O Acidental: Taxi Driver

22-01-2012
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Meu caro Rui,
Peço desculpa pelo atraso na resposta, mas estive a banhos até agora, longe da tecnologia. Tenho, de resto, pouco para responder.
O filme de Michael Moore cabe na mesma categoria clínica daquelas longas dissertações iluminadas dos taxistas lisboetas sobre como "os gajos" andam aí para nos "lixar". Ou até dos taxistas nova-iorquinos, como o mostra o célebre filme Taxi Driver.
Tal como nesses casos, de nada vale mostrar relativamente ao filme de Moore o carácter delirante dos seus argumentos. Muito simplesmente, quando não há comunicação entre os dois planos da realidade, o nosso e o do paranóico, a discussão não é possível. Já fiz o link para a peça do Dave Kopel. A partir daqui não consigo dizer mais nada.
Ilustro só o que quero dizer com duas parábolas retiradas da vida real.
A primeira: conheci em tempos (nos tempos em que a URSS ainda existia, para ser mais preciso) um indivíduo que tinha sido membro do PCP e tinha deixado o partido. Não tendo sido essa uma decisão fácil, o homem começou a ter sentimentos de culpa que derivaram para a paranóia. Na sua paranóia a URSS tinha a certa altura decidido apontar uns mísseis balísticos dirigidos à sua pessoa. De nada valia dizer-lhe que era completamente absurdo que, com tantos inimigos do comunismo e dissidentes, logo o Brejnev ia gastar um par de mísseis com ele. Mas o que é que queres? O homem estava convicto da coisa. Não creio que valha a pena especificar onde é que ele acabou.
A segunda: as vendas dos livros de Noam Chomsky dispararam com a guerra do Iraque. Chomsky trabalha para o MIT. O MIT é um importante fornecedor de estudos, projectos e aconselhamento do Department of Defense. A guerra do Iraque fez com que o Department of Defense aumentasse as suas encomendas ao MIT. Estás a ver a panelinha, não estás? Estão todos feitos uns com os outros, para venderem mais livros, terem mais contratos e fazerem guerras em que todos enchem os bolsos.
Pode-se criticar a administração Bush e a guerra do Iraque com base em argumentos dignos, relevantes e sensatos. Todos eles, porém, dispensam a esquizofrenia desse filme disparatado.
PS - Quanto à Maria Bethânia, quando é que abrimos o blog conjunto? Até já tenho um nome para o dito: Farenheit 251. E seria inteiramente dedicado a testemunhos, fotografias e vídeos ilustrando a queima sistemática dos seus discos.
[Luciano Amaral]

Meu caro Rui,
Peço desculpa pelo atraso na resposta, mas estive a banhos até agora, longe da tecnologia. Tenho, de resto, pouco para responder.
O filme de Michael Moore cabe na mesma categoria clínica daquelas longas dissertações iluminadas dos taxistas lisboetas sobre como "os gajos" andam aí para nos "lixar". Ou até dos taxistas nova-iorquinos, como o mostra o célebre filme Taxi Driver.
Tal como nesses casos, de nada vale mostrar relativamente ao filme de Moore o carácter delirante dos seus argumentos. Muito simplesmente, quando não há comunicação entre os dois planos da realidade, o nosso e o do paranóico, a discussão não é possível. Já fiz o link para a peça do Dave Kopel. A partir daqui não consigo dizer mais nada.
Ilustro só o que quero dizer com duas parábolas retiradas da vida real.
A primeira: conheci em tempos (nos tempos em que a URSS ainda existia, para ser mais preciso) um indivíduo que tinha sido membro do PCP e tinha deixado o partido. Não tendo sido essa uma decisão fácil, o homem começou a ter sentimentos de culpa que derivaram para a paranóia. Na sua paranóia a URSS tinha a certa altura decidido apontar uns mísseis balísticos dirigidos à sua pessoa. De nada valia dizer-lhe que era completamente absurdo que, com tantos inimigos do comunismo e dissidentes, logo o Brejnev ia gastar um par de mísseis com ele. Mas o que é que queres? O homem estava convicto da coisa. Não creio que valha a pena especificar onde é que ele acabou.
A segunda: as vendas dos livros de Noam Chomsky dispararam com a guerra do Iraque. Chomsky trabalha para o MIT. O MIT é um importante fornecedor de estudos, projectos e aconselhamento do Department of Defense. A guerra do Iraque fez com que o Department of Defense aumentasse as suas encomendas ao MIT. Estás a ver a panelinha, não estás? Estão todos feitos uns com os outros, para venderem mais livros, terem mais contratos e fazerem guerras em que todos enchem os bolsos.
Pode-se criticar a administração Bush e a guerra do Iraque com base em argumentos dignos, relevantes e sensatos. Todos eles, porém, dispensam a esquizofrenia desse filme disparatado.
PS - Quanto à Maria Bethânia, quando é que abrimos o blog conjunto? Até já tenho um nome para o dito: Farenheit 251. E seria inteiramente dedicado a testemunhos, fotografias e vídeos ilustrando a queima sistemática dos seus discos.
[Luciano Amaral]

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