O Acidental: A tribo do sr. Negri

01-07-2011
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Quem usa Foucault e Deleuze na argumentação deixa de ser marxista. Ponto. Negri pode (e deve: dada a falência do marxismo) usar as teorias de Foucault para criticar a sociedade e democracia liberal. Tudo bem. Não pode é juntar Foucault (pós-estruturalista, a antítese de qualquer iluminismo, sobretudo do marxismo) e Marx no mesmo argumento. Há uma coisa que se chama coerência interna. Aliás, Negri repete a falta de rigor de Marcuse: o senhor da tolerância repressiva juntava Freud e Marx no mesmo argumento. Uma impossibilidade em qualquer cabeça, excepto na cabeça do senhor que gostava de queimar uns livrinhos. Livrinhos de autores liberais, com certeza. Os textos de Negri ou Marcuse podem ser objectos de propaganda, de activismo. Tudo bem. Mas não são coerentes do ponto de vista intelectual. E são textos que deixam os verdadeiros marxistas de cabelos em pé. Um conservador não pode continuar a dizer que é conservador a partir do momento em que despreza a ordem orgânica. Um liberal deixa de o ser quando nega o direito natural. Um marxista deixa de ser marxista quando o seu trabalho está inundado por Deleuze ou Foucault. Nem sequer estou a discutir a substância. Apenas a estrutura interna de pensamento. O problema é que o “marxismo” é uma senha vitalícia. Já não se tem uma pinga de marxismo na cabeça, mas continua-se com o cartão ao peito: “sim, ainda sou marxista porque isto é fixe: diga o que disser, faça o que fizer, estou acima do bem e do mal; o futuro salvar-me-á”.Como diz Kolakowski (que não percebe nada do assunto), a actual geração marxista, liderada por Negri, é uma aberrante caricatura do marxismo. Michael Walzer (que, como se sabe, é um perigoso direitista) chamou-lhe “rag-tag marxism”. Mas, se calhar, isto da coerência já não interessa. Com diz um perigoso conservador(e que por isso não pode ser lido... por quem não é conservador - “pá, só podemos ler os nossos autores; só os nossos é que podem criticar os nossos; ouviram!”), Sartori, vivemos a era da pós-coerência. Negri é o perfeito exemplo da pós-coerência. Para quem ainda não percebeu: quando alguém é de uma dada escola de pensamento, esse facto não lhe garante superioridade de análise sobre a dita escola. Aqui não há password obrigatória. E o melhor indicador para o grau de tribalização do "ideólogo" é quando este não aceita críticas do exterior, críticas que não estão dentro do dogma. É a velha táctica esquerdista: a ideologia é uma verdade interna e apenas os crentes podem criticar essa verdade. Fico contente por verificar que ainda existirem esquerdistas. Estava farto de discutir com românticos anti-progressistas que se julgam de esquerda (vulgo: multiculturalistas).[Henrique Raposo]

Quem usa Foucault e Deleuze na argumentação deixa de ser marxista. Ponto. Negri pode (e deve: dada a falência do marxismo) usar as teorias de Foucault para criticar a sociedade e democracia liberal. Tudo bem. Não pode é juntar Foucault (pós-estruturalista, a antítese de qualquer iluminismo, sobretudo do marxismo) e Marx no mesmo argumento. Há uma coisa que se chama coerência interna. Aliás, Negri repete a falta de rigor de Marcuse: o senhor da tolerância repressiva juntava Freud e Marx no mesmo argumento. Uma impossibilidade em qualquer cabeça, excepto na cabeça do senhor que gostava de queimar uns livrinhos. Livrinhos de autores liberais, com certeza. Os textos de Negri ou Marcuse podem ser objectos de propaganda, de activismo. Tudo bem. Mas não são coerentes do ponto de vista intelectual. E são textos que deixam os verdadeiros marxistas de cabelos em pé. Um conservador não pode continuar a dizer que é conservador a partir do momento em que despreza a ordem orgânica. Um liberal deixa de o ser quando nega o direito natural. Um marxista deixa de ser marxista quando o seu trabalho está inundado por Deleuze ou Foucault. Nem sequer estou a discutir a substância. Apenas a estrutura interna de pensamento. O problema é que o “marxismo” é uma senha vitalícia. Já não se tem uma pinga de marxismo na cabeça, mas continua-se com o cartão ao peito: “sim, ainda sou marxista porque isto é fixe: diga o que disser, faça o que fizer, estou acima do bem e do mal; o futuro salvar-me-á”.Como diz Kolakowski (que não percebe nada do assunto), a actual geração marxista, liderada por Negri, é uma aberrante caricatura do marxismo. Michael Walzer (que, como se sabe, é um perigoso direitista) chamou-lhe “rag-tag marxism”. Mas, se calhar, isto da coerência já não interessa. Com diz um perigoso conservador(e que por isso não pode ser lido... por quem não é conservador - “pá, só podemos ler os nossos autores; só os nossos é que podem criticar os nossos; ouviram!”), Sartori, vivemos a era da pós-coerência. Negri é o perfeito exemplo da pós-coerência. Para quem ainda não percebeu: quando alguém é de uma dada escola de pensamento, esse facto não lhe garante superioridade de análise sobre a dita escola. Aqui não há password obrigatória. E o melhor indicador para o grau de tribalização do "ideólogo" é quando este não aceita críticas do exterior, críticas que não estão dentro do dogma. É a velha táctica esquerdista: a ideologia é uma verdade interna e apenas os crentes podem criticar essa verdade. Fico contente por verificar que ainda existirem esquerdistas. Estava farto de discutir com românticos anti-progressistas que se julgam de esquerda (vulgo: multiculturalistas).[Henrique Raposo]

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