Última bandeira portuguesa de Timor está em Jacarta

09-07-2015
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A última bandeira portuguesa a ser arriada em Timor-Leste (em dezembro de 1975, já depois da invasão indonésia) está na posse do embaixador Francisco Lopes da Cruz, na sua residência em Jacarta. Estrénuo defensor da integração de Timor na Indonésia, foi dos que mais deram a cara contra a resistência timorense e o seu projeto de autodeterminação e independência. Sob a ocupação militar, foi embaixador itinerante do regime de Jacarta e conselheiro especial do Presidente Suharto, o ditador que governou a Indonésia durante 31 anos.

Na semana passada, o Expresso publicou uma reportagem sobre as últimas bandeiras do império, arriadas há 40 anos durante a descolonização. Dos seis estandartes em causa, só faltou a que estivera em Timor, mas que entretanto foi localizada. Foi arriada não em Díli, mas na ilha de Ataúro — “o último reduto do Governo português”—, como conta ao Expresso Lopes da Cruz, de 74 anos.

Em agosto de 1975 iniciou-se uma autêntica guerra civil, opondo a União Democrática Timorense (UDT) e a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin). A intensidade do conflito em Díli levou o último governador português, Lemos Pires, e toda a guarnição militar a retirarem-se para a ilha de Ataúro. Deixaram a capital a 26 de agosto, mas a bandeira permaneceu no topo do Palácio das Repartições.

A bandeira desaparecida

Objeto de uma intensa carga simbólica em Timor, a bandeira lá continuou, a lembrar que o território ainda estava sob administração portuguesa. Sentindo-se vencedora da guerra, a 28 de novembro a Fretilin proclamou unilateralmente a independência de Timor-Leste. Nesse dia a bandeira das quinas foi retirada do mastro do palácio de Díli e substituída pela de Timor-Leste.

Nem o ex-Presidente da República Ramos-Horta, nem Lopes da Cruz sabem quem arriou a bandeira verde-rubra, nem o destino que lhe foi dado. “Deve estar com os dirigentes da Fretilin, que foi quem proclamou a independência”, diz o embaixador.

Em Ataúro, porém, a bandeira lusa continuou a flutuar mais uns dias, resistindo à independência e aos primeiros dias da invasão militar pela Indonésia, desencadeada a 7 de dezembro.

Consumada a ocupação, foi finalmente retirada, em dia indeterminado, “com todas as honras militares prestadas por tropas indonésias e por um pelotão de tropas portuguesas-timorenses, creio que sob o comando do alferes David Ximenes”. Para o seu lugar subiu o estandarte indonésio. Guilherme de Sousa, delegado da UDT na ilha e professor primário, e o chefe de posto, Luís Amaral, pediram-na aos militares indonésios. Pedido satisfeito, foi levada para Díli “por uma delegação da UDT, de barcaça, escoltada por tropas indonésias”, e entregue a Lopes da Cruz, um dos dirigentes do partido, que a guardou.

Em 1982, quando trocou Díli por Jacarta, levou-a consigo. Perante as “pressões” para que a depositasse num museu ou no Arquivo Nacional, colocou a questão ao Presidente Suharto, de que passara a ser conselheiro especial. “Ele concordou que eu ficasse com ela como uma relíquia e ofereceu-me uma mala especial, com as insígnias do Palácio do Presidente da República da Indonésia.”

Conserva-a na casa de Jacarta. “Sendo uma relíquia, guardo-a religiosamente num quartinho especial”, junto à mala oferecida por Suharto sob a proteção de uma cruz de Cristo.

Com cerca de um metro de altura, o crucifixo foi adquirido em Fátima, quando visitou o santuário a 13 de maio de 1994. O embaixador timorense já tratou de tudo para voltar a Fátima em 2017, para o centenário das aparições, a ser presidido pelo Papa — “que se chama Francisco como eu...”

A última bandeira portuguesa a ser arriada em Timor-Leste (em dezembro de 1975, já depois da invasão indonésia) está na posse do embaixador Francisco Lopes da Cruz, na sua residência em Jacarta. Estrénuo defensor da integração de Timor na Indonésia, foi dos que mais deram a cara contra a resistência timorense e o seu projeto de autodeterminação e independência. Sob a ocupação militar, foi embaixador itinerante do regime de Jacarta e conselheiro especial do Presidente Suharto, o ditador que governou a Indonésia durante 31 anos.

Na semana passada, o Expresso publicou uma reportagem sobre as últimas bandeiras do império, arriadas há 40 anos durante a descolonização. Dos seis estandartes em causa, só faltou a que estivera em Timor, mas que entretanto foi localizada. Foi arriada não em Díli, mas na ilha de Ataúro — “o último reduto do Governo português”—, como conta ao Expresso Lopes da Cruz, de 74 anos.

Em agosto de 1975 iniciou-se uma autêntica guerra civil, opondo a União Democrática Timorense (UDT) e a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin). A intensidade do conflito em Díli levou o último governador português, Lemos Pires, e toda a guarnição militar a retirarem-se para a ilha de Ataúro. Deixaram a capital a 26 de agosto, mas a bandeira permaneceu no topo do Palácio das Repartições.

A bandeira desaparecida

Objeto de uma intensa carga simbólica em Timor, a bandeira lá continuou, a lembrar que o território ainda estava sob administração portuguesa. Sentindo-se vencedora da guerra, a 28 de novembro a Fretilin proclamou unilateralmente a independência de Timor-Leste. Nesse dia a bandeira das quinas foi retirada do mastro do palácio de Díli e substituída pela de Timor-Leste.

Nem o ex-Presidente da República Ramos-Horta, nem Lopes da Cruz sabem quem arriou a bandeira verde-rubra, nem o destino que lhe foi dado. “Deve estar com os dirigentes da Fretilin, que foi quem proclamou a independência”, diz o embaixador.

Em Ataúro, porém, a bandeira lusa continuou a flutuar mais uns dias, resistindo à independência e aos primeiros dias da invasão militar pela Indonésia, desencadeada a 7 de dezembro.

Consumada a ocupação, foi finalmente retirada, em dia indeterminado, “com todas as honras militares prestadas por tropas indonésias e por um pelotão de tropas portuguesas-timorenses, creio que sob o comando do alferes David Ximenes”. Para o seu lugar subiu o estandarte indonésio. Guilherme de Sousa, delegado da UDT na ilha e professor primário, e o chefe de posto, Luís Amaral, pediram-na aos militares indonésios. Pedido satisfeito, foi levada para Díli “por uma delegação da UDT, de barcaça, escoltada por tropas indonésias”, e entregue a Lopes da Cruz, um dos dirigentes do partido, que a guardou.

Em 1982, quando trocou Díli por Jacarta, levou-a consigo. Perante as “pressões” para que a depositasse num museu ou no Arquivo Nacional, colocou a questão ao Presidente Suharto, de que passara a ser conselheiro especial. “Ele concordou que eu ficasse com ela como uma relíquia e ofereceu-me uma mala especial, com as insígnias do Palácio do Presidente da República da Indonésia.”

Conserva-a na casa de Jacarta. “Sendo uma relíquia, guardo-a religiosamente num quartinho especial”, junto à mala oferecida por Suharto sob a proteção de uma cruz de Cristo.

Com cerca de um metro de altura, o crucifixo foi adquirido em Fátima, quando visitou o santuário a 13 de maio de 1994. O embaixador timorense já tratou de tudo para voltar a Fátima em 2017, para o centenário das aparições, a ser presidido pelo Papa — “que se chama Francisco como eu...”

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