O Acidental: Pátria

03-07-2011
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Fico contente com a recuperação do tema pátria. Recuperação que, em Portugal, só poderia ser feita pela esquerda. Ou melhor, poderia ser feita pela direita, mas no dia em que um político de direita pronunciasse a palavra P, seria linchado com a palavra F. Espero que os políticos de direita percebam que já podem usar P sem medo de F. P > F = maturidade política. Até porque a esquerda, na verdade, não está a recuperar a ideia de Pátria… Ouve-se Pátria, mas pressente-se Nação. E entre Nação e Pátria há uma grande distância. Os candidatos de esquerda, à imagem de muitos políticos da esquerda continental (exemplo máximo: o alemão Lanfontaine) recuperam, a cada debate, uma perigosa ideia de Nação: Nação como um bloco, uma ideia quase sagrada que deve ser protegida do estrangeiro (leia-se: globalização); uma ideia que pensa por Nós. Aqui, não há qualquer tensão entre o Eu e a Nação. Há uma comunhão acrítica, uma vontade geral, um rebanho em direcção ao matadouro ou à morte lenta por inércia. Ora, Pátria é coisa diferente. Pátria não é uma ideia gloriosa, mas um sítio. É por isso que temos aqui um mapa glacial e não uma bandeira vulcânica. Pátria não é uma solução mágica construída na cabeça de uns quantos iluminados. Pátria é um local onde nos sentimos em casa. Apenas. Mais: esta Pátria, ao contrário da Nação, não pensa por nós. Não se entranha no neurónio. Não nos cega. Um patriota – ao contrário do nacionalista – está em tensão crítica com a sua Pátria. Tensão, eis a palavra. Tudo isto vem a propósito de dois posts. Colocados ontem. Fizeram-me lembrar a relação que tenho com Portugal. A relação que qualquer patriota - e não uma nacionalista - tem com a sua casa, a sua pátria. Uma relação complicada. Em tensão (aliás, como devem ser todas as relações). Quando falo com estrangeiros, acabo sempre por assumir a atitude típica do português: “Portugal não vale nada”. Típico. Portuguesmente (relação com o primeiro post). Mas, nessas mesmíssimas conversas, há um ponto que me enche de orgulho. Um ponto que, invariavelmente, aparece nas conversas de hoje: a pena de morte. Como se sabe, Portugal foi pioneiro na abolição da pena de morte (relação com o segundo post). Se não me engano, algures na década de 60 do XIX. O meu país, os meus antepassados estiveram na vanguarda de uma coisa verdadeiramente digna. Aqui (e noutras coisas), tenho orgulho. Orgulho: esta coisa que nos morde a alma com a lentidão da sedução. Mas, depois, rapidamente se regressa à crítica. Sempre em tensão, portanto.Portugal não é uma ideia que está na posse de uns quantos. Portugal não é uma peça de Porcelana que deve ser protegida do estrangeiro, seja o capital global ou o imigrante também global. Portugal não precisa de um desígnio nacional (O que raio é um desígnio nacional?) Portugal é só a minha Pátria. Portugal é a Pátria dos que cá nascem e dos que para cá querem vir trabalhar. Só. Portugal é a minha casa, mas não é a minha alma. [Henrique Raposo]

Fico contente com a recuperação do tema pátria. Recuperação que, em Portugal, só poderia ser feita pela esquerda. Ou melhor, poderia ser feita pela direita, mas no dia em que um político de direita pronunciasse a palavra P, seria linchado com a palavra F. Espero que os políticos de direita percebam que já podem usar P sem medo de F. P > F = maturidade política. Até porque a esquerda, na verdade, não está a recuperar a ideia de Pátria… Ouve-se Pátria, mas pressente-se Nação. E entre Nação e Pátria há uma grande distância. Os candidatos de esquerda, à imagem de muitos políticos da esquerda continental (exemplo máximo: o alemão Lanfontaine) recuperam, a cada debate, uma perigosa ideia de Nação: Nação como um bloco, uma ideia quase sagrada que deve ser protegida do estrangeiro (leia-se: globalização); uma ideia que pensa por Nós. Aqui, não há qualquer tensão entre o Eu e a Nação. Há uma comunhão acrítica, uma vontade geral, um rebanho em direcção ao matadouro ou à morte lenta por inércia. Ora, Pátria é coisa diferente. Pátria não é uma ideia gloriosa, mas um sítio. É por isso que temos aqui um mapa glacial e não uma bandeira vulcânica. Pátria não é uma solução mágica construída na cabeça de uns quantos iluminados. Pátria é um local onde nos sentimos em casa. Apenas. Mais: esta Pátria, ao contrário da Nação, não pensa por nós. Não se entranha no neurónio. Não nos cega. Um patriota – ao contrário do nacionalista – está em tensão crítica com a sua Pátria. Tensão, eis a palavra. Tudo isto vem a propósito de dois posts. Colocados ontem. Fizeram-me lembrar a relação que tenho com Portugal. A relação que qualquer patriota - e não uma nacionalista - tem com a sua casa, a sua pátria. Uma relação complicada. Em tensão (aliás, como devem ser todas as relações). Quando falo com estrangeiros, acabo sempre por assumir a atitude típica do português: “Portugal não vale nada”. Típico. Portuguesmente (relação com o primeiro post). Mas, nessas mesmíssimas conversas, há um ponto que me enche de orgulho. Um ponto que, invariavelmente, aparece nas conversas de hoje: a pena de morte. Como se sabe, Portugal foi pioneiro na abolição da pena de morte (relação com o segundo post). Se não me engano, algures na década de 60 do XIX. O meu país, os meus antepassados estiveram na vanguarda de uma coisa verdadeiramente digna. Aqui (e noutras coisas), tenho orgulho. Orgulho: esta coisa que nos morde a alma com a lentidão da sedução. Mas, depois, rapidamente se regressa à crítica. Sempre em tensão, portanto.Portugal não é uma ideia que está na posse de uns quantos. Portugal não é uma peça de Porcelana que deve ser protegida do estrangeiro, seja o capital global ou o imigrante também global. Portugal não precisa de um desígnio nacional (O que raio é um desígnio nacional?) Portugal é só a minha Pátria. Portugal é a Pátria dos que cá nascem e dos que para cá querem vir trabalhar. Só. Portugal é a minha casa, mas não é a minha alma. [Henrique Raposo]

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