Câmara Corporativa: O puro do Lomba

05-07-2011
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Repare-se que Pedro Lomba — hoje, no Público — fala em “dinastias”, que pressupõem um princípio e um fim, e não em gerações, que implicam continuidade. É um princípio sagrado para mim: a verdade nunca deve estragar uma boa história — e, por isso, seria de mau gosto questionar por que Soares, Cunhal, Sá Carneiro e Freitas do Amaral são arrumados na mesma prateleira; ou perguntar se a ausência de alusão a Sampaio, Guterres ou Jaime Gama, por exemplo, se deve à circunstância de serem considerados filhos bastardos, não merecendo, portanto, menção nestas ditosas linhagens; ou procurar no curriculum vitae de Durão Barroso os motivos por que este inaugura uma “dinastia”; ou ficar a matutar a que “dinastias” pertencem (ou pertenceram) personalidades marcantes que dedicaram a sua vida a servir a causa pública (de António Capucho a Marques Mendes, de Santana Lopes a Dias Loureiro, de Pacheco Pereira a Rui Rio, para não me alongar).A crónica de Pedro Lomba parece destinada a consumo interno do PSD. Mais um que levanta barricadas para impedir que o “jota” Passos Coelho se alce à São Caetano [«a última dinastia: os "chefes de partido", políticos puros formados nas jotas, nos gabinetes ministeriais, nas clientelas, no mercado dos lugares.»]. Em todo o caso, tem um efeito perverso: ao pôr em causa a existência de políticos profissionais, um resultado natural nas (e das) democracias maduras, Lomba acaba por pôr em causa a própria existência de partidos políticos, ou seja, da democracia. Conhece ele democracias sem partidos, desejo confidenciado por Eanes a Freitas do Amaral?Mas é de louvar que Lomba, nesta feroz crítica ao “regime”, não tenha problemas de ser levado na enxurrada — ele que andou pelos “gabinetes ministeriais” e fez parte da comissão política da candidatura de Cavaco. Não há muita gente que dê a vida em defesa dos seus ideais. Honra lhe seja feita.


Repare-se que Pedro Lomba — hoje, no Público — fala em “dinastias”, que pressupõem um princípio e um fim, e não em gerações, que implicam continuidade. É um princípio sagrado para mim: a verdade nunca deve estragar uma boa história — e, por isso, seria de mau gosto questionar por que Soares, Cunhal, Sá Carneiro e Freitas do Amaral são arrumados na mesma prateleira; ou perguntar se a ausência de alusão a Sampaio, Guterres ou Jaime Gama, por exemplo, se deve à circunstância de serem considerados filhos bastardos, não merecendo, portanto, menção nestas ditosas linhagens; ou procurar no curriculum vitae de Durão Barroso os motivos por que este inaugura uma “dinastia”; ou ficar a matutar a que “dinastias” pertencem (ou pertenceram) personalidades marcantes que dedicaram a sua vida a servir a causa pública (de António Capucho a Marques Mendes, de Santana Lopes a Dias Loureiro, de Pacheco Pereira a Rui Rio, para não me alongar).A crónica de Pedro Lomba parece destinada a consumo interno do PSD. Mais um que levanta barricadas para impedir que o “jota” Passos Coelho se alce à São Caetano [«a última dinastia: os "chefes de partido", políticos puros formados nas jotas, nos gabinetes ministeriais, nas clientelas, no mercado dos lugares.»]. Em todo o caso, tem um efeito perverso: ao pôr em causa a existência de políticos profissionais, um resultado natural nas (e das) democracias maduras, Lomba acaba por pôr em causa a própria existência de partidos políticos, ou seja, da democracia. Conhece ele democracias sem partidos, desejo confidenciado por Eanes a Freitas do Amaral?Mas é de louvar que Lomba, nesta feroz crítica ao “regime”, não tenha problemas de ser levado na enxurrada — ele que andou pelos “gabinetes ministeriais” e fez parte da comissão política da candidatura de Cavaco. Não há muita gente que dê a vida em defesa dos seus ideais. Honra lhe seja feita.

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