- Jornalismo e Comunicação

25-01-2012
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Manuel António Pina: colunista diário no JN O Jornal de Notícias iniciou o mês de Setembro renovando a sua equipa de colunistas, um terreno em que o diário não tinha apostado muito. A principal nota é que o escritor e poeta Manuel António Pina, que foi durante muitos anos jornalista do JN e é um dos melhores cronistas portugueses, passa a ter uma coluna de segunda a sexta feira, na última página do jornal. Entre os nomes que passarão a integrar a lista de colunistas do JN destaca-se Manuel Serrão, Honório Novo, Elisa Ferreira e Paulo P. Almeida. Francisco José Viegas, Paquete de Oliveira, Judite de Sousa são alguns dos colunistas que já escreviam neste diário. A coluna de Manuel António Pina, intitulada "Por outras palavras" teve início anteontem, e logo com um texto "Apresentação sob a forma de crónica", que vale a pena ser aqui transcrito: "Provavelmente, está tudo dito. Mesmo o sentimento da ociosidade e da inutilidade das palavras é uma sensação infinitamente cansada. E, no entanto, temos que dizer tudo de novo todos os dias, de juntar os pedaços dispersos do mundo e, com eles, descobrir para nós um lugar do nosso tamanho ou, ao menos, uma forma de sentido para aquilo a que chamamos a nossa vida. E, para isso, tudo o que temos são palavras. O que sabemos palavras; o que sonhamos: palavras; o que sentimos: palavras; e a nossa própria boca que fala é, também ela, só uma frágil e insegura palavra. O cronista é filho de Cronos, o tempo que passa, e a crónica vive o mesmo redundante destino do jornal que, como os velhos tipógrafos diziam, no dia seguinte serve apenas para embrulhar peixe (e que outro destino tem tudo senão o esquecimento?). Está então o cronista diante do mundo e de si próprio. E só pode repetir (na melhor das hipóteses por outras palavras, donde o título genérico destas crónicas) aquilo que cada homem imemorialmente repete: o amor e a morte, o medo e a esperança, a alegria e a decepção. Acontece assim nos sonhos. Temos medo e sonhamos com a esfinge. A verdade, porém, não é a esfinge, a verdade é o medo; a esfinge é só a imprecisa forma do nosso medo. Também a crónica aqui falará, a partir de hoje, de gente, de factos, de acontecimentos, mas o que dirá é outra coisa. E essa coisa é que é a verdadeira."

Manuel António Pina: colunista diário no JN O Jornal de Notícias iniciou o mês de Setembro renovando a sua equipa de colunistas, um terreno em que o diário não tinha apostado muito. A principal nota é que o escritor e poeta Manuel António Pina, que foi durante muitos anos jornalista do JN e é um dos melhores cronistas portugueses, passa a ter uma coluna de segunda a sexta feira, na última página do jornal. Entre os nomes que passarão a integrar a lista de colunistas do JN destaca-se Manuel Serrão, Honório Novo, Elisa Ferreira e Paulo P. Almeida. Francisco José Viegas, Paquete de Oliveira, Judite de Sousa são alguns dos colunistas que já escreviam neste diário. A coluna de Manuel António Pina, intitulada "Por outras palavras" teve início anteontem, e logo com um texto "Apresentação sob a forma de crónica", que vale a pena ser aqui transcrito: "Provavelmente, está tudo dito. Mesmo o sentimento da ociosidade e da inutilidade das palavras é uma sensação infinitamente cansada. E, no entanto, temos que dizer tudo de novo todos os dias, de juntar os pedaços dispersos do mundo e, com eles, descobrir para nós um lugar do nosso tamanho ou, ao menos, uma forma de sentido para aquilo a que chamamos a nossa vida. E, para isso, tudo o que temos são palavras. O que sabemos palavras; o que sonhamos: palavras; o que sentimos: palavras; e a nossa própria boca que fala é, também ela, só uma frágil e insegura palavra. O cronista é filho de Cronos, o tempo que passa, e a crónica vive o mesmo redundante destino do jornal que, como os velhos tipógrafos diziam, no dia seguinte serve apenas para embrulhar peixe (e que outro destino tem tudo senão o esquecimento?). Está então o cronista diante do mundo e de si próprio. E só pode repetir (na melhor das hipóteses por outras palavras, donde o título genérico destas crónicas) aquilo que cada homem imemorialmente repete: o amor e a morte, o medo e a esperança, a alegria e a decepção. Acontece assim nos sonhos. Temos medo e sonhamos com a esfinge. A verdade, porém, não é a esfinge, a verdade é o medo; a esfinge é só a imprecisa forma do nosso medo. Também a crónica aqui falará, a partir de hoje, de gente, de factos, de acontecimentos, mas o que dirá é outra coisa. E essa coisa é que é a verdadeira."

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