A deputada vaporosa e Alexandre Herculano

02-10-2015
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Uma deputada foi instada pela polícia a parar o carro que conduzia na rua Alexandre Herculano, em Lisboa. Trazia 2,41 gramas de álcool por litro nas veias.

A polícia de trânsito, sempre com nula sensibilidade política, não entendeu como se movia a legítima representante do povo. Obviamente que não era a álcool. O habitáculo da viatura parecia odorar substância etílica. Mas o depósito fedia a gasolina.

Glória Araújo acabara de celebrar em glória os seus 37 anos de idade. Quiçá num arroubo romântico, e julgando ser da família do tio Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (tem o mesmo apelido), foi aconselhar-se com o velho liberal para dar notoriedade à sua acção parlamentar até agora muito discreta.

Alexandre Herculano, o poeta, romancista, historiador e também deputado, nascido em 1810, teria muito para ensinar a esta eleita saída do anonimato por líquidas razões extra-parlamentares. Herculano esteve exilado em Inglaterra por ter conspirado contra o regime miguelista, participou no desembarque no Mindelo e no cerco do Porto, foi deputado pelo partido cartista, foi um dos fundadores do partido progressista histórico.

E, o mais importante, Herculano foi um dos redactores do primeiro Código Civil português e pioneiro na defesa do casamento civil.

Glória tentou melhorar as suas competências nesta área do Direito em que o divórcio está sempre à espreita. E lá foi aos ziguezagues em busca dos sábios conselhos de Alexandre Herculano. A polícia, obcecada apenas com o Direito Penal e o Código da Estrada, não entendeu a sede (de conhecimento) de uma legisladora desidratada. Obrigou-a a soprar num bocal descartável, tentando que a deputada expelisse alguma norma inconstitucional, quando devia apenas dar-lhe água das pedras ou duas pastilhas de Guronsan.

Alexandre Herculano exerce um enorme fascínio sobre mulheres ligadas às leis. Parece atrair o bafo de condutoras com um grãozinho na asa legislativo. Há perto de dois anos uma distinta magistrada do Ministério Público foi apanhada com 3,08 gramas por litro no seu hálito doce de anis escarchado, precisamente na rua de Cascais com o nome do mesmo escritor e notável político do liberalismo.

Alexandre Herculano já a pensar nestas situações emitiu um juízo que se mantém válido para estudantes de Direito, deputados, vereadores, governantes, mesmo os que ainda não expiraram num alcoolímetro: "Eu não me envergonho de corrigir meus erros e mudar as opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender". Gaspar e Coelho ainda não mudaram as suas opiniões catastróficas porque ainda não expiraram. E o povo português está ansioso por que expirem rápido, politicamente falando.

É claro que Glória, naquela aziaga noite de sexta-feira, não estaria provavelmente nas melhores condições para "raciocinar e aprender". Mas vai ter tempo para corrigir os seus erros se ela e alguém, para além dos polícias, reparar neles. E recordar o tempo em estava ao volante da Comissão Interparlamentar da Segurança Rodoviária.

Quem ainda não emborcou o primeiro copo de três, a decorar o Código da Estrada, que atire a primeira pedra.

Tentar dar bons exemplos cívicos aos jovens, como os que Glória dá no parlamento, na Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, pode esbarrar, com um pouco menos de sorte, numa barreira policial emboscada a caçar multas para encher os depauperados cofres do Estado.

Uma deputada foi instada pela polícia a parar o carro que conduzia na rua Alexandre Herculano, em Lisboa. Trazia 2,41 gramas de álcool por litro nas veias.

A polícia de trânsito, sempre com nula sensibilidade política, não entendeu como se movia a legítima representante do povo. Obviamente que não era a álcool. O habitáculo da viatura parecia odorar substância etílica. Mas o depósito fedia a gasolina.

Glória Araújo acabara de celebrar em glória os seus 37 anos de idade. Quiçá num arroubo romântico, e julgando ser da família do tio Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (tem o mesmo apelido), foi aconselhar-se com o velho liberal para dar notoriedade à sua acção parlamentar até agora muito discreta.

Alexandre Herculano, o poeta, romancista, historiador e também deputado, nascido em 1810, teria muito para ensinar a esta eleita saída do anonimato por líquidas razões extra-parlamentares. Herculano esteve exilado em Inglaterra por ter conspirado contra o regime miguelista, participou no desembarque no Mindelo e no cerco do Porto, foi deputado pelo partido cartista, foi um dos fundadores do partido progressista histórico.

E, o mais importante, Herculano foi um dos redactores do primeiro Código Civil português e pioneiro na defesa do casamento civil.

Glória tentou melhorar as suas competências nesta área do Direito em que o divórcio está sempre à espreita. E lá foi aos ziguezagues em busca dos sábios conselhos de Alexandre Herculano. A polícia, obcecada apenas com o Direito Penal e o Código da Estrada, não entendeu a sede (de conhecimento) de uma legisladora desidratada. Obrigou-a a soprar num bocal descartável, tentando que a deputada expelisse alguma norma inconstitucional, quando devia apenas dar-lhe água das pedras ou duas pastilhas de Guronsan.

Alexandre Herculano exerce um enorme fascínio sobre mulheres ligadas às leis. Parece atrair o bafo de condutoras com um grãozinho na asa legislativo. Há perto de dois anos uma distinta magistrada do Ministério Público foi apanhada com 3,08 gramas por litro no seu hálito doce de anis escarchado, precisamente na rua de Cascais com o nome do mesmo escritor e notável político do liberalismo.

Alexandre Herculano já a pensar nestas situações emitiu um juízo que se mantém válido para estudantes de Direito, deputados, vereadores, governantes, mesmo os que ainda não expiraram num alcoolímetro: "Eu não me envergonho de corrigir meus erros e mudar as opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender". Gaspar e Coelho ainda não mudaram as suas opiniões catastróficas porque ainda não expiraram. E o povo português está ansioso por que expirem rápido, politicamente falando.

É claro que Glória, naquela aziaga noite de sexta-feira, não estaria provavelmente nas melhores condições para "raciocinar e aprender". Mas vai ter tempo para corrigir os seus erros se ela e alguém, para além dos polícias, reparar neles. E recordar o tempo em estava ao volante da Comissão Interparlamentar da Segurança Rodoviária.

Quem ainda não emborcou o primeiro copo de três, a decorar o Código da Estrada, que atire a primeira pedra.

Tentar dar bons exemplos cívicos aos jovens, como os que Glória dá no parlamento, na Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, pode esbarrar, com um pouco menos de sorte, numa barreira policial emboscada a caçar multas para encher os depauperados cofres do Estado.

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