O Acidental: Strauss e o Bloco

02-07-2011
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O Rui Tavares diz que é um fã de Leo Strauss , pelo que, suspeito, não deve ter a intenção de se filiar no Bloco nos anos mais próximos. Ou então tem. Vejamos: o Dr. Louçã, seguindo de perto as diatribes académicas e jornalísticas que vê lá fora, tem verberado Strauss como o padrinho dessa temível e tenebrosa conspiração americano-sionista dos neocons instalados na Casa Branca. Mas, pondo de parte a substância do pensamento, Louçã tem muito de straussiano. Para além do incontestado responsável por todos os males do mundo, Strauss é igualmente conhecido por ter anunciado, nomeadamente aqui, a descoberta do que chamou "o estilo de escrita esquecido", o qual mais não era do que a escrita simultânea para diferentes tipos de audiência. Strauss tinha presente a divisão platónica entre os philosofos (os "amigos da sabedoria") e os philodoxos (os "amigos da opinião", que não tinham ainda percorrido o caminho completo que leva da ignorância ao conhecimento, à Verdade, ao Belo) e, a partir dela, chegou ao seguinte silogismo:
 
"Philosophy is the attempt to replace opinion by knowledge, that opinion is the element of the city, hence philosophy is subversive, hence the philosopher must write in such a way that he will improve rather than subvert the city".  
No fundo, considerando a importância de os filósofos não subverterm a vida em sociedade com as suas verdades privadas e incomportáveis, Strauss acreditava que estes deveriam "esconder" o que verdadeiramente propõem. Daí a opção pela escrita para, pelo menos, dois públicos diferentes: a um deles seria endereçado o sentido exotérico,  superficial e social do texto, enquanto que ao outro estava destinado o sentido esotérico, subentendido e apenas apreensível por uma elite de iluminados.
 
Ora, do que sabemos, o Bloco deve muito a Leo Strauss. Apresenta-se como uma proposta de futuro, sob a aparência hipnotizante da modernidade e da salvação da Humanidade, mas, bem raspada a crosta adocicada que o envolve, o que temos é uma ideia do mundo que o próprio mundo dispensou há muito e de que actualmente guarda apenas uns quantos dejectos em alguns locais menos frequentáveis do seu globo.
 
[Francisco Mendes da Silva]   

O Rui Tavares diz que é um fã de Leo Strauss , pelo que, suspeito, não deve ter a intenção de se filiar no Bloco nos anos mais próximos. Ou então tem. Vejamos: o Dr. Louçã, seguindo de perto as diatribes académicas e jornalísticas que vê lá fora, tem verberado Strauss como o padrinho dessa temível e tenebrosa conspiração americano-sionista dos neocons instalados na Casa Branca. Mas, pondo de parte a substância do pensamento, Louçã tem muito de straussiano. Para além do incontestado responsável por todos os males do mundo, Strauss é igualmente conhecido por ter anunciado, nomeadamente aqui, a descoberta do que chamou "o estilo de escrita esquecido", o qual mais não era do que a escrita simultânea para diferentes tipos de audiência. Strauss tinha presente a divisão platónica entre os philosofos (os "amigos da sabedoria") e os philodoxos (os "amigos da opinião", que não tinham ainda percorrido o caminho completo que leva da ignorância ao conhecimento, à Verdade, ao Belo) e, a partir dela, chegou ao seguinte silogismo:
 
"Philosophy is the attempt to replace opinion by knowledge, that opinion is the element of the city, hence philosophy is subversive, hence the philosopher must write in such a way that he will improve rather than subvert the city".  
No fundo, considerando a importância de os filósofos não subverterm a vida em sociedade com as suas verdades privadas e incomportáveis, Strauss acreditava que estes deveriam "esconder" o que verdadeiramente propõem. Daí a opção pela escrita para, pelo menos, dois públicos diferentes: a um deles seria endereçado o sentido exotérico,  superficial e social do texto, enquanto que ao outro estava destinado o sentido esotérico, subentendido e apenas apreensível por uma elite de iluminados.
 
Ora, do que sabemos, o Bloco deve muito a Leo Strauss. Apresenta-se como uma proposta de futuro, sob a aparência hipnotizante da modernidade e da salvação da Humanidade, mas, bem raspada a crosta adocicada que o envolve, o que temos é uma ideia do mundo que o próprio mundo dispensou há muito e de que actualmente guarda apenas uns quantos dejectos em alguns locais menos frequentáveis do seu globo.
 
[Francisco Mendes da Silva]   

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