorientação da esquerda. Ficaram sem o socialismo. Estão a ficar sem a social-democracia. O único caminho digno (digno para os países e para as populações; será, certamente, “indigno” para estas ideologias que resistem ao esclarecedor passar do tempo) é o seguinte: As esquerdas continentais têm seguir soluções ao estilo da chamada terceira-via. Têm de entrar, enfim, na história do liberalismo, mais concretamente no chamado “Social-Liberalism”. É esta a razão do mal-estar. Não querem dar o pulo ideológico. Não querem admitir que o liberalismo, afinal, ganhou mesmo… Até continuariam a ser de esquerda, mas passariam a ser liberais. E isso é muito difícil de assumir. Como sabemos, não é fácil engolir sapos ideológicos.Mais: os próprios conservadores de cariz continental (gaulistas em França, os democratas-cristãos na Alemanha) têm dificuldade em aceitar a falência do modelo social. Aliás, o modelo social teve dois progenitores: a social-democracia e o conservadorismo de raiz francesa e alemã. Chirac, afinal, é o líder da “esquerda” continental e Blair o líder da “direita” europeia. [Henrique Raposo]
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Um amigo abalroa-me com o cliché:- O problema da Europa é a burocracia.Respondi:- Não, pá. O problema, como sempre, é ideológico.O principal problema de boa parte dos países europeus (França, Alemanha, Portugal…) é claro e objectivo: o modelo social está falido. E o actual sentimento de desconforto advém dessa falência que ainda não foi declarada. Não há coragem política. E, por isso, caminhamos para um beco sem saída. Mais: o actual sentimento de desconforto é reforçado pela desorientação da esquerda. Ficaram sem o socialismo. Estão a ficar sem a social-democracia. O único caminho digno (digno para os países e para as populações; será, certamente, “indigno” para estas ideologias que resistem ao esclarecedor passar do tempo) é o seguinte: As esquerdas continentais têm seguir soluções ao estilo da chamada terceira-via. Têm de entrar, enfim, na história do liberalismo, mais concretamente no chamado “Social-Liberalism”. É esta a razão do mal-estar. Não querem dar o pulo ideológico. Não querem admitir que o liberalismo, afinal, ganhou mesmo… Até continuariam a ser de esquerda, mas passariam a ser liberais. E isso é muito difícil de assumir. Como sabemos, não é fácil engolir sapos ideológicos.Mais: os próprios conservadores de cariz continental (gaulistas em França, os democratas-cristãos na Alemanha) têm dificuldade em aceitar a falência do modelo social. Aliás, o modelo social teve dois progenitores: a social-democracia e o conservadorismo de raiz francesa e alemã. Chirac, afinal, é o líder da “esquerda” continental e Blair o líder da “direita” europeia. [Henrique Raposo]