O ministro que quer liberalizar despedimentos e suspender grandes obras

20-06-2011
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Três em um. Álvaro Santos Pereira, o académico sem experiência política ou empresarial, vai fundir, numa só pasta, três antigos ministérios: Economia, Emprego (Trabalho) e Obras Públicas, Transportes e Comunicações. O grande desafio vai ser passar da teoria à prática, nomeadamente na área laboral, já que é favor da liberalização dos despedimentos, o que implicaria uma revisão constitucional.

Doutorado em Economia, na canadiana Simon Fraser University, onde lecciona, defende uma reforma profunda dos despedimentos individuais e, no seu último livro (Portugal na Hora da Verdade), lançou um ataque aos governos que "morrem de medo" e não ousam "retirar aos trabalhadores tais direitos adquiridos". Se as mudanças previstas no memorando de entendimento ao nível dos despedimentos podem chocar com a Constituição, uma liberalização como propõe chocaria ainda mais. O académico admite, ainda assim, que, se a flexibilização "total do mercado de trabalho" não for possível, então deve centrar-se no sector exportador.

Na perspectiva do novo ministro, a política laboral e a competitividade, uma das prioridades para sair da crise, estão muito ligadas. No livro, defende que "a solução mais óbvia [para aumentar as exportações] seria cortar os salários", embora questione se será "politicamente possível". Outra via passaria por uma "desvalorização fiscal", através de uma descida drástica da taxa social única (TSU).

Os benefícios fiscais são, aliás, vistos por Santos Pereira, licenciado em Economia na Universidade de Coimbra, como essenciais para o empreendedorismo. "Se conseguimos ter no estrangeiro fadistas de qualidade, como a Mariza, ou futebolistas, como Cristiano Ronaldo, é porque têm óptimas campanhas de marketing, e é isso que precisamos nas empresas", disse em Dezembro de 2007 ao PÚBLICO.

O académico, que vivia até agora em Vancôver, revelou-se muito crítico da política do anterior Governo, e surgiu ao lado do PSD à medida que se aproximavam as eleições, tendo participado no fórum Mais Sociedade. No seu blogue (Desmitos), chegou a publicar uma lista de argumentos económicos para afastar o PS. Um dos pontos de ruptura é as grandes obras públicas, que considera que "deveriam ser, no mínimo, suspensas e adiadas até que a situação financeira do país permita fazê-las".

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Para o novo ministro, os únicos projectos relevantes são uma ligação ferroviária à Europa, "em bitola europeia", e uma melhoria das capacidades logísticas dos portos. Já quanto às parcerias público-privadas, que também são alvo de exigências de fiscalização no memorando da troika, acredita que "uma renegociação é altamente recomendável", sob pena de o Estado não conseguir "assegurar as suas obrigações financeiras".

No meio empresarial, há sectores que lhe são caros, como o turismo (ao qual entende faltar diferenciação e foco), a tecnologia e a energia, que lhe vai roubar tempo, tendo em conta as metas de liberalização dos mercados de electricidade e do gás natural até ao final de 2012. A consequência deverá ser uma subida dos preços, embora o académico seja um defensor da redução destes encargos.

Numa entrevista recente ao Jornal de Negócios, colocou de parte o cenário de se tornar político, mas, aos 39 anos, acabou por surgir no novo Governo, como independente. "O que eu não gosto no discurso político é quando se escondem as verdades", disse. I.S., R.A.C. e R.M.

Três em um. Álvaro Santos Pereira, o académico sem experiência política ou empresarial, vai fundir, numa só pasta, três antigos ministérios: Economia, Emprego (Trabalho) e Obras Públicas, Transportes e Comunicações. O grande desafio vai ser passar da teoria à prática, nomeadamente na área laboral, já que é favor da liberalização dos despedimentos, o que implicaria uma revisão constitucional.

Doutorado em Economia, na canadiana Simon Fraser University, onde lecciona, defende uma reforma profunda dos despedimentos individuais e, no seu último livro (Portugal na Hora da Verdade), lançou um ataque aos governos que "morrem de medo" e não ousam "retirar aos trabalhadores tais direitos adquiridos". Se as mudanças previstas no memorando de entendimento ao nível dos despedimentos podem chocar com a Constituição, uma liberalização como propõe chocaria ainda mais. O académico admite, ainda assim, que, se a flexibilização "total do mercado de trabalho" não for possível, então deve centrar-se no sector exportador.

Na perspectiva do novo ministro, a política laboral e a competitividade, uma das prioridades para sair da crise, estão muito ligadas. No livro, defende que "a solução mais óbvia [para aumentar as exportações] seria cortar os salários", embora questione se será "politicamente possível". Outra via passaria por uma "desvalorização fiscal", através de uma descida drástica da taxa social única (TSU).

Os benefícios fiscais são, aliás, vistos por Santos Pereira, licenciado em Economia na Universidade de Coimbra, como essenciais para o empreendedorismo. "Se conseguimos ter no estrangeiro fadistas de qualidade, como a Mariza, ou futebolistas, como Cristiano Ronaldo, é porque têm óptimas campanhas de marketing, e é isso que precisamos nas empresas", disse em Dezembro de 2007 ao PÚBLICO.

O académico, que vivia até agora em Vancôver, revelou-se muito crítico da política do anterior Governo, e surgiu ao lado do PSD à medida que se aproximavam as eleições, tendo participado no fórum Mais Sociedade. No seu blogue (Desmitos), chegou a publicar uma lista de argumentos económicos para afastar o PS. Um dos pontos de ruptura é as grandes obras públicas, que considera que "deveriam ser, no mínimo, suspensas e adiadas até que a situação financeira do país permita fazê-las".

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Para o novo ministro, os únicos projectos relevantes são uma ligação ferroviária à Europa, "em bitola europeia", e uma melhoria das capacidades logísticas dos portos. Já quanto às parcerias público-privadas, que também são alvo de exigências de fiscalização no memorando da troika, acredita que "uma renegociação é altamente recomendável", sob pena de o Estado não conseguir "assegurar as suas obrigações financeiras".

No meio empresarial, há sectores que lhe são caros, como o turismo (ao qual entende faltar diferenciação e foco), a tecnologia e a energia, que lhe vai roubar tempo, tendo em conta as metas de liberalização dos mercados de electricidade e do gás natural até ao final de 2012. A consequência deverá ser uma subida dos preços, embora o académico seja um defensor da redução destes encargos.

Numa entrevista recente ao Jornal de Negócios, colocou de parte o cenário de se tornar político, mas, aos 39 anos, acabou por surgir no novo Governo, como independente. "O que eu não gosto no discurso político é quando se escondem as verdades", disse. I.S., R.A.C. e R.M.

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