Não são favas contadas, são favas semeadas!

26-10-2012
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"Faz-me favas com chouriço, o meu prato favorito", canta José Cid num dos seus êxitos sem idade. Se alguém lhe pedir o mesmo, talvez saiam ainda mais saborosas se vindas directamente do seu quintal. Nas zonas mais temperadas, Outubro e Novembro são meses de as lançar à terra. Rosa Isabel Guilherme

Alimento de grande importância desde a Antiguidade, a fava (Vicia faba L.) faz parte do conjunto de culturas hortícolas tradicionais que importa recuperar, em especial algumas variedades regionais. As suas sementes (secas ou imaturas) apresentam baixo teor calórico, são ricas em proteína vegetal, hidratos de carbono e sais minerais, sendo cultivadas para alimentação humana. As antigas civilizações do Egipto, da Grécia, de Roma e algumas do Médio Oriente já a apreciavam bastante. No início da Primavera, quando existe pouca diversidade nas hortas, a fava assume-se como elemento da dieta, proporcionando colheitas abundantes em troca de poucos cuidados.

E uma vez que não precisamos de esperar pela "mulher da fava-rica" para pôr mãos à obra, vamos então "à fava"...

A faveira

Planta herbácea, perfeitamente adaptada a climas mediterrâneos, a fava (L.) pertence à família das fabáceas e produz vagens grandes com sementes. Tem um sistema radicular aprumado e profundo, que estabelece uma relação de simbiose com a bactéria rizóbio, dando origem a pequenos nódulos que ajudam a fixar o azoto atmosférico. Trata-se, por isso, de uma planta melhoradora da fertilidade do solo. A planta adulta forma um ou vários caules de tamanho variável podendo atingir, conforme as variedades, até 1,50 m de altura. Tem flores brancas ou rosadas com mancha preta. Embora as sementes sejam mais utilizadas na alimentação, as vagens, colhidas numa fase jovem, também são muito apetitosas e apreciadas.

Quando e onde se cultiva?

A fava semeia-se no local definitivo em Outubro e Novembro nas zonas mais temperadas e em Fevereiro e Março nas zonas frias e montanhosas. De ciclo anual, desenvolve-se durante quatro a cinco meses e meio, no caso da sementeira na Primavera, e durante seis a sete meses, na sementeira no Outono. Apesar de ser considerada uma planta rústica, adaptando-se a vários tipos de solo, prefere solos com boa capacidade de retenção de água, ricos em matéria orgânica, profundos e frescos, de textura média a fina e com pH entre 5 e 8. Durante o desenvolvimento vegetativo a faveira suporta temperaturas baixas, sendo as flores sensíveis à geada.

A fava é cultivada um pouco por todo o país mas o Algarve é a região com maior tradição no cultivo desta planta, possuindo um elevado número de variedades em que a mais conhecida é a "algarvia", que apresenta vagens curtas e grãos achatados e pequenos. Na escolha da variedade deve ter em atenção a sua aptidão para consumo em fresco, uma vez que existe no mercado um elevado número de variedades com diferentes aptidões.

Como se cultiva?

Escolha um local abrigado do vento, faça a sementeira em terreno previamente cavado e estrumado. Antes de semear, trabalhe a terra com um ancinho, para que a camada superficial fique solta e fina. Após a escolha das melhores sementes (elimine as partidas e furadas), semeie as favas a uma profundidade de cerca de 7 cm, em linhas espaçadas entre si 30 a 40 cm e 25 a 30 cm entre as sementes na linha. Volte a passar o ancinho para cobrir as sementes. Para acelerar a germinação, pode demolhar as favas em água tépida durante 24h, antes de as semear.

Na fase inicial de crescimento das plantas, deve sachar as entrelinhas, regularmente, para impedir o aparecimento de plantas infestantes. Na floração e formação das vagens deve aplicar um adubo rico em fósforo e potássio. Esta cultura requer bastante humidade no solo, embora não em excesso, pois é sensível ao encharcamento. A falta de água é especialmente grave durante a floração e a formação das vagens, pelo que se o tempo estiver seco deve regar.

Dica: se tiver oportunidade, quando as plantas estiverem em plena floração, corte à mão as folhas mais jovens no topo de cada planta. Isto permitirá ajudar o crescimento das vagens em desenvolvimento e minimizar o ataque de pulgões.

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Quando colher as favas?

As vagens devem ser colhidas quando atingem cerca de 2/3 a ¾ do seu tamanho final, ou antes de a película da vagem começar a ficar enrugada, de forma a obter sementes tenras. A colheita de vagens pode prolongar-se durante quatro a cinco semanas, antes da planta começar a secar, mudando progressivamente da cor verde para o negro.

E depois de colher?

"Até vir a mulher da fava-rica" era a expressão apregoada nas ruas de Lisboa há alguns anos e que se referia à fava que, após seca, era cozida e refogada em azeite, alho e pimenta, constituindo um petisco muito apreciado. Uma outra variante, muito apreciada, são as chamadas "favas com chouriço". Aqui fica uma sugestão de confecção à moda da Beira: num tacho corte uma cebola grande, dois dentes de alho, uma folha de louro, azeite, piripiri e sal a gosto; adicione uma chouriça de carne pequena e outra de bofe cortadas aos pedacinhos; deixe refogar. Corte meio quilo de entrecosto em pequenas porções e acrescente à mistura anterior. De seguida, adicione meio litro de vinho tinto. Deixe ferver. Quando o entrecosto estiver cozido, junte dois quilos de favas em grão, colhidas no seu quintal, e deixe cozer. Sirva simples ou acompanhadas de batata ou de arroz branco. Bom apetite!

Rosa Isabel Guilherme é licenciada em engenharia agro-pecuária e da Associação Portuguesa de Horticultura

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"Faz-me favas com chouriço, o meu prato favorito", canta José Cid num dos seus êxitos sem idade. Se alguém lhe pedir o mesmo, talvez saiam ainda mais saborosas se vindas directamente do seu quintal. Nas zonas mais temperadas, Outubro e Novembro são meses de as lançar à terra. Rosa Isabel Guilherme

Alimento de grande importância desde a Antiguidade, a fava (Vicia faba L.) faz parte do conjunto de culturas hortícolas tradicionais que importa recuperar, em especial algumas variedades regionais. As suas sementes (secas ou imaturas) apresentam baixo teor calórico, são ricas em proteína vegetal, hidratos de carbono e sais minerais, sendo cultivadas para alimentação humana. As antigas civilizações do Egipto, da Grécia, de Roma e algumas do Médio Oriente já a apreciavam bastante. No início da Primavera, quando existe pouca diversidade nas hortas, a fava assume-se como elemento da dieta, proporcionando colheitas abundantes em troca de poucos cuidados.

E uma vez que não precisamos de esperar pela "mulher da fava-rica" para pôr mãos à obra, vamos então "à fava"...

A faveira

Planta herbácea, perfeitamente adaptada a climas mediterrâneos, a fava (L.) pertence à família das fabáceas e produz vagens grandes com sementes. Tem um sistema radicular aprumado e profundo, que estabelece uma relação de simbiose com a bactéria rizóbio, dando origem a pequenos nódulos que ajudam a fixar o azoto atmosférico. Trata-se, por isso, de uma planta melhoradora da fertilidade do solo. A planta adulta forma um ou vários caules de tamanho variável podendo atingir, conforme as variedades, até 1,50 m de altura. Tem flores brancas ou rosadas com mancha preta. Embora as sementes sejam mais utilizadas na alimentação, as vagens, colhidas numa fase jovem, também são muito apetitosas e apreciadas.

Quando e onde se cultiva?

A fava semeia-se no local definitivo em Outubro e Novembro nas zonas mais temperadas e em Fevereiro e Março nas zonas frias e montanhosas. De ciclo anual, desenvolve-se durante quatro a cinco meses e meio, no caso da sementeira na Primavera, e durante seis a sete meses, na sementeira no Outono. Apesar de ser considerada uma planta rústica, adaptando-se a vários tipos de solo, prefere solos com boa capacidade de retenção de água, ricos em matéria orgânica, profundos e frescos, de textura média a fina e com pH entre 5 e 8. Durante o desenvolvimento vegetativo a faveira suporta temperaturas baixas, sendo as flores sensíveis à geada.

A fava é cultivada um pouco por todo o país mas o Algarve é a região com maior tradição no cultivo desta planta, possuindo um elevado número de variedades em que a mais conhecida é a "algarvia", que apresenta vagens curtas e grãos achatados e pequenos. Na escolha da variedade deve ter em atenção a sua aptidão para consumo em fresco, uma vez que existe no mercado um elevado número de variedades com diferentes aptidões.

Como se cultiva?

Escolha um local abrigado do vento, faça a sementeira em terreno previamente cavado e estrumado. Antes de semear, trabalhe a terra com um ancinho, para que a camada superficial fique solta e fina. Após a escolha das melhores sementes (elimine as partidas e furadas), semeie as favas a uma profundidade de cerca de 7 cm, em linhas espaçadas entre si 30 a 40 cm e 25 a 30 cm entre as sementes na linha. Volte a passar o ancinho para cobrir as sementes. Para acelerar a germinação, pode demolhar as favas em água tépida durante 24h, antes de as semear.

Na fase inicial de crescimento das plantas, deve sachar as entrelinhas, regularmente, para impedir o aparecimento de plantas infestantes. Na floração e formação das vagens deve aplicar um adubo rico em fósforo e potássio. Esta cultura requer bastante humidade no solo, embora não em excesso, pois é sensível ao encharcamento. A falta de água é especialmente grave durante a floração e a formação das vagens, pelo que se o tempo estiver seco deve regar.

Dica: se tiver oportunidade, quando as plantas estiverem em plena floração, corte à mão as folhas mais jovens no topo de cada planta. Isto permitirá ajudar o crescimento das vagens em desenvolvimento e minimizar o ataque de pulgões.

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Quando colher as favas?

As vagens devem ser colhidas quando atingem cerca de 2/3 a ¾ do seu tamanho final, ou antes de a película da vagem começar a ficar enrugada, de forma a obter sementes tenras. A colheita de vagens pode prolongar-se durante quatro a cinco semanas, antes da planta começar a secar, mudando progressivamente da cor verde para o negro.

E depois de colher?

"Até vir a mulher da fava-rica" era a expressão apregoada nas ruas de Lisboa há alguns anos e que se referia à fava que, após seca, era cozida e refogada em azeite, alho e pimenta, constituindo um petisco muito apreciado. Uma outra variante, muito apreciada, são as chamadas "favas com chouriço". Aqui fica uma sugestão de confecção à moda da Beira: num tacho corte uma cebola grande, dois dentes de alho, uma folha de louro, azeite, piripiri e sal a gosto; adicione uma chouriça de carne pequena e outra de bofe cortadas aos pedacinhos; deixe refogar. Corte meio quilo de entrecosto em pequenas porções e acrescente à mistura anterior. De seguida, adicione meio litro de vinho tinto. Deixe ferver. Quando o entrecosto estiver cozido, junte dois quilos de favas em grão, colhidas no seu quintal, e deixe cozer. Sirva simples ou acompanhadas de batata ou de arroz branco. Bom apetite!

Rosa Isabel Guilherme é licenciada em engenharia agro-pecuária e da Associação Portuguesa de Horticultura

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