Passos substitui dois secretários de Estado e cria novo cargo nas Finanças

26-10-2012
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Gestor cultural substitui escritor na Cultura, ex-director da DREN assume Ensino Básico e vice-presidente do PSD será braço direito de Vítor Gaspar nas Finanças. Miniremodelação responde a "casos urgentes"

Duas substituições e mais uma secretaria de Estado nas Finanças. O Governo liderado por Pedro Passos Coelho foi ontem alvo da segunda remodelação em 16 meses de mandato. No seio da coligação, as mudanças foram justificados como "casos urgentes". Francisco José Viegas saiu da Cultura por razões de saúde, e é substituído por Jorge Barreto Xavier. Maria Luís Albuquerque passa a ser apenas secretária de Estado do Tesouro, com Manuel Luís Rodrigues a assumir a secretaria de Estado das Finanças. Isabel Silva Leite abandona, a seu pedido, a pasta do Ensino Básico e Secundário, que passa para João Dias Grancho.

Se na Cultura e Educação as substituições parecem ser apenas isso, nas Finanças a leitura política pode ser mais profunda. Manuel Luís Rodrigues, de 32 anos, é vice-presidente do PSD e deverá assumir a tutela das privatizações. Considerado da confiança pessoal absoluta de Passos Coelho, participou em duas negociações políticas importantes para o actual primeiro-ministro: a do Orçamento de Estado de 2011 durante o governo de minoria PS e a formação da coligação com o CDS. Será o braço direito de Vítor Gaspar, com experiência em fazer pontes com os dois partidos do arco de governação. Por outro lado, o PSD ganha maior peso nas Finanças, uma equipa com vários independentes e um secretário de Estado do CDS (Paulo Núncio).

O PS reagiu às alterações, criticando o momento, mesmo em cima do debate do Orçamento do Estado. O vice-presidente da bancada, José Junqueiro, viu nas mudanças "sinais que reforçam a imagem de instabilidade criada no Governo".

O gabinete de comunicação do Ministério da Educação e Ciência indicou ao PÚBLICO que a secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário sai "a seu pedido, por motivos pessoais". Isabel Leite, psicóloga e professora da Universidade de Évora, era praticamente uma desconhecida quando foi escolhida por Nuno Crato. Nas sessões públicas em que participou enquanto governante foi frequentemente eclipsada pelo secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, do CDS. Um dos últimos despachos de Isabel Leite provocou uma onda de protestos por determinar a alteração das regras dos exames do ensino secundário a meio do percurso dos alunos deste nível de educação. O ministério foi obrigado a recuar.

Para o seu lugar entra João Grancho, que presidia à Direcção Regional de Educação do Norte. Grancho tem um mestrado em Administração e Planificação da Educação, foi professor do ensino básico e presidiu à Associação Nacional de Professores, onde se bateu pela criação de uma ordem profissional, que permitiria a definição de "um quadro deontológico de actuação para os docentes".

Manuel Pereira, dirigente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, descreveu o novo secretário de Estado como "uma pessoa correcta, equilibrada, que conhece muitíssimo bem as escolas e a Educação", e ainda "excelente nas relações que estabelece com os interlocutores". Apontou como exemplo a forma "dialogante, com todas as partes," como Grancho conduziu o processo de agregações, enquanto director regional de educação do norte.

Já Mário Nogueira, líder da Federação Nacional de Professores, desvaloriza a mudança: "O problema não são as pessoas, mas sim as políticas. E João Grancho sabe ao que vai, numa altura em que está para aprovação um Orçamento de Estado que corta 700 milhões de euros à educação".

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Na cultura, o escritor e editor Francisco José Viegas foi substituído por um gestor cultural, Jorge Barreto Xavier. Viegas pediu a demissão na terça-feira, numa reunião com o primeiro-ministro onde repetiu a vontade de sair, por razões graves de saúde, que já expressava há meses. Para o cineasta Fernando Vendrell, "esta nomeação peca por tardia", pois considera Barreto Xavier "uma das pessoas mais capazes, entre os que são próximos de Passos Coelho, para tratar dos problemas da cultura". "De alguma forma", acrescenta, "tem uma capacidade de gestão, de organização e de eficácia totalmente distinta da demostrada até agora".

Rui Horta, fundador do centro de produção artística Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo, também considera ter sido uma "boa escolha". "É um conhecedor do terreno, das estruturas, das companhias, dos artistas. Fez um bom trabalho à frente da Direcção-Geral das Artes e está nisto há mais de 20 anos", disse o coreógrafo. O que Horta põe em causa é as condições que o futuro secretário de Estado terá à sua disposição, num quadro orçamental "ridículo".

A deputada do Bloco de Esquerda Catarina Martins, uma das vozes mais activas na oposição sempre que o assunto é Cultura, recusou comentar a escolha: "Neste momento não é uma questão de pessoas. Simplesmente não há espaço para a Cultura neste Governo. O orçamento é praticamente inexistente. Não interessa quem vem se tudo continua parado."com L.C, G.B.R, S.R., N.S.L. e S.A.

Gestor cultural substitui escritor na Cultura, ex-director da DREN assume Ensino Básico e vice-presidente do PSD será braço direito de Vítor Gaspar nas Finanças. Miniremodelação responde a "casos urgentes"

Duas substituições e mais uma secretaria de Estado nas Finanças. O Governo liderado por Pedro Passos Coelho foi ontem alvo da segunda remodelação em 16 meses de mandato. No seio da coligação, as mudanças foram justificados como "casos urgentes". Francisco José Viegas saiu da Cultura por razões de saúde, e é substituído por Jorge Barreto Xavier. Maria Luís Albuquerque passa a ser apenas secretária de Estado do Tesouro, com Manuel Luís Rodrigues a assumir a secretaria de Estado das Finanças. Isabel Silva Leite abandona, a seu pedido, a pasta do Ensino Básico e Secundário, que passa para João Dias Grancho.

Se na Cultura e Educação as substituições parecem ser apenas isso, nas Finanças a leitura política pode ser mais profunda. Manuel Luís Rodrigues, de 32 anos, é vice-presidente do PSD e deverá assumir a tutela das privatizações. Considerado da confiança pessoal absoluta de Passos Coelho, participou em duas negociações políticas importantes para o actual primeiro-ministro: a do Orçamento de Estado de 2011 durante o governo de minoria PS e a formação da coligação com o CDS. Será o braço direito de Vítor Gaspar, com experiência em fazer pontes com os dois partidos do arco de governação. Por outro lado, o PSD ganha maior peso nas Finanças, uma equipa com vários independentes e um secretário de Estado do CDS (Paulo Núncio).

O PS reagiu às alterações, criticando o momento, mesmo em cima do debate do Orçamento do Estado. O vice-presidente da bancada, José Junqueiro, viu nas mudanças "sinais que reforçam a imagem de instabilidade criada no Governo".

O gabinete de comunicação do Ministério da Educação e Ciência indicou ao PÚBLICO que a secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário sai "a seu pedido, por motivos pessoais". Isabel Leite, psicóloga e professora da Universidade de Évora, era praticamente uma desconhecida quando foi escolhida por Nuno Crato. Nas sessões públicas em que participou enquanto governante foi frequentemente eclipsada pelo secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, do CDS. Um dos últimos despachos de Isabel Leite provocou uma onda de protestos por determinar a alteração das regras dos exames do ensino secundário a meio do percurso dos alunos deste nível de educação. O ministério foi obrigado a recuar.

Para o seu lugar entra João Grancho, que presidia à Direcção Regional de Educação do Norte. Grancho tem um mestrado em Administração e Planificação da Educação, foi professor do ensino básico e presidiu à Associação Nacional de Professores, onde se bateu pela criação de uma ordem profissional, que permitiria a definição de "um quadro deontológico de actuação para os docentes".

Manuel Pereira, dirigente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, descreveu o novo secretário de Estado como "uma pessoa correcta, equilibrada, que conhece muitíssimo bem as escolas e a Educação", e ainda "excelente nas relações que estabelece com os interlocutores". Apontou como exemplo a forma "dialogante, com todas as partes," como Grancho conduziu o processo de agregações, enquanto director regional de educação do norte.

Já Mário Nogueira, líder da Federação Nacional de Professores, desvaloriza a mudança: "O problema não são as pessoas, mas sim as políticas. E João Grancho sabe ao que vai, numa altura em que está para aprovação um Orçamento de Estado que corta 700 milhões de euros à educação".

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Na cultura, o escritor e editor Francisco José Viegas foi substituído por um gestor cultural, Jorge Barreto Xavier. Viegas pediu a demissão na terça-feira, numa reunião com o primeiro-ministro onde repetiu a vontade de sair, por razões graves de saúde, que já expressava há meses. Para o cineasta Fernando Vendrell, "esta nomeação peca por tardia", pois considera Barreto Xavier "uma das pessoas mais capazes, entre os que são próximos de Passos Coelho, para tratar dos problemas da cultura". "De alguma forma", acrescenta, "tem uma capacidade de gestão, de organização e de eficácia totalmente distinta da demostrada até agora".

Rui Horta, fundador do centro de produção artística Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo, também considera ter sido uma "boa escolha". "É um conhecedor do terreno, das estruturas, das companhias, dos artistas. Fez um bom trabalho à frente da Direcção-Geral das Artes e está nisto há mais de 20 anos", disse o coreógrafo. O que Horta põe em causa é as condições que o futuro secretário de Estado terá à sua disposição, num quadro orçamental "ridículo".

A deputada do Bloco de Esquerda Catarina Martins, uma das vozes mais activas na oposição sempre que o assunto é Cultura, recusou comentar a escolha: "Neste momento não é uma questão de pessoas. Simplesmente não há espaço para a Cultura neste Governo. O orçamento é praticamente inexistente. Não interessa quem vem se tudo continua parado."com L.C, G.B.R, S.R., N.S.L. e S.A.

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