Notícias do manicómio, ao estilo inimitável de Vasco Pulido Valente

07-12-2014
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Na piolheira em que se arrasta este desconjuntado edifício que é Portugal, um escândalo só sobrevive na maledicência indígena se mobilizar a imaginação, o ódio ou o sexo. Imaginação, este caso não tem nenhuma: uns tostões surripiados pelo Zé das Medalhas para algures, um presente de um empresário que vai ao barbeiro de Mercedes, um banqueiro que se consolava com a ideia imaginária de poder e uma pandilha de governantes a girar à sua volta, exibindo a arrogância vácua de quem não tem mais nada na cabeça. Nada. De ódio, pouco, de sexo, menos que nada.

Este escândalo, que ferveu nos telejornais, já foi enterrado pela decisão do tribunal da Madeira sobre a atribuição do poder paternal no caso Daniel. Ou pelas derrotas do Benfica. Do escândalo nada sobrevive, nem merece. Não houve ajuntamentos conspirativos nas arcadas do Terreiro do Paço, entregue às fotos dos turistas, que a plebe prefere ser comboiada para os centros comerciais, onde não constam escândalos e de finanças não se sabe nada nem se quer saber.

Na verdade, este país abomina qualquer caso que incomode uma noite de domingo. Matreiros, os indígenas desconfiam que tudo isto é sempre uma frivolidade. Uma caleche ofertada a Costa Cabral, ao que consta de má qualidade, os ballets rose durante a ditadura sorumbática, agora a queda de uma dinastia de todos os regimes, cada época tem os escândalos que merece, mas a turba nunca se comoveu excessivamente com estas mundanidades. Bastou um comunicado lido tropegamente pelo governador, em prosa duvidosa e sintaxe sofrível, para acalmar a excitação das massas e todos voltarem para a cama.

É claro que, na política, como se isso interessasse aos provincianos deslumbrados que ainda votam, o insulto espanta, formam-se bandos como cogumelos, que a plebe manifestamente ignora senão desprezaria, pois que se dispersam com velocidade embasbacante. Entretanto, o país tem de sofrer pontualmente as orações de sapiência de Marco António Costa e Eurico Brilhante Dias, que fingem solenemente que estão a par da coisa. O Presidente, empertigado e sisudo, que costuma fazer de estátua ali para os lados dos Jerónimos, onde coze pacificamente a sua miséria à beira rio, lá partiu para o Algarve com o Jeep carregado de leis e de arrelias, a que vai dar despacho como manda o governo. O Tribunal Constitucional, na vã glória de dias passageiros e imerso na sua confusão de critérios, nem nota que o patego da rua, na sua espessa estupidez, não descortina o sonambulismo das leis e da respectiva mansa e mole jurisprudência. A classe média vive cretinizada pelos partidos, como a equipe de futebol que se arrasta vagarosamente à espera do apito final que nunca mais vem. Uns tristes deserdados lamuriam-se alegando terem críticas e soluções no seu refúgio em tudomenoseconomia. Não seria portanto de esperar outra coisa: exasperados com todas estas querelas, os indígenas fogem para a Costa, para a Figueira ou para Esposende. Um manicómio.

O escândalo, o escândalo insigne, é que feneceu a última esperança de uma boa vassourada, que era o FMI. Vieram céleres e foram embora mais depressa ainda, assustados por não conseguiram a defenestração da tropa fandanga que governa e sabendo que Portugal continua no seu sarilho de sempre. A choldra prossegue então alegremente, com mais um escândalo que o país suporta com a resignação e o menosprezo de sempre.

Por isso, sobrou a única atitude sensata, a do primeiro-ministro, que estava a banhos e a banhos ficou, deixando esta maçada entregue a Portas e a Albuquerque, que eram eles próprios os vértices do escândalo há um ano atrás, e aos correligionários europeus.

Medíocre e fugidio como todos os governantes sabidos, Coelho aprendeu nos idos das jotas que é sempre melhor fugir da confusão e que uma crise em Lisboa vale o tempo de um fósforo. Na verdade, o país inteiro anseia por imitá-lo e esquecer o caso. Tudo indigno, como de costume.

(Citações descaradamente avulsas a partir de inspiração literária liberalmente inspirada em VPV)

Na piolheira em que se arrasta este desconjuntado edifício que é Portugal, um escândalo só sobrevive na maledicência indígena se mobilizar a imaginação, o ódio ou o sexo. Imaginação, este caso não tem nenhuma: uns tostões surripiados pelo Zé das Medalhas para algures, um presente de um empresário que vai ao barbeiro de Mercedes, um banqueiro que se consolava com a ideia imaginária de poder e uma pandilha de governantes a girar à sua volta, exibindo a arrogância vácua de quem não tem mais nada na cabeça. Nada. De ódio, pouco, de sexo, menos que nada.

Este escândalo, que ferveu nos telejornais, já foi enterrado pela decisão do tribunal da Madeira sobre a atribuição do poder paternal no caso Daniel. Ou pelas derrotas do Benfica. Do escândalo nada sobrevive, nem merece. Não houve ajuntamentos conspirativos nas arcadas do Terreiro do Paço, entregue às fotos dos turistas, que a plebe prefere ser comboiada para os centros comerciais, onde não constam escândalos e de finanças não se sabe nada nem se quer saber.

Na verdade, este país abomina qualquer caso que incomode uma noite de domingo. Matreiros, os indígenas desconfiam que tudo isto é sempre uma frivolidade. Uma caleche ofertada a Costa Cabral, ao que consta de má qualidade, os ballets rose durante a ditadura sorumbática, agora a queda de uma dinastia de todos os regimes, cada época tem os escândalos que merece, mas a turba nunca se comoveu excessivamente com estas mundanidades. Bastou um comunicado lido tropegamente pelo governador, em prosa duvidosa e sintaxe sofrível, para acalmar a excitação das massas e todos voltarem para a cama.

É claro que, na política, como se isso interessasse aos provincianos deslumbrados que ainda votam, o insulto espanta, formam-se bandos como cogumelos, que a plebe manifestamente ignora senão desprezaria, pois que se dispersam com velocidade embasbacante. Entretanto, o país tem de sofrer pontualmente as orações de sapiência de Marco António Costa e Eurico Brilhante Dias, que fingem solenemente que estão a par da coisa. O Presidente, empertigado e sisudo, que costuma fazer de estátua ali para os lados dos Jerónimos, onde coze pacificamente a sua miséria à beira rio, lá partiu para o Algarve com o Jeep carregado de leis e de arrelias, a que vai dar despacho como manda o governo. O Tribunal Constitucional, na vã glória de dias passageiros e imerso na sua confusão de critérios, nem nota que o patego da rua, na sua espessa estupidez, não descortina o sonambulismo das leis e da respectiva mansa e mole jurisprudência. A classe média vive cretinizada pelos partidos, como a equipe de futebol que se arrasta vagarosamente à espera do apito final que nunca mais vem. Uns tristes deserdados lamuriam-se alegando terem críticas e soluções no seu refúgio em tudomenoseconomia. Não seria portanto de esperar outra coisa: exasperados com todas estas querelas, os indígenas fogem para a Costa, para a Figueira ou para Esposende. Um manicómio.

O escândalo, o escândalo insigne, é que feneceu a última esperança de uma boa vassourada, que era o FMI. Vieram céleres e foram embora mais depressa ainda, assustados por não conseguiram a defenestração da tropa fandanga que governa e sabendo que Portugal continua no seu sarilho de sempre. A choldra prossegue então alegremente, com mais um escândalo que o país suporta com a resignação e o menosprezo de sempre.

Por isso, sobrou a única atitude sensata, a do primeiro-ministro, que estava a banhos e a banhos ficou, deixando esta maçada entregue a Portas e a Albuquerque, que eram eles próprios os vértices do escândalo há um ano atrás, e aos correligionários europeus.

Medíocre e fugidio como todos os governantes sabidos, Coelho aprendeu nos idos das jotas que é sempre melhor fugir da confusão e que uma crise em Lisboa vale o tempo de um fósforo. Na verdade, o país inteiro anseia por imitá-lo e esquecer o caso. Tudo indigno, como de costume.

(Citações descaradamente avulsas a partir de inspiração literária liberalmente inspirada em VPV)

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