PALAVROSSAVRVS REX: PEC, OU A VÃ GLÓRIA DE MENTIR

04-07-2011
marcar artigo


Ontem, ao cruzar-me com o Maestro António Vitorino de Almeida e a sua bengala castanho-claro, numa das carruagens do Intercidades das 17:39, Oriente, pensei na filha, Inês de Medeiros. Aveiro ou Ovar, aproximava-se já o fim da minha viagem. Preparava-me para a saída. Vislumbrei-o imediatamente, ao fundo de uma das carruagens, em trânsito para o Bar ou para as Latrinas. Ei-lo tímido e cabisbaixo, como muitas divinas figuras públicas, humildes, no seu recato à prova de invasivos sorridentes. Barriga com barriga, cabeça com cabeça, en passant, murmurei: «Maestro!». «Boa tarde!», rosnou-respondeu. Foi então que, além de ter pensado em Inês, tive compaixão dele, o pai. Como Cruela, com os Dálmatas, ou a Bruxa Má, com a Branca de Neve, ou a Madrasta, com a Gata Borralheira, ou a Bruxa Velha da Casa de Chocolate no meio da Floresta, com Hansel und Gretel, José Sócrates possuía a sua filha-troféu. Até ela, actriz, em serviço do seu detentor-actor, defendia a vã glória de mentir. Compadeci-me, por isso mesmo, redobradamente, do pai. Mentir no negócio-controlo da TVI não escandaliza. O PEC, afinal, aumenta impostos, no PEC, o investimento público afinal é mau, com o PEC, o TGV, afinal, pode ser revisto e os salários, afinal, podem congelar assim como as reformas. Tudo isto ao mesmo tempo que se diz aos portugueses que os impostos não subirão. As hordas de subsidiados e a Classe Média, cada vez mais mínima, podem continuar a votar no partido certo. E é assim que Inês de Medeiros, a actriz, se interpõe, numa espécie de Síndrome de Estocolmo, em favor do seu captor moral: considera que, se Sócrates mente, isso não é grave. Com efeito, se eu fosse pai disto teria um certo orgulho envergonhado.


Ontem, ao cruzar-me com o Maestro António Vitorino de Almeida e a sua bengala castanho-claro, numa das carruagens do Intercidades das 17:39, Oriente, pensei na filha, Inês de Medeiros. Aveiro ou Ovar, aproximava-se já o fim da minha viagem. Preparava-me para a saída. Vislumbrei-o imediatamente, ao fundo de uma das carruagens, em trânsito para o Bar ou para as Latrinas. Ei-lo tímido e cabisbaixo, como muitas divinas figuras públicas, humildes, no seu recato à prova de invasivos sorridentes. Barriga com barriga, cabeça com cabeça, en passant, murmurei: «Maestro!». «Boa tarde!», rosnou-respondeu. Foi então que, além de ter pensado em Inês, tive compaixão dele, o pai. Como Cruela, com os Dálmatas, ou a Bruxa Má, com a Branca de Neve, ou a Madrasta, com a Gata Borralheira, ou a Bruxa Velha da Casa de Chocolate no meio da Floresta, com Hansel und Gretel, José Sócrates possuía a sua filha-troféu. Até ela, actriz, em serviço do seu detentor-actor, defendia a vã glória de mentir. Compadeci-me, por isso mesmo, redobradamente, do pai. Mentir no negócio-controlo da TVI não escandaliza. O PEC, afinal, aumenta impostos, no PEC, o investimento público afinal é mau, com o PEC, o TGV, afinal, pode ser revisto e os salários, afinal, podem congelar assim como as reformas. Tudo isto ao mesmo tempo que se diz aos portugueses que os impostos não subirão. As hordas de subsidiados e a Classe Média, cada vez mais mínima, podem continuar a votar no partido certo. E é assim que Inês de Medeiros, a actriz, se interpõe, numa espécie de Síndrome de Estocolmo, em favor do seu captor moral: considera que, se Sócrates mente, isso não é grave. Com efeito, se eu fosse pai disto teria um certo orgulho envergonhado.

marcar artigo