O perigo mora ao lado, mas os moradores não o vêem nem sentem

29-08-2011
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A operação, coordenada pela Urbindústria - uma empresa com capitais do Estado responsável pela gestão dos resíduos da antiga Siderurgia Nacional que entretanto se fundiu com a Quimiparque e deu origem à Baía do Tejo S.A -, tinha o aval da então Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT) e até foi financiada com fundos comunitários. Havia, aliás, análises que atestavam que as cinzas ali depositadas eram inertes e só quando suspeitou que estavam a ser excedidas as 97,5 mil toneladas contratadas é que a DRAOT mandou suspender o processo. Terão ficado ali enterradas 88 mil toneladas de cinzas, segundo cálculos do LNEC. Seguiram-se anos e anos de denúncias. Na posse de análises que comprovavam a perigosidade dos resíduos, a eurodeputada comunista Ilda Figueiredo levou o assunto à Comissão Europeia. Nuno Melo, do CDS/PP, também. E acaba por ser a própria Comissão de Coordenação da Região Norte que, depois de o LNEC ter feito a prova dos nove à perigosidade dos resíduos, denuncia o caso ao Ministério Público. A Procuradoria-Geral da República abriu este mês uma investigação para apurar responsabilidades. Há documentos que comprovam o pagamento do depósito de 320 mil toneladas e que adensam as suspeitas de corrupção.

"Houve quem se tivesse permitido transformar resíduos altamente perigosos - que podem ser responsáveis por doenças como cancro ou malformações fetais - em resíduos inertes e, sob essa falsa capa e com documentos falsos, os tivesse depositado no meio de zonas habitacionais, a pretexto do arranjo urbanístico da zona, apropriando-se de dinheiro público e beneficiando terceiros. Espero que as responsabilidades criminais sejam apuradas e que os seus autores não venham a beneficiar da prescrição", declara Nuno Melo. O comunista Honório Novo, cujo partido tem agendada para Setembro uma iniciativa no sentido de obrigar a que o próximo Orçamento de Estado contemple as verbas necessárias para a remoção dos resíduos, é lapidar: "Não tenho dúvidas que houve nesta matéria compadrio e corrupção externa, como não tenho dúvidas que essa situação se estendeu a pessoas dos próprios serviços da DRAOT".

Enquanto a investigação prossegue, enquanto as há muito prometidas análises à qualidade das águas subterrâneas do local não chegam, a população aguarda. Os que, como Carlos Moura, têm furos a partir dos quais regam os hortícolas e dão de beber aos animais vão confiando na sorte. "A minha mulher está sempre a ameaçar que vai deixar de dar aquela água aos animais, agora que comêssemos uma galinha e nos tivéssemos sentido mal a seguir nunca aconteceu", relativiza este cravador de ourivesaria, 45 anos. "É uma coisa em que vou pensando mas que não me tira o sono. Olhe, é como a morte: a gente sabe que vai morrer, mas não anda todos os dias a pensar nisso".

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"Houve quem se tivesse permitido transformar resíduos altamente perigosos - que podem ser responsáveis por doenças como cancro ou malformações fetais - em resíduos inertes e, sob essa falsa capa e com documentos falsos, os tivesse depositado no meio de zonas habitacionais, a pretexto do arranjo urbanístico da zona, apropriando-se de dinheiro público e beneficiando terceiros. Espero que as responsabilidades criminais sejam apuradas e que os seus autores não venham a beneficiar da prescrição", declara Nuno Melo. O comunista Honório Novo, cujo partido tem agendada para Setembro uma iniciativa no sentido de obrigar a que o próximo Orçamento de Estado contemple as verbas necessárias para a remoção dos resíduos, é lapidar: "Não tenho dúvidas que houve nesta matéria compadrio e corrupção externa, como não tenho dúvidas que essa situação se estendeu a pessoas dos próprios serviços da DRAOT".

Enquanto a investigação prossegue, enquanto as há muito prometidas análises à qualidade das águas subterrâneas do local não chegam, a população aguarda. Os que, como Carlos Moura, têm furos a partir dos quais regam os hortícolas e dão de beber aos animais vão confiando na sorte. "A minha mulher está sempre a ameaçar que vai deixar de dar aquela água aos animais, agora que comêssemos uma galinha e nos tivéssemos sentido mal a seguir nunca aconteceu", relativiza este cravador de ourivesaria, 45 anos. "É uma coisa em que vou pensando mas que não me tira o sono. Olhe, é como a morte: a gente sabe que vai morrer, mas não anda todos os dias a pensar nisso".

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