Jorge Mangorrinha e Helena Pinto lançaram livro sobre arquitectura termal portuguesa

13-10-2015
marcar artigo

"O Desenho das Termas: História da Arquitectura Termal Portuguesa" designa o livro da autoria da investigadora Helena Pinto e do arquitecto Jorge Mangorrinha.

O casal caldense apresentou esta obra em Dezembro, no Hotel Palácio do Estoril, no que é o primeiro estudo dedicado à área cientifica da arquitectura termal. Nele há material inédito que permite uma melhor contextualização da evolução da arquitectura termal e da própria história do termalismo em Portugal.

Este estudo acaba por dar também "contributos para a arquitectura portuguesa em geral e para a história de cada local", disseram os investigadores locais.

"O Desenho das Termas: História da Arquitectura Termal Portuguesa" é o primeiro estudo vocacionado para a área científica da arquitectura termal e, como tal, "mereceu o interesse e apoio de diversas instituições, por sentirem a falta de um estudo com estas características", contaram os autores.

Por se tratar de um estudo inédito, os autores caldense estão orgulhosos por terem sido os seus autores e de terem obtido o apoio do Ministério da Economia, através da Direcção-Geral de Energia e Geologia.

O livro, de grande formato e edição de luxo, aborda com profundidade projectos desenvolvidos para o território termal (os construídos e aqueles que foram apenas projectados) e na totalidade "permitem criar um percurso estruturante para a teoria e história da arquitectura termal portuguesa", disseram.

Sobre os edifícios construídos, os autores realizaram uma análise aprofundada para perceber a sua concepção, no contexto da evolução da arquitectura termal e da história do termalismo. Estas análises "são contributos para a arquitectura portuguesa em geral e para a história de cada local".

O Desenho das Termas: História da Arquitectura Termal Portuguesa tem mais de 500 páginas e refere-se "a mais de 500 anos de história, em diferentes escalas e tipologias, tanto se revela a expressão arquitectónica popular como o paradigma do ideal urbano", disseram os autores. A obra apresenta mais de 900 imagens de arquivo e actuais, maioritariamente inéditas.

Segundo as suas pesquisas, "a evolução do termalismo em Portugal acompanhou diferenciadamente o progresso europeu, porque foi vanguardista no século XV, mas mais tardia nos séculos XIX e XX, relativamente a outros países, embora neste caso tomasse aspectos singulares, de acordo com um percurso de oscilações de sentimentos e atitudes, desenhado sob uma mesma matriz funcional", disseram.

Actualmente assiste-se a uma tendência da arquitectura termal portuguesa "muito próxima da que se faz noutros países europeus, sobretudo em termos funcionais", defenderam. Os últimos avanços trazem "a reabilitação das heranças edificadas e, só mais recentemente, a arquitectura nova que diversifica as abordagens, sob uma programação que ganha novos contornos", explicaram.

"Características próprias dos Pavilhões devem condicionar nova função"

O novo livro dá também um contributo para que a história das termas das Caldas "passe a estar melhor contextualizada na evolução histórica do termalismo e da arquitectura termal", segundo afirmaram os investigadores. O percurso da história termal caldense começa no final do século XV, com a criação do hospital, "o primeiro hospital termal do mundo com as suas características tão peculiares e inovadoras, desde logo em termos de programa funcional".

Os autores salientaram que, nas Caldas, a assistência aos mais desfavorecidos e a estratégia política da casa real portuguesa "foram o suporte fundacional de um hospital pioneiro, organizado com espaços e recursos humanos vocacionados para a terapia das águas".

O seu edifico com desenho renascentista, estrutura abobadada, soberbos mármores e organização distributiva com grandes áreas de banhos colectivos, o complexo hospitalar e capela anexa ligam-se à escola de Mateus Fernandes, figura cimeira dos "Mestres de Obras". "Aqui fazem-se os primeiros ensaios do manuelino, variação portuguesa do gótico final", disseram.

Esta estrutura hospitalar durou dois séculos e meio, até se justificar a sua reconstrução, motivada pela observação directa do rei. O monarca disponibilizou o seu corpo técnico para lançar a "refundação" deste complexo termal, "dotando-o de novo hospital e melhoramentos na vila, sob o traço dos melhores representantes da engenharia militar portuguesa setecentista, liderados por Manuel da Maia, engenheiro-mor do Reino".

Segundo os autores, na viragem do século XIX para o seguinte, nas termas portuguesas confrontam-se valores artísticos oitocentistas com propostas marcadamente funcionalistas. O espaço urbano preenche-se de outros edifícios que marcam rituais de cura e lazer, como parques, alamedas, pavilhões de nascente, oficinas de engarrafamento, hotéis, clubes e casinos.

Nas Caldas, Rodrigo Berquó define o território termal no final do século XIX, "expelindo a especulação imobiliária e reforçando o "passear as águas" por parte dos aquistas", disseram.

Neste contexto os Pavilhões do Parque, projectados para um hospital, sem contudo cumprirem essa função, "tornaram-se num ícone urbano e uma peça arquitectónica única no país e merece, portanto, uma atenção futura, não só pela sua importância local, mas também no contexto da arquitectura de fim de século nas termas portuguesas", consideram.

Hoje, acham que o problema dos Pavilhões "deve ser visto no quadro de um sistema urbano que estrategicamente se desenvolva não perdendo de vista as raízes e identidades deste sistema, antes pelo contrário deve potenciá-las".

Um edifício pode ser um elemento importante, em torno do qual se concentre um projecto mais vasto, "mas não deve apenas ser o único alvo das atenções". Além do mais, a intervenção que há muito necessita por parte do Ministério da Saúde deve assentar, primeiro, nas suas características arquitectónicas, sobretudo a sua espacialidade. "Não é o programa que condiciona a intervenção, mas são aquelas características que motivam a nova função, afinal, tal como a história, muito bem, nos serve de ensinamento", acrescentaram.

Os autores vão prosseguir os seus trabalhos na área termal pois" cada etapa abre novas perspectivas e oportunidades", remataram.

"Nunca chegámos a deixar o Oeste"

Gazeta das Caldas aproveitou a ocasião para questionar os autores sobre outras questões relacionadas com o seu percurso nas Caldas já que tanto Helena Pinto como Jorge Mangorrinha estiveram ligados a entidades públicas nos últimos tempos.

Helena Gonçalves Pinto é pós-graduada em Museologia e Património e foi coordenadora do Museu do Hospital e das Caldas. Jorge Mangorrinha é doutorado em Urbanismo e investigador em Termalismo e Ordenamento Turístico. Foi vereador da Câmara das Caldas entre 2002 e 2005, após ter liderado um movimentado independente de curta duração.

Gazeta das Caldas (G.C):O que estão a fazer profissionalmente?

Helena Pinto e Jorge Mangorrinha (HP-JM): Trabalhar nas instituições a que pertencemos.

G.C: Como é actualmente a vossa relação com as Caldas?HP-JM: Excelente.

G.C: Se previsse que a propostas que apresentou na Câmara (candidatura a património mundial, criação de Conselho da Cidade, concursos de arquitectura, projectos de design urbano, cooperação e projectos conjuntos com algumas universidades, etc.) não tivessem continuidade a seguir à saída, teria investido tanto nos mesmos e aceite o convite do PSD para participar na lista em 2001?

HP-JM: As convicções pessoais, se importantes para o colectivo, merecem que sejam defendidas, mas a sua concretização é feita em comunidade.G.C: Quando pensam regressar? Há trabalhos de investigação a realizar no Oeste?

HP-JM: Verdadeiramente, nós nunca saímos. Por certo que há trabalhos a realizar no Oeste, designadamente com outros investigadores.

G.C: Qual a vossa opinião sobre o que aconteceu (está a acontecer) com o Conselho de Cidade, projecto que derivou do CLIC?

HP-JM: Qualquer entidade associativa confronta-se com períodos mais ou menos enérgicos, dependendo também dos contextos em que se inserem esses mesmos períodos de actuação.

G.C: Vê no futuro um regresso ao poder autárquico local? E Helena Pinto gostaria de voltar a trabalhar na museologia da região? HP-JM: Não adivinhamos o futuro. Neste momento, estamos realizados com o que fazemos e sentimos que somos úteis e acarinhados por quem está connosco.G.C: Acham os caldenses ingratos?

HP-JM: Não. E nós também somos caldenses.

"O Desenho das Termas: História da Arquitectura Termal Portuguesa" designa o livro da autoria da investigadora Helena Pinto e do arquitecto Jorge Mangorrinha.

O casal caldense apresentou esta obra em Dezembro, no Hotel Palácio do Estoril, no que é o primeiro estudo dedicado à área cientifica da arquitectura termal. Nele há material inédito que permite uma melhor contextualização da evolução da arquitectura termal e da própria história do termalismo em Portugal.

Este estudo acaba por dar também "contributos para a arquitectura portuguesa em geral e para a história de cada local", disseram os investigadores locais.

"O Desenho das Termas: História da Arquitectura Termal Portuguesa" é o primeiro estudo vocacionado para a área científica da arquitectura termal e, como tal, "mereceu o interesse e apoio de diversas instituições, por sentirem a falta de um estudo com estas características", contaram os autores.

Por se tratar de um estudo inédito, os autores caldense estão orgulhosos por terem sido os seus autores e de terem obtido o apoio do Ministério da Economia, através da Direcção-Geral de Energia e Geologia.

O livro, de grande formato e edição de luxo, aborda com profundidade projectos desenvolvidos para o território termal (os construídos e aqueles que foram apenas projectados) e na totalidade "permitem criar um percurso estruturante para a teoria e história da arquitectura termal portuguesa", disseram.

Sobre os edifícios construídos, os autores realizaram uma análise aprofundada para perceber a sua concepção, no contexto da evolução da arquitectura termal e da história do termalismo. Estas análises "são contributos para a arquitectura portuguesa em geral e para a história de cada local".

O Desenho das Termas: História da Arquitectura Termal Portuguesa tem mais de 500 páginas e refere-se "a mais de 500 anos de história, em diferentes escalas e tipologias, tanto se revela a expressão arquitectónica popular como o paradigma do ideal urbano", disseram os autores. A obra apresenta mais de 900 imagens de arquivo e actuais, maioritariamente inéditas.

Segundo as suas pesquisas, "a evolução do termalismo em Portugal acompanhou diferenciadamente o progresso europeu, porque foi vanguardista no século XV, mas mais tardia nos séculos XIX e XX, relativamente a outros países, embora neste caso tomasse aspectos singulares, de acordo com um percurso de oscilações de sentimentos e atitudes, desenhado sob uma mesma matriz funcional", disseram.

Actualmente assiste-se a uma tendência da arquitectura termal portuguesa "muito próxima da que se faz noutros países europeus, sobretudo em termos funcionais", defenderam. Os últimos avanços trazem "a reabilitação das heranças edificadas e, só mais recentemente, a arquitectura nova que diversifica as abordagens, sob uma programação que ganha novos contornos", explicaram.

"Características próprias dos Pavilhões devem condicionar nova função"

O novo livro dá também um contributo para que a história das termas das Caldas "passe a estar melhor contextualizada na evolução histórica do termalismo e da arquitectura termal", segundo afirmaram os investigadores. O percurso da história termal caldense começa no final do século XV, com a criação do hospital, "o primeiro hospital termal do mundo com as suas características tão peculiares e inovadoras, desde logo em termos de programa funcional".

Os autores salientaram que, nas Caldas, a assistência aos mais desfavorecidos e a estratégia política da casa real portuguesa "foram o suporte fundacional de um hospital pioneiro, organizado com espaços e recursos humanos vocacionados para a terapia das águas".

O seu edifico com desenho renascentista, estrutura abobadada, soberbos mármores e organização distributiva com grandes áreas de banhos colectivos, o complexo hospitalar e capela anexa ligam-se à escola de Mateus Fernandes, figura cimeira dos "Mestres de Obras". "Aqui fazem-se os primeiros ensaios do manuelino, variação portuguesa do gótico final", disseram.

Esta estrutura hospitalar durou dois séculos e meio, até se justificar a sua reconstrução, motivada pela observação directa do rei. O monarca disponibilizou o seu corpo técnico para lançar a "refundação" deste complexo termal, "dotando-o de novo hospital e melhoramentos na vila, sob o traço dos melhores representantes da engenharia militar portuguesa setecentista, liderados por Manuel da Maia, engenheiro-mor do Reino".

Segundo os autores, na viragem do século XIX para o seguinte, nas termas portuguesas confrontam-se valores artísticos oitocentistas com propostas marcadamente funcionalistas. O espaço urbano preenche-se de outros edifícios que marcam rituais de cura e lazer, como parques, alamedas, pavilhões de nascente, oficinas de engarrafamento, hotéis, clubes e casinos.

Nas Caldas, Rodrigo Berquó define o território termal no final do século XIX, "expelindo a especulação imobiliária e reforçando o "passear as águas" por parte dos aquistas", disseram.

Neste contexto os Pavilhões do Parque, projectados para um hospital, sem contudo cumprirem essa função, "tornaram-se num ícone urbano e uma peça arquitectónica única no país e merece, portanto, uma atenção futura, não só pela sua importância local, mas também no contexto da arquitectura de fim de século nas termas portuguesas", consideram.

Hoje, acham que o problema dos Pavilhões "deve ser visto no quadro de um sistema urbano que estrategicamente se desenvolva não perdendo de vista as raízes e identidades deste sistema, antes pelo contrário deve potenciá-las".

Um edifício pode ser um elemento importante, em torno do qual se concentre um projecto mais vasto, "mas não deve apenas ser o único alvo das atenções". Além do mais, a intervenção que há muito necessita por parte do Ministério da Saúde deve assentar, primeiro, nas suas características arquitectónicas, sobretudo a sua espacialidade. "Não é o programa que condiciona a intervenção, mas são aquelas características que motivam a nova função, afinal, tal como a história, muito bem, nos serve de ensinamento", acrescentaram.

Os autores vão prosseguir os seus trabalhos na área termal pois" cada etapa abre novas perspectivas e oportunidades", remataram.

"Nunca chegámos a deixar o Oeste"

Gazeta das Caldas aproveitou a ocasião para questionar os autores sobre outras questões relacionadas com o seu percurso nas Caldas já que tanto Helena Pinto como Jorge Mangorrinha estiveram ligados a entidades públicas nos últimos tempos.

Helena Gonçalves Pinto é pós-graduada em Museologia e Património e foi coordenadora do Museu do Hospital e das Caldas. Jorge Mangorrinha é doutorado em Urbanismo e investigador em Termalismo e Ordenamento Turístico. Foi vereador da Câmara das Caldas entre 2002 e 2005, após ter liderado um movimentado independente de curta duração.

Gazeta das Caldas (G.C):O que estão a fazer profissionalmente?

Helena Pinto e Jorge Mangorrinha (HP-JM): Trabalhar nas instituições a que pertencemos.

G.C: Como é actualmente a vossa relação com as Caldas?HP-JM: Excelente.

G.C: Se previsse que a propostas que apresentou na Câmara (candidatura a património mundial, criação de Conselho da Cidade, concursos de arquitectura, projectos de design urbano, cooperação e projectos conjuntos com algumas universidades, etc.) não tivessem continuidade a seguir à saída, teria investido tanto nos mesmos e aceite o convite do PSD para participar na lista em 2001?

HP-JM: As convicções pessoais, se importantes para o colectivo, merecem que sejam defendidas, mas a sua concretização é feita em comunidade.G.C: Quando pensam regressar? Há trabalhos de investigação a realizar no Oeste?

HP-JM: Verdadeiramente, nós nunca saímos. Por certo que há trabalhos a realizar no Oeste, designadamente com outros investigadores.

G.C: Qual a vossa opinião sobre o que aconteceu (está a acontecer) com o Conselho de Cidade, projecto que derivou do CLIC?

HP-JM: Qualquer entidade associativa confronta-se com períodos mais ou menos enérgicos, dependendo também dos contextos em que se inserem esses mesmos períodos de actuação.

G.C: Vê no futuro um regresso ao poder autárquico local? E Helena Pinto gostaria de voltar a trabalhar na museologia da região? HP-JM: Não adivinhamos o futuro. Neste momento, estamos realizados com o que fazemos e sentimos que somos úteis e acarinhados por quem está connosco.G.C: Acham os caldenses ingratos?

HP-JM: Não. E nós também somos caldenses.

marcar artigo