O Acidental: A liberdade também devia ser nossa

01-07-2011
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No final dos anos 80 e no princípio dos anos 90, Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso convidaram para escrever no seu jornal, que se afirmava descomplexadamente de Direita, vários "independentes" - uns mais próximos da Direita e outros mais próximos da Esquerda. Nenhum era "filiado".
Vasco Pulido Valente, José Bénard da Costa, Leonardo Ferraz de Carvalho, Augusto Cid, Maria Filomena Mónica, Constança Cunha e Sá e muitos outros. Escreveram, sempre com inteira liberdade, o que lhes apeteceu, quando lhes apeteceu e sobre quem lhes apeteceu. Por aquele jornal passaram todos (consta que até Francisco Louçã) e quase todos eram legíveis.
Na altura, o país era governado pelas maiorias absolutas de Cavaco Silva e as principais críticas dos editoriais que encantavam as actuais gerações de comentadores da blogosfera - e não só - dirigiam-se contra o pensamento único da esquerda politicamente correcta, o controlo da imprensa, os tecnocratas e burocratas europeus, o limite das liberdades, o cinzentismo latente, o intervencionismo excessivo do Estado, a cultura tacanha, o despesismo e o compadrio.
Aclamava-se o arrojo, a independência, o atrevimento, a inteligência, a crítica e, acima de tudo, a liberdade, que até à data era um termo de que a Esquerda se tinha ilegitimamente apropriado. Paulo Portas, mais do que todos os outros, revolucionou a imprensa e deu palco a quem merecia ser lido.
Hoje, Paulo Portas é ministro e líder do CDS. Hoje, quase não há palco para ouvir, ler ou discutir quem realmente apetece ler, ouvir ou contestar. Os comentadores "independentes" notabilizados – uns mais próximos da Direita, outros mais próximos da Esquerda – são escassos e não trazem nada de novo.
O panorama nacional é dramático: António José Teixeira, Pacheco Pereira, Miguel Sousa Tavares, José Manuel Fernandes, ocuparam o lugar dos vascos, dos leonardos e dos bénards dos dias hoje. E o pior não é isso. O pior é que aqueles que têm um propósito, que são inteligentes e cultos, que podiam marcar a diferença, sem desonestidade intelectual, não o fazem ou não o podem fazer. Paulo Portas e outros já demonstraram como isso pode e deve ser feito. Agora só falta fazer, antes que seja tarde. Antes que o arrojo, a independência, o atrevimento, a inteligência, a crítica fundamentada e, acima de tudo, a liberdade, passem de novo a ser um património exclusivo da Esquerda cínica e intelectualmente desonesta.
[Inês Teotónio Pereira]

No final dos anos 80 e no princípio dos anos 90, Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso convidaram para escrever no seu jornal, que se afirmava descomplexadamente de Direita, vários "independentes" - uns mais próximos da Direita e outros mais próximos da Esquerda. Nenhum era "filiado".
Vasco Pulido Valente, José Bénard da Costa, Leonardo Ferraz de Carvalho, Augusto Cid, Maria Filomena Mónica, Constança Cunha e Sá e muitos outros. Escreveram, sempre com inteira liberdade, o que lhes apeteceu, quando lhes apeteceu e sobre quem lhes apeteceu. Por aquele jornal passaram todos (consta que até Francisco Louçã) e quase todos eram legíveis.
Na altura, o país era governado pelas maiorias absolutas de Cavaco Silva e as principais críticas dos editoriais que encantavam as actuais gerações de comentadores da blogosfera - e não só - dirigiam-se contra o pensamento único da esquerda politicamente correcta, o controlo da imprensa, os tecnocratas e burocratas europeus, o limite das liberdades, o cinzentismo latente, o intervencionismo excessivo do Estado, a cultura tacanha, o despesismo e o compadrio.
Aclamava-se o arrojo, a independência, o atrevimento, a inteligência, a crítica e, acima de tudo, a liberdade, que até à data era um termo de que a Esquerda se tinha ilegitimamente apropriado. Paulo Portas, mais do que todos os outros, revolucionou a imprensa e deu palco a quem merecia ser lido.
Hoje, Paulo Portas é ministro e líder do CDS. Hoje, quase não há palco para ouvir, ler ou discutir quem realmente apetece ler, ouvir ou contestar. Os comentadores "independentes" notabilizados – uns mais próximos da Direita, outros mais próximos da Esquerda – são escassos e não trazem nada de novo.
O panorama nacional é dramático: António José Teixeira, Pacheco Pereira, Miguel Sousa Tavares, José Manuel Fernandes, ocuparam o lugar dos vascos, dos leonardos e dos bénards dos dias hoje. E o pior não é isso. O pior é que aqueles que têm um propósito, que são inteligentes e cultos, que podiam marcar a diferença, sem desonestidade intelectual, não o fazem ou não o podem fazer. Paulo Portas e outros já demonstraram como isso pode e deve ser feito. Agora só falta fazer, antes que seja tarde. Antes que o arrojo, a independência, o atrevimento, a inteligência, a crítica fundamentada e, acima de tudo, a liberdade, passem de novo a ser um património exclusivo da Esquerda cínica e intelectualmente desonesta.
[Inês Teotónio Pereira]

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