O Acidental: Quo vadis, CDS?

22-01-2012
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O CDS-PP baixou 1,5 % nas eleições de 20 de Fevereiro, tendo perdido cerca de 60 mil votos face aos resultados de 2002. A franja de eleitorado do PSD que votou no CDS não compensou transferências votos para o PS e mesmo para o BE. O resultado não é desastroso, mas fica aquém dos propósitos traçados para o CDS: apoio popular com dois dígitos, ser a terceira força política e evitar a maioria absoluta do PS.O país não o quis. O país quis a maioria absoluta do PS; o país quis que a CDU fosse a terceira força política; o país quis que o Bloco de Esquerda quase triplicasse o número de mandatos. E como deve o CDS posicionar-se? A demissão de Paulo Portas é compreensível. Paulo Portas está cansado, e está cansado sobretudo de evoluir. O CDS deixou de ser um partido de causas espartilhadas, de fragmentos políticos, para ser um partido de governo, de responsabilidades, de exposição pública. Quem governa introduz realidade no seu discurso, capta homens práticos para os seus quadros, e estabelece objectivos ambiciosos. O CDS não podia, por isso, de forma alguma, pedir menos de 10%, a décima parte de apoio popular nas urnas que reflecte, efectivamente, aquilo que o CDS representa, ou deveria representar, num Portugal civilizado, num Portugal que se quer desenvolvido. Mas Paulo Portas não falhou. Pelo contrário, mostrou o arrojo e a ambição que constituem os homens empreendedores – ao querer mais para o CDS, e ao esforçar-se por contagiar os eleitorados com uma vontade de querer mais para si e para Portugal. Paulo Portas evidenciou solidariedade para com o destino do CDS e do seu eleitorado fiel, reconhecendo a desilusão, da qual, note-se, não foi causa. Paulo Portas foi honesto na leitura dos resultados eleitorais e actuou com o desprendimento, natural, que muitos apregoavam não possuir. E Paulo Portas teve, acima de tudo, uma coisa que a esquerda há muito perdeu e há muito desistiu de compreender: honra. A honra que muitos neste país perseguem, e a que outros causa arrepios e enjoos; a honra que muitos pais se esforçam por transmitir aos filhos, embora sem repercussão directa na taxa de juro do empréstimo contraído para aquisição da mobília de sala; a honra dos que não se corrompem a um mundo material de conforto palpável, mas que impõe a construção de um outro onde os homens encontram e realizam missões para o bem comum; a honra que recuperou e que nos deixa como único caminho a tomar sempre que a ameaça dos idos se avizinha no horizonte.Paulo Portas foi um presidente de partido honrado, um ministro honrado, um político honrado, atributos que junta há sua já conhecida sagacidade ao serviço de princípios; ao seu talento como o último dos tribunos; ao seu espírito aventureiro, bem plasmado na obra O Independente, que do nada tomou a dianteira na oposição aos abusos cavaquistas; e a uma inabalável vocação de decência e polidez que muito escasseia por cá. Paulo Portas tinha muitos dons e talentos, que mantém certamente. Mas nesta derrota, nesta nossa derrota, juntou-lhe a honra que muitos ex-presidentes da república, ex-primeiros ministros, e ex-presidentes de partido, com bem mais anos de intervenção pública, jamais terão.Todos os que tiveram o privilégio de trabalhar com Paulo Portas, e nós tivémo-lo, sabem o diferente que é e a marca rara que deixa. É por isto, sobretudo, que Paulo Portas não pode sair e não deve sair.[Inês Teotónio Pereira e Jacinto Bettencourt]

O CDS-PP baixou 1,5 % nas eleições de 20 de Fevereiro, tendo perdido cerca de 60 mil votos face aos resultados de 2002. A franja de eleitorado do PSD que votou no CDS não compensou transferências votos para o PS e mesmo para o BE. O resultado não é desastroso, mas fica aquém dos propósitos traçados para o CDS: apoio popular com dois dígitos, ser a terceira força política e evitar a maioria absoluta do PS.O país não o quis. O país quis a maioria absoluta do PS; o país quis que a CDU fosse a terceira força política; o país quis que o Bloco de Esquerda quase triplicasse o número de mandatos. E como deve o CDS posicionar-se? A demissão de Paulo Portas é compreensível. Paulo Portas está cansado, e está cansado sobretudo de evoluir. O CDS deixou de ser um partido de causas espartilhadas, de fragmentos políticos, para ser um partido de governo, de responsabilidades, de exposição pública. Quem governa introduz realidade no seu discurso, capta homens práticos para os seus quadros, e estabelece objectivos ambiciosos. O CDS não podia, por isso, de forma alguma, pedir menos de 10%, a décima parte de apoio popular nas urnas que reflecte, efectivamente, aquilo que o CDS representa, ou deveria representar, num Portugal civilizado, num Portugal que se quer desenvolvido. Mas Paulo Portas não falhou. Pelo contrário, mostrou o arrojo e a ambição que constituem os homens empreendedores – ao querer mais para o CDS, e ao esforçar-se por contagiar os eleitorados com uma vontade de querer mais para si e para Portugal. Paulo Portas evidenciou solidariedade para com o destino do CDS e do seu eleitorado fiel, reconhecendo a desilusão, da qual, note-se, não foi causa. Paulo Portas foi honesto na leitura dos resultados eleitorais e actuou com o desprendimento, natural, que muitos apregoavam não possuir. E Paulo Portas teve, acima de tudo, uma coisa que a esquerda há muito perdeu e há muito desistiu de compreender: honra. A honra que muitos neste país perseguem, e a que outros causa arrepios e enjoos; a honra que muitos pais se esforçam por transmitir aos filhos, embora sem repercussão directa na taxa de juro do empréstimo contraído para aquisição da mobília de sala; a honra dos que não se corrompem a um mundo material de conforto palpável, mas que impõe a construção de um outro onde os homens encontram e realizam missões para o bem comum; a honra que recuperou e que nos deixa como único caminho a tomar sempre que a ameaça dos idos se avizinha no horizonte.Paulo Portas foi um presidente de partido honrado, um ministro honrado, um político honrado, atributos que junta há sua já conhecida sagacidade ao serviço de princípios; ao seu talento como o último dos tribunos; ao seu espírito aventureiro, bem plasmado na obra O Independente, que do nada tomou a dianteira na oposição aos abusos cavaquistas; e a uma inabalável vocação de decência e polidez que muito escasseia por cá. Paulo Portas tinha muitos dons e talentos, que mantém certamente. Mas nesta derrota, nesta nossa derrota, juntou-lhe a honra que muitos ex-presidentes da república, ex-primeiros ministros, e ex-presidentes de partido, com bem mais anos de intervenção pública, jamais terão.Todos os que tiveram o privilégio de trabalhar com Paulo Portas, e nós tivémo-lo, sabem o diferente que é e a marca rara que deixa. É por isto, sobretudo, que Paulo Portas não pode sair e não deve sair.[Inês Teotónio Pereira e Jacinto Bettencourt]

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