O Acidental: Tolerância como Porreirismo

03-07-2011
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Local: programa de viagens algures na SIC-N. Acção: alguém diz a Miguel Sousa Tavares qualquer coisa como isto: “mas V. não é tolerante, pelo menos com o seu próprio país”. Não sei de quem é a afirmação. Não me interessa. Não me interessa porque esta noção de Tolerância é aquela que campeia por Portugal, é aquela que é ensinada nas escolas, é aquela que se reproduz a cada debate: ausência completa de crítica, de ruptura de opinião, de confronto de ideias. Portugal é uma imensa sala de aula doutrinada para esta tolerância passiva.Ser-se português é concordar com o vizinho do lado. Ser-se tolerante, em Portugal, é não dizer nada. Ser-se tolerante, aqui, significa aquele hábito mecânico de abanar a cabeça e dizer que sim a tudo. Em suma, ser-se porreiro.Ora, Tolerância é outra coisa: Tolerância é igual a Crítica. Existe tolerância não para legitimar o gigantismo da maioria do que sim mas para proteger a minoria do olhe que Não. Não se confunda Tolerância com Harmonia. Tolerância é a base comum para umas valentes murraças. Tolerância é o oposto da Harmonia. Terra de tolerância é terra de conflito. Tolerância não está a jusante. Não é um fim em si mesmo. Tolerância é um ponto de partida, um critério e não um conceito substantivo. Ninguém é tolerante. Faz-se tolerância. Tolerância não é uma essência imutável que está na posse de uns quantos ou de umas quantas doutrinas.A intolerância nasce sempre da seguinte declaração: "eu sou tolerante" ou "nós temos a tolerância". Estas frases representam a matrícula na escolinha da Intolerância. Os bancos desta escolinha estão sempre cheios de gente que grita aos setes ventos que descobriu a fórmula sagrada.[Henrique Raposo]

Local: programa de viagens algures na SIC-N. Acção: alguém diz a Miguel Sousa Tavares qualquer coisa como isto: “mas V. não é tolerante, pelo menos com o seu próprio país”. Não sei de quem é a afirmação. Não me interessa. Não me interessa porque esta noção de Tolerância é aquela que campeia por Portugal, é aquela que é ensinada nas escolas, é aquela que se reproduz a cada debate: ausência completa de crítica, de ruptura de opinião, de confronto de ideias. Portugal é uma imensa sala de aula doutrinada para esta tolerância passiva.Ser-se português é concordar com o vizinho do lado. Ser-se tolerante, em Portugal, é não dizer nada. Ser-se tolerante, aqui, significa aquele hábito mecânico de abanar a cabeça e dizer que sim a tudo. Em suma, ser-se porreiro.Ora, Tolerância é outra coisa: Tolerância é igual a Crítica. Existe tolerância não para legitimar o gigantismo da maioria do que sim mas para proteger a minoria do olhe que Não. Não se confunda Tolerância com Harmonia. Tolerância é a base comum para umas valentes murraças. Tolerância é o oposto da Harmonia. Terra de tolerância é terra de conflito. Tolerância não está a jusante. Não é um fim em si mesmo. Tolerância é um ponto de partida, um critério e não um conceito substantivo. Ninguém é tolerante. Faz-se tolerância. Tolerância não é uma essência imutável que está na posse de uns quantos ou de umas quantas doutrinas.A intolerância nasce sempre da seguinte declaração: "eu sou tolerante" ou "nós temos a tolerância". Estas frases representam a matrícula na escolinha da Intolerância. Os bancos desta escolinha estão sempre cheios de gente que grita aos setes ventos que descobriu a fórmula sagrada.[Henrique Raposo]

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