O Acidental: Poesia e Mitos

03-07-2011
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Sobre os recentes episódios em Portugal queria só dizer três coisas.Em primeiro lugar, destacar Eugénio de Andrade. Não que seja um profundo conhecedor da sua obra, reconheço, mas pelo simples facto de ser um poeta, um escritor, um homem que partilha a sua sensibilidade com o público através das letras. Quem faz isto em Portugal ou em qualquer lugar recôndito do planeta, merece-me a maior das considerações. Independentemente das ideologias, mais ou menos próximas, que possa ter comigo.Em segundo lugar, dizer que acho deplorável que se aproveite o dia da morte de alguém – seja ele quem for – para fazer julgamentos sobre a sua pessoa. Na minha opinião, e não estou a cair numa fácil atracção pelo coro do politicamente correcto português, ou não se fala ou respeitam-se os mortos. Julgamentos em praça pública é coisa que muito boa gente fez, aquando da morte de ditadores ou generais do antigamente e eu não quero cair na mesma asneira comportamental, agora a Cunhal.Em terceiro lugar, devo reconhecer o meu fascínio pelo “imaginário comunista”. Não me interpretem mal: gosto dos mitos da resistência, das palavras de luta, sobretudo das cantigas e de um certo romantismo inerente à sua luta.O problema é que isto resvala para um programa político, social, económico, ideológico. Podia ser apenas um hobby, mas não. Ambiciona algo mais. E este é o problema. Que Álvaro Cunhal ou Vasco Gonçalves – este último a anos-luz do brilhantismo do primeiro – tenham escrito, pintado, fugido, gritado, viajado, sonhado, lido, pensado, por mim está tudo bem. A liberdade individual é projecto universalista, para mim. Agora, que nos quisessem impor um sistema que, factualmente – repito, factualmente – havia dado provas suficientes da sua desgraça, é que é uma coisa que me chateia. É pá, chateia-me Paulo, o que é que queres que faça?![Bernardo Pires de Lima]

Sobre os recentes episódios em Portugal queria só dizer três coisas.Em primeiro lugar, destacar Eugénio de Andrade. Não que seja um profundo conhecedor da sua obra, reconheço, mas pelo simples facto de ser um poeta, um escritor, um homem que partilha a sua sensibilidade com o público através das letras. Quem faz isto em Portugal ou em qualquer lugar recôndito do planeta, merece-me a maior das considerações. Independentemente das ideologias, mais ou menos próximas, que possa ter comigo.Em segundo lugar, dizer que acho deplorável que se aproveite o dia da morte de alguém – seja ele quem for – para fazer julgamentos sobre a sua pessoa. Na minha opinião, e não estou a cair numa fácil atracção pelo coro do politicamente correcto português, ou não se fala ou respeitam-se os mortos. Julgamentos em praça pública é coisa que muito boa gente fez, aquando da morte de ditadores ou generais do antigamente e eu não quero cair na mesma asneira comportamental, agora a Cunhal.Em terceiro lugar, devo reconhecer o meu fascínio pelo “imaginário comunista”. Não me interpretem mal: gosto dos mitos da resistência, das palavras de luta, sobretudo das cantigas e de um certo romantismo inerente à sua luta.O problema é que isto resvala para um programa político, social, económico, ideológico. Podia ser apenas um hobby, mas não. Ambiciona algo mais. E este é o problema. Que Álvaro Cunhal ou Vasco Gonçalves – este último a anos-luz do brilhantismo do primeiro – tenham escrito, pintado, fugido, gritado, viajado, sonhado, lido, pensado, por mim está tudo bem. A liberdade individual é projecto universalista, para mim. Agora, que nos quisessem impor um sistema que, factualmente – repito, factualmente – havia dado provas suficientes da sua desgraça, é que é uma coisa que me chateia. É pá, chateia-me Paulo, o que é que queres que faça?![Bernardo Pires de Lima]

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