Não há ataques de borla

04-10-2011
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Quando há 10 anos se deu o 11 de Setembro e o Presidente americano de então, George W. Bush, decretou guerra aos terroristas onde quer que eles estivessem, o mundo assistiu ao ataque do suposto coração da al-Qaeda, situado no Afeganistão.

Muito se disse e escreveu sobre a legitimidade de tal ofensiva, mas Bin Laden, o cérebro da organização terrorista, só viria a ser morto este ano, no vizinho Paquistão. Recentemente a CBS, a propósito dos 10 anos dos atentados do 11 de Setembro, fez uma série de reportagens que nos transportaram ao ano de 1979, altura em que foram lançadas as sementes da al-Qaeda, aquando do assassínio do Presidente do Egipto, Anwar Al Sadat. Nas magníficas e intrigantes pesquisas da cadeia de televisão americana, percebe-se que houve muitas decisões inexplicáveis e que mesmo ouvindo vários elementos das secretas americanas não se chega a uma conclusão definitiva. Sabe-se, sim, que Bin Laden e os seus ‘generais’ foram defendidos por razões que só um dia mais tarde viremos a perceber.

Vem esta conversa a propósito do que se está a passar na Líbia. Com o apoio da NATO, que não tem parado de bombardear os últimos bastiões dos seguidores de Kadhafi, as tropas rebeldes vão ganhando terreno à medida que vão lançando o caos na população. Há violações, ajustes de contas, grupos que já se guerreiam entre si, e, não menos importante, um crescendo dos movimentos mais fundamentalistas, que hão-de retirar todos os direitos às mulheres e aos grupos que não sejam islâmicos. Quase sempre que as forças internacionais se metem nos outros países, o resultado não é brilhante. Kadhafi, que durante muitos anos foi considerado um personagem a abater, tinha conseguido nos últimos tempos reunir a simpatia da União Europeia e de outros países dos diferentes continentes. Os negócios assim o determinavam. Para o bem e para o mal, o regime de Kadhafi afastava-se, segundo rezam as crónicas, da al-Qaeda. Com o fim do ditador líbio, adivinha-se a chegada de tais criaturas ao poder. Daqui a 10 ou 20 anos saberemos, ou não, que negociações estiveram na origem da mudança da posição da União Europeia e restantes países em relação à Líbia de Kadhafi. Talvez por esse motivo – para nunca revelar o que sabe sobre aqueles que noutros tempos o defenderam e agora o atacam – o antigo líder líbio não seja apanhado com vida...

Curiosamente, na Arábia Saudita, sem ninguém interferir directamente, os sinais de mudança começam a surgir. A liderar as alterações dos costumes e das vidas estão as mulheres que se servem das redes sociais para irem conquistando o seu espaço. Se na Líbia se tivesse passado o mesmo, talvez o mundo fosse mais seguro no futuro. Afinal, não há intervenções militares de borla.

vitor.rainho@sol.pt

Quando há 10 anos se deu o 11 de Setembro e o Presidente americano de então, George W. Bush, decretou guerra aos terroristas onde quer que eles estivessem, o mundo assistiu ao ataque do suposto coração da al-Qaeda, situado no Afeganistão.

Muito se disse e escreveu sobre a legitimidade de tal ofensiva, mas Bin Laden, o cérebro da organização terrorista, só viria a ser morto este ano, no vizinho Paquistão. Recentemente a CBS, a propósito dos 10 anos dos atentados do 11 de Setembro, fez uma série de reportagens que nos transportaram ao ano de 1979, altura em que foram lançadas as sementes da al-Qaeda, aquando do assassínio do Presidente do Egipto, Anwar Al Sadat. Nas magníficas e intrigantes pesquisas da cadeia de televisão americana, percebe-se que houve muitas decisões inexplicáveis e que mesmo ouvindo vários elementos das secretas americanas não se chega a uma conclusão definitiva. Sabe-se, sim, que Bin Laden e os seus ‘generais’ foram defendidos por razões que só um dia mais tarde viremos a perceber.

Vem esta conversa a propósito do que se está a passar na Líbia. Com o apoio da NATO, que não tem parado de bombardear os últimos bastiões dos seguidores de Kadhafi, as tropas rebeldes vão ganhando terreno à medida que vão lançando o caos na população. Há violações, ajustes de contas, grupos que já se guerreiam entre si, e, não menos importante, um crescendo dos movimentos mais fundamentalistas, que hão-de retirar todos os direitos às mulheres e aos grupos que não sejam islâmicos. Quase sempre que as forças internacionais se metem nos outros países, o resultado não é brilhante. Kadhafi, que durante muitos anos foi considerado um personagem a abater, tinha conseguido nos últimos tempos reunir a simpatia da União Europeia e de outros países dos diferentes continentes. Os negócios assim o determinavam. Para o bem e para o mal, o regime de Kadhafi afastava-se, segundo rezam as crónicas, da al-Qaeda. Com o fim do ditador líbio, adivinha-se a chegada de tais criaturas ao poder. Daqui a 10 ou 20 anos saberemos, ou não, que negociações estiveram na origem da mudança da posição da União Europeia e restantes países em relação à Líbia de Kadhafi. Talvez por esse motivo – para nunca revelar o que sabe sobre aqueles que noutros tempos o defenderam e agora o atacam – o antigo líder líbio não seja apanhado com vida...

Curiosamente, na Arábia Saudita, sem ninguém interferir directamente, os sinais de mudança começam a surgir. A liderar as alterações dos costumes e das vidas estão as mulheres que se servem das redes sociais para irem conquistando o seu espaço. Se na Líbia se tivesse passado o mesmo, talvez o mundo fosse mais seguro no futuro. Afinal, não há intervenções militares de borla.

vitor.rainho@sol.pt

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