O Acidental: Henrique Raposo, o revisionista

03-07-2011
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Quanto mais leio o Henrique, mais preocupado fico com os seus estudos académicos sobre o pensamento e a obra de Carl Schmitt. É que ao atribuir-lhe o epíteto de romântico, o Henrique está a passar por cima de um dos mais importantes ensaios do velho Schmitt, cujo título é, precisamente, Romantismo Político (Politische Romantik). Neste texto, Schmitt defende as noções de bem e de mal, de justo e de injusto, de certo e de errado (sim, de certo e de errado), contra o relativismo daquilo a que chama o romantismo político (nas suas palavras um ocasionalismo subjetivizado). Romantismo político esse ao qual Carl Schmitt faz equivaler o liberalismo burguês, considerado igualmente como uma forma de romantização da experiência política unicamente feita a partir do “eu”.Ou seja, aquilo a que Carl Schmitt se refere como o romantismo político - atacando - não é senão a base a partir de onde constrói toda a crítica que faz ao liberalismo. E é depois e só depois, como contraproposta a este romantismo/liberalismo, que Schmitt vem (com brilho, diga-se) defender o decisionismo/conservadorismo.Posto isto, afirmar que Carl Schmitt padece de romantismo político, quando na realidade é um dos seus mais ferozes críticos, é mais ou menos o mesmo que dizer que o Barbas milita na Juve Leo. Mas, enfim, ao Henrique que parece também padecer de algum romantismo na análise das ideias políticas (ex: “Schmitt é normalmente descrito como um “conservador revolucionário”; não concordo - um conservador não pode ser revolucionário”), tudo deve ser perdoado. Não sem antes, porém, deixar um reparo schmittiano: as coisas nem sempre são o que queremos que sejam.Claro que poderás vir agora dizer que o "romantismo" que atribuis a Carl Schmitt é diferente daquele sobre o qual este se debruça em Politische Romantik. Claro que sim. Mas então qual é? Pergunta afinal quem lê o Acidental. É que, mesmo sendo isto um blog, quando se pretende escrever posts analíticos sobre matérias um tanto ou quanto mais complexas, torna-se conveniente começar por definir os conceitos usados. Sobretudo se estes divergirem daqueles que imediatamente associamos aos autores sobre quem escrevemos. Eu percebo perfeitamente que não gostes da filosofia política de Carl Schmitt. Schmitt não é um liberal. Mas é escusado chamar-lhe nomes. A menos, claro, que estejas na palhaçada.(Já no que respeita a algumas das consequências que o filósofo retira do seu pensamento, não hesito um segundo em, à luz da História, considerá-las altamente censuráveis. Mas isso é uma outra conversa).De nada, Camarada.[Eduardo Nogueira Pinto]

Quanto mais leio o Henrique, mais preocupado fico com os seus estudos académicos sobre o pensamento e a obra de Carl Schmitt. É que ao atribuir-lhe o epíteto de romântico, o Henrique está a passar por cima de um dos mais importantes ensaios do velho Schmitt, cujo título é, precisamente, Romantismo Político (Politische Romantik). Neste texto, Schmitt defende as noções de bem e de mal, de justo e de injusto, de certo e de errado (sim, de certo e de errado), contra o relativismo daquilo a que chama o romantismo político (nas suas palavras um ocasionalismo subjetivizado). Romantismo político esse ao qual Carl Schmitt faz equivaler o liberalismo burguês, considerado igualmente como uma forma de romantização da experiência política unicamente feita a partir do “eu”.Ou seja, aquilo a que Carl Schmitt se refere como o romantismo político - atacando - não é senão a base a partir de onde constrói toda a crítica que faz ao liberalismo. E é depois e só depois, como contraproposta a este romantismo/liberalismo, que Schmitt vem (com brilho, diga-se) defender o decisionismo/conservadorismo.Posto isto, afirmar que Carl Schmitt padece de romantismo político, quando na realidade é um dos seus mais ferozes críticos, é mais ou menos o mesmo que dizer que o Barbas milita na Juve Leo. Mas, enfim, ao Henrique que parece também padecer de algum romantismo na análise das ideias políticas (ex: “Schmitt é normalmente descrito como um “conservador revolucionário”; não concordo - um conservador não pode ser revolucionário”), tudo deve ser perdoado. Não sem antes, porém, deixar um reparo schmittiano: as coisas nem sempre são o que queremos que sejam.Claro que poderás vir agora dizer que o "romantismo" que atribuis a Carl Schmitt é diferente daquele sobre o qual este se debruça em Politische Romantik. Claro que sim. Mas então qual é? Pergunta afinal quem lê o Acidental. É que, mesmo sendo isto um blog, quando se pretende escrever posts analíticos sobre matérias um tanto ou quanto mais complexas, torna-se conveniente começar por definir os conceitos usados. Sobretudo se estes divergirem daqueles que imediatamente associamos aos autores sobre quem escrevemos. Eu percebo perfeitamente que não gostes da filosofia política de Carl Schmitt. Schmitt não é um liberal. Mas é escusado chamar-lhe nomes. A menos, claro, que estejas na palhaçada.(Já no que respeita a algumas das consequências que o filósofo retira do seu pensamento, não hesito um segundo em, à luz da História, considerá-las altamente censuráveis. Mas isso é uma outra conversa).De nada, Camarada.[Eduardo Nogueira Pinto]

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