Pelas mais diversas razões, a idade provecta do Dr. Soares não é também para mim argumento minimamente válido para rejeitar a sua candidatura. Uma das coisas que sempre me encanitou foi a obsessão um bocadinho possidónia pela "juventude" e pelos "jovens", consequência ainda de um certo yuppismo retardado, como se os mais velhos fosse dispensáveis ou inúteis. Não são, bem pelo contrário, quase sempre fazem falta a Portugal a lucidez e a prudência que só a experiência e a sabedoria da longa idade podem conceder.O que já me parece criticável - e é hoje comentado por Nuno Rogeiro na revista "Sábado" (sem linque) - é a posição contraditória do Partido Socialista e do seu líder: enquanto reclama e propõe a limitação de mandatos, uma medida alegadamente moralizadora da classe política, apoia entusiasticamente a candidatura de Soares a um terceiro mandato como Presidente da República.Prometa o que prometer o candidato do PS - depois do "Basta de política" na festa de aniversário dos 80 anos, tudo é possível -, caso seja eleito poderá ainda recandidatar-se com largas probalidades de sucesso a um quarto mandato - a experiência demonstra que o Presidente da República em exercício consegue sem dificuldades a reeleição - o que significaria 20 anos em Belém, descontando já os largos tempos passados em S. Bento.Grave é que esta recandidatura possa ser vista como um modo expedito de contornar o espírito da lei, desde logo o princípio constitucional da renovação (artigo 118º da Constituição). Neste momento, com 81 anos, Mário Soares é, por vontade própria, um candidato "vitalício". Quando, no artigo 123º, a propósito da reelegibilidade do Presidente da República, se escreve que “não é admitida a reeleição para um terceiro mandato”, é certo que logo se acrescenta “consecutivo” – mas todo o restante articulado vai no mesmo sentido da necessidade de renovação da classe política.O que diriam, por exemplo, os constitucionalistas de esquerda e apoiantes de Soares, como Vital Moreira, se o crónico recandidato à eleição presidencial se chamasse Cavaco Silva? [PPM]
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Pelas mais diversas razões, a idade provecta do Dr. Soares não é também para mim argumento minimamente válido para rejeitar a sua candidatura. Uma das coisas que sempre me encanitou foi a obsessão um bocadinho possidónia pela "juventude" e pelos "jovens", consequência ainda de um certo yuppismo retardado, como se os mais velhos fosse dispensáveis ou inúteis. Não são, bem pelo contrário, quase sempre fazem falta a Portugal a lucidez e a prudência que só a experiência e a sabedoria da longa idade podem conceder.O que já me parece criticável - e é hoje comentado por Nuno Rogeiro na revista "Sábado" (sem linque) - é a posição contraditória do Partido Socialista e do seu líder: enquanto reclama e propõe a limitação de mandatos, uma medida alegadamente moralizadora da classe política, apoia entusiasticamente a candidatura de Soares a um terceiro mandato como Presidente da República.Prometa o que prometer o candidato do PS - depois do "Basta de política" na festa de aniversário dos 80 anos, tudo é possível -, caso seja eleito poderá ainda recandidatar-se com largas probalidades de sucesso a um quarto mandato - a experiência demonstra que o Presidente da República em exercício consegue sem dificuldades a reeleição - o que significaria 20 anos em Belém, descontando já os largos tempos passados em S. Bento.Grave é que esta recandidatura possa ser vista como um modo expedito de contornar o espírito da lei, desde logo o princípio constitucional da renovação (artigo 118º da Constituição). Neste momento, com 81 anos, Mário Soares é, por vontade própria, um candidato "vitalício". Quando, no artigo 123º, a propósito da reelegibilidade do Presidente da República, se escreve que “não é admitida a reeleição para um terceiro mandato”, é certo que logo se acrescenta “consecutivo” – mas todo o restante articulado vai no mesmo sentido da necessidade de renovação da classe política.O que diriam, por exemplo, os constitucionalistas de esquerda e apoiantes de Soares, como Vital Moreira, se o crónico recandidato à eleição presidencial se chamasse Cavaco Silva? [PPM]