O Acidental: Zeitgeist

30-06-2011
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O que tem mais graça nesta história da eleição de Bento XVI é o pedido permanente de “adequação” do papa ao “seu tempo”. Nem sequer foi apenas a esquerda aborto-eutanasista a fazê-lo: não houve jornal e televisão que não viesse com a ladainha do “conservadorismo” do novo papa. Exactamente o que é que Bento XVI terá de fazer para se adequar ao “seu tempo”? Vestir uma t-shirt da Abraço e andar por aí a distribuir preservativos? Andar de hospital em hospital a desligar ventiladoras? Mandar piropos a garotas que queiram ser ordenadas? Exactamente, o quê?A Igreja Católica rege-se por princípios, doutrinas, dogmas e regras que, muito manifestamente, não são as da recém-extinta UDP, nem são as das luminárias que todos os dias debitam notícias nos jornais, nem sequer são as do homem cristão que, na vida comum, cai naquilo que ele acha ser o pecado. A Igreja Católica tentará sempre ponderar os seus valores milenares com a evolução cultural espontânea da sociedade, umas vezes opondo-se a ela, outras apoiando-a, consoante a ache ameaçadora ou não para a sua existência. Uma organização tão antiga tenderá a ser conservadora.Ratzinger não é um idiota que assim possa ser tratado porque não gosta de preservativos. Ratzinger é um filósofo e um teólogo que, partindo da doutrina cristã, pensou nesses assuntos e chegou a uma determinada conclusão. Ver palermas que nunca pensaram nisso, que nunca pensaram sobre o que significa a vida e a morte, mas que apenas acham que tudo é permitido e que o “espírito do tempo” é o aborto, a eutanásia e o preservativo parece-me uma coisa bem penosa.O “espírito do tempo” é, de resto, a coisa mais totalitária que conheço. Como se não coubesse aos homens senão ser apanhados por ele. Como se ele não fosse feito pelos próprios homens. Como se toda a gente tivesse que aceitar o que os jornalistas da redacção da SIC acham melhor para o mundo. Como se o pensamento de Rodrigo Guedes de Carvalho valesse mais do que o de Joseph Ratzinger.Por mim, tal como aconteceu com João Paulo II, estou preparado para concordar e discordar de Bento XVI. Mas reconhecendo a dignidade das suas opiniões e não as descartando a título de idiotices fora do “espírito do tempo”. Já houve muitos “tempos”. Uns foram bons, outros maus. E nós precisamos de coisas, como a Igreja Católica, que (acreditemos ou não no seu Deus) não sigam o “tempo” mas o atravessem.[Luciano Amaral]

O que tem mais graça nesta história da eleição de Bento XVI é o pedido permanente de “adequação” do papa ao “seu tempo”. Nem sequer foi apenas a esquerda aborto-eutanasista a fazê-lo: não houve jornal e televisão que não viesse com a ladainha do “conservadorismo” do novo papa. Exactamente o que é que Bento XVI terá de fazer para se adequar ao “seu tempo”? Vestir uma t-shirt da Abraço e andar por aí a distribuir preservativos? Andar de hospital em hospital a desligar ventiladoras? Mandar piropos a garotas que queiram ser ordenadas? Exactamente, o quê?A Igreja Católica rege-se por princípios, doutrinas, dogmas e regras que, muito manifestamente, não são as da recém-extinta UDP, nem são as das luminárias que todos os dias debitam notícias nos jornais, nem sequer são as do homem cristão que, na vida comum, cai naquilo que ele acha ser o pecado. A Igreja Católica tentará sempre ponderar os seus valores milenares com a evolução cultural espontânea da sociedade, umas vezes opondo-se a ela, outras apoiando-a, consoante a ache ameaçadora ou não para a sua existência. Uma organização tão antiga tenderá a ser conservadora.Ratzinger não é um idiota que assim possa ser tratado porque não gosta de preservativos. Ratzinger é um filósofo e um teólogo que, partindo da doutrina cristã, pensou nesses assuntos e chegou a uma determinada conclusão. Ver palermas que nunca pensaram nisso, que nunca pensaram sobre o que significa a vida e a morte, mas que apenas acham que tudo é permitido e que o “espírito do tempo” é o aborto, a eutanásia e o preservativo parece-me uma coisa bem penosa.O “espírito do tempo” é, de resto, a coisa mais totalitária que conheço. Como se não coubesse aos homens senão ser apanhados por ele. Como se ele não fosse feito pelos próprios homens. Como se toda a gente tivesse que aceitar o que os jornalistas da redacção da SIC acham melhor para o mundo. Como se o pensamento de Rodrigo Guedes de Carvalho valesse mais do que o de Joseph Ratzinger.Por mim, tal como aconteceu com João Paulo II, estou preparado para concordar e discordar de Bento XVI. Mas reconhecendo a dignidade das suas opiniões e não as descartando a título de idiotices fora do “espírito do tempo”. Já houve muitos “tempos”. Uns foram bons, outros maus. E nós precisamos de coisas, como a Igreja Católica, que (acreditemos ou não no seu Deus) não sigam o “tempo” mas o atravessem.[Luciano Amaral]

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